segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Perto dos 30, mas com preocupações adolescentes

- Cedo ou tarde vou ter que contar para a minha mãe que durmo com o meu namorado.
Melhor ela saber por mim do que pelas vizinhas.

- É... A filha virgem não existe mais..hehhee
Mas não se precipite em contar, deixe que as coisas aconteçam...


- Com certeza... Mas não dá para esperar muito. Vai ter que entender nas entrelinhas. Meu pai que é mais ciumento leva esses assuntos mais na boa...

- É... A vida adulta não é fácil, mas é prazerosa! hahahah

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Gota

No capítulo de hoje peço desculpas por não ser a Mulher-Maravilha, nem a mulher-Carinhosa, muito menos a Mulher-Perfeita.

Peço perdão por mostrar de menos, por querer de menos, por ser pouco. Peço desculpas, no capítulo de hoje, por não compreender por que você diz que me entende, mas ainda assim exige.

No capítulo de hoje, peço perdão por ser humana, por ser feita de lágrimas, carne e osso e pouco suor e sangue.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Diz que sim

Hoje eu te senti diminuido, cabisbaixo, frustrado. Quem sabe sua frustração seja porque não ficamos trancados num quarto por três dias. Pode ser que nem sempre eu queira ficar trancada três dias em um quarto, mesmo que a companhia seja a melhor de todas, mas não porque eu não te quero, mas porque eu tenho necessidade de ser a outra eu. Aquela que fica de pijama o dia todo, que lava a louça, que limpa a geladeira, que espia a novela, que dá piti por não encontrar o papel onde anotou o telefone, que cozinha mal, que tem medo do julgamento dos outros. Aquela de raiz. Que nunca muda e pode continuar submersa ali, aparecendo de vez em quando, sem precisar ser julgada como aspecto de falsidade. A essência oculta.
Talvez terei necessidade de ficar sozinha, de chorar sem ter que responder o motivo, de me perder em devaneios com o olhar distante sem saber (e sem ter que dizer) o porquê. Um dia, quem sabe, eu precise só de colo, de afago, de solidão. Sem que para isso eu precise te deixar. Nem que para isso eu precise te abandonar num outro quarto, chorar todas as minhas dores, dar risada sozinha, ler um livro, ouvir uma música bem alta. E daí voltar nova, pra você. Pode ser que eu não precise de sexo sempre, porque às vezes eu preciso de você dentro, mas de outra forma. Talvez eu seja louca e é bem provável que continue sendo por um bom tempo. Talvez até pra sempre. Você vai continuar me amando mesmo assim?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O silêncio

boca, olhos, ouvido
gestos, falhas, sentidos
o infinito que dura
até o gemido, o descanso.
o silêncio que fica depois,

que se arrasta pelos pêlos
até os fios do cabelo.
eu muda, não é falta
de palavras, é imensidão de
pensamentos

terça-feira, 2 de novembro de 2010

No infinito de nós dois

É falar de você, o tempo todo. Encontrar em tudo que eu vivo e em tudo onde vive você, alimentado na minha saudade, um jeito de a gente estar perto. Sem a sua presença, sólida aqui, eu me perco em pensamentos, para que um deles viaje no destino certo e lhe traga. Rezo baixinho, a minha prece com ardor, para que isso logo se acabe.
Eu tento fugir da manhã cinza, nublada e triste, porque ela não nos traduz. O dia gelado e sem cor é como um coração frio e amargo ou como um café que alguém esqueceu de tomar e ficou sobre o balcão. O que eu quero é o aconchego, é o ninho, é a vontade de viver devagarinho, porque de mãos dadas a gente caminha a contemplar e não a cumprir um destino.
É preciso um bocado de saudade, mas não esse carregamento de falta, que vem quase a me matar. Eu nem mais sei quem sou, se sou eu mesma ou o que restou depois que a sua presença me arrebatou. O seu eu te amo não exprime escolha, mas sentença: é você. E embebida no teu colo, não tenho como negar. Sim, sou eu, sou qualquer coisa, seria capaz de me transformar em breu ou em luz, no que te apetece. Sou tijolo, pedra, areia ou vidro, sou água, cimento e cal, é em mim que você pode construir seu lar.
Mas um dia, um dia bem de repente, acordei sem pensar em sou. Penso em somos, seremos, faremos, fugiremos, casaremos, nos amaremos. Sairemos rumo ao último porto, embarcaremos no último barco, trairemos qualquer voz que diga: não vai dar certo. Daremos. A volta, por cima, por baixo. Escaparemos pela brecha, entenderemos o viés do amor como sentimento puro e possível. Essencial.
Seu lugar é aqui dentro. Quando você vai arrendar esse corpo que te pertence e quando o seu corpo meu e o meu corpo seu poderão se unir aliviados pelo fim da procura? Encontrei minha terra, meu chão, meu lar. Anseio agora por viver nele sem hora e dia de acabar.

Eu te amo.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Raso, bem raso

Outra primavera se iniciava, mas não haviam muitas flores daquele lado do rio. Deitada no trapiche ela observava a sombra das árvores, que descansavam sobre a água. O céu lembrava aquele quadro que um dia viu num livro de artes, cujo pintor tinha um nome muito estranho para memorizar. Apenas conseguiu lembrar que o nome do quadro tinha a ver com doce, baunilha, talvez... Gostava de ficar assim, como se fizesse parte de um desenho, daquela paisagem pintada numa tela. Estagnada na moldura, conseguia viajar horizonte afora. No walkman tocava uma música antiga, vinda de um fita cassete roubada da mãe. Com letras escritas à mão em tinta azul já meio apagadas, lia-se: Novos Baianos. Tinha parado num trecho de uma das músicas: “vou mostrando como sou e vou sendo como posso”, dizia a canção. Ficou inquieta, porque o professor de filosofia tinha tocado num assunto parecido com o que a letra dizia, em alguma aula passada. Fez um esforço pra puxar lá do fundo o que ele teria dito. Não era boa com o exercício de sistematizar as ideias, ao contrário, elas orbitavam, desenfreadas. De repente viu um joão-de-barro dar um voo rasante, parecia que ia mergulhar, mas num instante foi para longe. Se consciência tivesse, o joão-de-barro saberia que é uma espécie de pássaro que constrói uma vez por ano um ninho com barro úmido e pequeninos gravetos e folhagens. Lá cria seus filhotes, que depois despencam para o mundo. Recordou que o professor tinha falado em consciência, de que éramos os únicos no planeta com a capacidade de planejar e, a partir do nosso esforço, conceber. E de que “o meio nos mudava, assim como nós mudávamos as coisas a nossa volta”. Talvez era isso que a música quisesse dizer, um punhado de coisas fez com nos transformássemos no que somos hoje, e a cada dia vamos sendo, prédio e construtor - ao mesmo tempo. Suspirou. Era muito difícil entender toda aquela explicação de existência, deu play: “jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos, e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto...”

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Exercitando a cópia (de estilo)

Quem das nobres moçoilas nunca ficou a esperar o amado com um doce esfriando no fogão? A mistura açucarada com gotas de paixão, traduz a esperança de conquistar o mancebo e arrastá-lo consigo na árdua tarefa da sobrevivência.

Ingênua, a moçoila pensa que a vida a dois significa a entrada no paraíso da felicidade, do domingo no parque, da quarta no cinema, dos pés se enroscando debaixo das cobertas.

Desaventurada, não imagina que a paixão enquanto expectativa de momentos felizes, pode significar o seu inferno astral, a sua entrada à sala da angústia e da ânsia, onde o ingresso é o estado de espírito em que se encontra o ser atormentado por incerteza e receio.

Às negas apaixonadas, pobres coitadas, atormentadas pelo ser ou não ser, uma ode à desgraça. Estas perderão a vez, o banco, e o esforço pelo doce cozido. Estas deixarão espaço à caça desenfreada. Corações estão na moda, várias cores e padrões [1].

Queria habitar terra de tufões

Uma palavra é quanto basta
Outubro 13, 2010 por Fundação José Saramago

Quantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, deslocamo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, insignificâncias, que para mais não lhes chegam as forças, bem melhor seria vivermos em terra de tufões. Outras vezes uma palavra é quanto basta.

In A Jangada de Pedra, Ed. Caminho, 1986, p. 83
(Selecção de Diego Mesa)

Outros Cadernos de Saramago

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Casa vazia

O telefone tocou já era madrugada. A notícia não foi novidade, um dia antes a mãe avisou “fique preparada”. Eu recebi o recado e voltei a dormir profundamente. Na manhã seguinte o despertador tocou às seis, estava ansiosa por partir. Fiz o rito matinal, escolhi uma música, não pela letra, pelo título: duerme, negrita.

Ela não era negra, tinha pele clara. Ela não era avó, era nona. Era católica e gostava de ler revistas. Ela que ensinou os mais variados jogos de cartas, porque nas noites de férias era o passatempo, nosso e dela. Nos levava passear pelas estradas de chão e ensinava a arrancar uns galhos dos arbustos à beira do caminho para nos proteger do sol. Na escola meus amigos ficavam abismados quando eu contava que na casa dela não tinha televisão, apenas um rádio muito antigo.

Ao chegar, meu tio pediu pra que escrevesse uma mensagem pra pôr na única emissora de rádio da cidade, assim ficava mais fácil avisar amigos e parentes. Nessa hora lembrei do aparelho velho e da velha casa rosa. Enquanto dirigia ao encontro da família, lembrei de como eram nossas despedidas depois de passar o final de semana em sua companhia. “Quando vocês vêm de novo?”, perguntava ela antes mesmo de dar o beijo e o abraço. Ao avistar essa cena bateu o aperto no peito que ainda não tinha vindo. O aperto veio por resumir a história na palavra saudade. Aquela que tantas vezes a Nona sentiu, e a que agora nós sentiríamos.

Depois da cerimônia a noite foi de pura nostalgia, uma reunião com os primos e muitas histórias pra relembrar. Na manhã seguinte a família se encontraria lá na casa pra resolver assuntos de protocolo e decidir como as coisas ficariam. As filhas começaram a remexer gavetas, armários e cantos da casa. Tinham a dolorosa tarefa de reunir o que um dia foi da mãe, e agora guardariam os objetos de valor simbólico, pois a casa já não abrigaria ninguém.

De longe observava os movimentos. Aos poucos os filhos foram saindo, levando as lembranças e um pouco da tristeza dividida entre os que ficam. Depois de tudo, o mais ruim foi mirar a casa vazia, após décadas habitada.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Parola

Assisti a um filme em que uma mulher procurava sua palavra. Fiquei pensando na minha. Minha conclusão me satisfez a certo ponto, pelo fim da procura. Mas era triste. A palavra era feia.


Essa história de palavra começou com uma amiga. Falávamos de sentimentos comuns, da eterna insatisfação com o mundo, a vida. Ela resumiu em uma palavra, a sua palavra: angústia. Fiquei procurando a minha. Pensei em apatia, mas não me considero uma pessoa apática, já trouxe cor. Vasculhei minhas entranhas que apontaram: insatisfação. Não, era óbvio demais.
Encontrei minha palavra ontem. Anestesia. É essa a sensação que tenho. Que tudo o que procuro, que os mundos e fundos que movo são apenas para anestesiar. Para aplacar uma dor, que não é, vá lá, uma grande dor, mas é uma coisa que cutuca, aquela dorzinha chata como quando a gente corta o dedo com folha de papel. Arde. Incomoda.
Meus caminhos trilhados me anestesiam, me fazem continuar em pé, mas não curam. (Talvez por isso a sensação de que nunca estou por completo, de que não me entrego, de que não sou eu aquela que sorri na foto, é a anestesia). A dor continua lá, só não se sente.
Hoje decidi abandonar a palavra. Pouco tempo de convivência depois do (in)feliz encontro, eu sei. Mas, como disse, a palavra é feia demais pra mim. Quero a luz do sol, não a luz gelada de hospitais. Quero tremor, risada gostosa, vento na cara, cãibra, cair e levantar, choro compulsivo - se preciso for - quero queimar a cidade e reerguê-la. Basta de xilocaína. É pouco demais pra mim.

Lígia, ausente.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Síndrome de novela mexicana

Se você sofre da dor do parto antes mesmo de partir; chora pelo defunto antes dele chegar; dá o fora em si mesma sem nem sequer ter dado uma piscadela para o pretê; despeja, antes de tudo, todos os defeitos para depois falar de suas tremendas qualidades, se achando a pior pessoa do mundo, creio, querida amiga, que o diagnóstico para isso seja a síndrome de novela mexicana. Porque drama é tudo na vida de quem sofre do mal, e o melhor conselho/remédio é receber um belo "você tem que se foder!".

Sim, cara amiga, aquele velho ditado de fim de noite em mesa de boteco que diz que é cagando que se aduba a vida, certamente cabe a estas raparigas. Pois para tudo, que não a morte, dá-se um jeito nessa vida. Geralmente as mulheres que sofrem dessa síndrome tem o subjetivo aguçado, são primorosas cineastas, rodando seus rolos de filmes na cabeça inescrupulosamente explorada, que trabalha muito mais do que as oito horas diárias estabelecidas na CLT.

Para essas marias do bairro, mecedez´s e soraias, nossa súplica: redução da jornada de trabalho já!! A mente precisa relaxar...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Comum

- Sou comum.
- Comum? Como?
- Ah, tipo domingo em família; sábado com filme; feijão com arroz; sofá com tv...
- Humm, bom... hã, então eu já vou indo, prefiro a sexta com amigos.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Agosto

Gosto do gosto da boca
Da manhã de saliva com
Gosto de pressa
Da pressa à demora
Na espera do gosto da boca
Da noite encurtada pelo prazer,
do gosto dos corpos

Gosto do frio no início,
E do gosto do suor morno que a brisa leva
Gosto do gosto de gostar
De um acordar leve
De ver na boca o sorriso
Uma manhã
Um gosto de agosto
Que vai acabando

O gosto não sabe se fica
A gosto do tempo que vem
Do mês ficam-se os dias
Na espera da boca
Com gosto de além

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Do ridículo

Que bunda gostosa, ele dizia, e escorregava a mão por dentro da calça apertada. De repente, parou numa curva, um pouco abaixo da cintura. O que é isso? - perguntou. Estria!! - respondeu ela com a pele ruborizada. Não, parece que você tomou uma injeção. Em segundos, a mulher passou do rubro do espanto ao vermelho da vergonha e lembrou: Ah! Foi meu anticoncepcional... - e disfarçou com uma gargalhada. O homem riu ainda mais. Tinha que ver a tua cara de horror na hora em que falei. Pois é, e eu que pensei ser tão moderninha, não ligar pra essas tolices... Acho que, no limite, estria e celulite estão na mesma escala que a idade, quanto mais se tem, mais se quer esconder.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Síndrome da depressão instantânea

- O que você tem?
- Como assim? Nada, uai!
- Então porque tá com essa cara, tá brava comigo?
- Brava com você? Não!! Com que cara eu tô?
- Essa cara de poucos amigos, tá cansada?
- É... tô cansada, só... às vezes eu fico assim.
- Assim como?
- Acometida de nada.

Lola.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Descoberta

Descobri hoje: Herdando Uma Biblioteca - é... sou um pouco atrasadinha.

Lola.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Lutar é preciso, necessário, possível

Já não temos mais uma sequência nas postagens. Quando o blog começou, cada semana era a vez de uma postar um texto. Hoje, venho aqui pra reproduzir um texto que a deputada comunista Manuela D´Avila publicou em seu blog, Bola de Meia, Bola de Gude... Ele expressa a necessidade da gente não desistir, de lutar e de acreditar, acima de tudo, que - sim - podemos mudar alguma coisa. E se você não participa de nenhuma organização, partido, movimento social, ainda assim pode fazer uma boa escolha nessas eleições. Esses dias me pediram porque eu defendia e pedia voto pra determinado candidato, "por que ele é honesto?", indagaram. "Não", respondi. Não basta ser honesto, nesses tempos ser honesto é uma condição sem a qual não podemos viver, deve ser inerente, ou pelo menos deveria ser. Por isso, não aceito escutar o argumento de certos candidatos que, ao pedir voto, ressaltam que acima de tudo são honestos. Não, isso não basta! O meu candidato precisa saber que essa sociedade é excludente, que é injusta, que não permite que nós, enquanto humanos, nos humanizemos. Meu candidato precisa ter a convicção de que é indispensável se investir em políticas sociais, distribuir renda, e, principalmente, de que é necessário mudar radicalmente. A honestidade é indispensável, mas não é argumento.
Lola.

Felicidade

Há doze anos milito no PCdoB. há doze anos me organizei num partido por ter a certeza de que apenas lutando poderiamos mudar a vida da população para melhor.
Sempre me perguntam: porque lutas? Luto pela felicidade das pessoas, respondo. Felicidade? Isso é filosófico?!? Não, respondo. A felicidade subjetiva é sim matéria filosófica. A quem e como amamos, que férias queremos, que valores temos. Isso é felicidade subjetiva.
Mas existe uma felicidade que é objetiva. O acesso a saúde, a educação, a moradia digna, por exemplo. Será que é possível ser feliz com um filho doente? Não, não é. Mas é mais feliz aquele que tem condições de hospitalizar o filho, em relação ao pai que vê o seu morrer sem atendimento.
Dito isto, gostaria de compartilhar com vocês uma iniciativa de meu mandato em conjunto com o Senador Cristovam buarque. Nós apresentamos a chamada "PEC da felicidade". Que inclui na constituição, em seu artigo sexto, a expressão "busca da felicidade". O que queremos dizer? Que os direitos fundamentais (educação, saúde, moradia) são essenciais na busca da felicidade dos cidadãos brasileiros.
Como diz o Professor Cristovam: queremos deixar a constituição viva, quente e compreensível. Queremos que a população entenda seus direitos. Queremos debater as responsabilidades do estado (o mesmo estado que cobra impostos) sobre as infelicidades dos cidadãos pelo não cumprimento do que a constituição garante.
Pensem. Opinem. Ser feliz é difícil. Mas se não temos casa, educação, saúde é praticamente impossível.

Por Manuela D´Avila

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Ágora

Na quinta-feira tem debate. Um ano tão estranho para mim. Não consigo ver o que fiz com a minha vida de janeiro até agora, entretanto, já estamos a três meses das eleições. Na quinta os candidatos irão se enfrentar.

Eu não entendo muito de política. Juro que tento, mas não consigo decorar nem os nomes dos autores que estudei na faculdade, quem dirá conhecer cada sigla, qual político era de uma e foi para outra, quem fez aquilo e era de tal partido... É uma vergonha admitir.

Mas, parei para pensar e percebi que apenas dois governantes estiveram à frente do país desde que comecei a entender um pouco sobre política. Em 16 anos o Brasil só trocou de presidente duas vezes. Ou seja, desde que eu tenho 10 anos, foram 8 de governo FHC e 8 de governo Lula. De classe média baixa, o que mais percebo nos dois governos é que para a minha família pouco mudou.

Dos que vieram antes, Itamar Franco é o que eu me lembro melhor. Lembro de quando enfrentei uma fila enorme para trocar os cruzeiros por reais e saí com apenas algumas moedas do banco... Do Collor eu lembro vagamente quando votamos pelo impeachment na sala de aula. Quando nasci, Trancredo Neves era presidente e nos primeiros anos de infância foi Sarney quem ditou as regras. Mas estes dois me parecem tão distantes. Fico muito mais à vontade com Jânio Quadros e suas frases, às vezes prontas, mas quase sempre criativas.

Na última eleição virei fã dos debates. Talvez tenha sido a primeira pela qual eu realmente me interessei. Mas não consigo encontrar nenhuma maneira isenta de analisar as propostas de cada candidato. Estava vendo um programa no qual os apresentadores discutiam se o debate é ou não livre do marketing político. Claro que não! Certamente o candidato está mais exposto, porém, acho que quem debate melhor nem sempre é quem irá governar melhor...

Estou ansiosa por quinta à noite, para ver os candidatos na ágora. Não sei em quem votar. Para ser sincera, nenhuma opção me parece correta...

Sem escolha

Convivo com quatro pequenas criaturas que, sendo pequenas, cabem na palma da minha mão. Entretanto, não ficam ali, mas ocupam-se em rondar minha cabeça, todo dia, o tempo todo. Elas têm asas e o bater de suas asas torna-se um irritante zumbido nos meus ouvidos. Vez ou outra suas vozes soam como harpas, orgulho-me em tê-las por perto, mas, quase sempre, essas pequenas criaturas ficam a girar em volta de minha cabeça e, como se não bastasse deixar-me zonza, colocam seus dedos em riste.
É seu prazer particular. Estando próximas a mim, a presença das pequenas criaturas traz à tona a minha culpa, minha tão grande culpa. Elas me culpam por eu não ser tão pequenas como elas, por não ser da forma que elas são. Culpam-me pelas minhas escolhas, que, sob suas pequenas visões, estão sempre incorretas. Se compro algo rosa, deveria ser azul. Se vou por um caminho, deveria ter escolhido outro. Se alguém me bate de graça, a culpa é minha, obviamente, já que dei motivo (qualquer motivo). Não é à toa que nunca consegui acertar um presente, não é à toa que nunca consegui ir para lugar algum.
Já desejei fortemente ser como elas. Desejo impossível, diria-me o gênio. Não é possível nascer de novo. Já me tornei deste tamanho. E as pequenas criaturas voltam a me culpar.
Quis não existir mais. Sem mim, elas encontrariam outra criatura para atazanar, para descarregar suas frustrações de pequenos seres. A mim, basta. E outra, dos mortos, carregamos apenas boas lembranças, elas não poderiam mais me culpar.
Trago agora a vontade de envolver-me num invólucro, com paredes maciças e sem fresta alguma que for, sem pedaço transparente. Sem minha imagem, sem meus deslizes, elas não poderiam me alcançar e esqueceriam que eu, um dia, as trouxe algum mal. Desisti da ideia, por saber que sentirei falta, por saber que estamos condenadas, eu a elas, elas a mim.

domingo, 1 de agosto de 2010

Maniqueísmo

Hoje tive uma dor grande, uma mágoa profunda, uma nódoa no peito. Tive saudade do doce feito de casca de laranja que eu comia na casa de uma amiga. Saudade de brincar na casa da minha vó, mesmo sozinha. Saudade de estar no colégio, onde a única certeza do próximo ano era estudar na série seguinte.
Não havia, como existe agora, essa incompreensão. Essa dúvida, essa falta de certeza. Sabia-se pouco, mas o pouco era tão suficiente. As pessoas eram boas ou tinham batido em você na escola, só isso. As pessoas eram boas ou eram loucos presos na televisão. O mal estava longe e o bem, bem... O bem era acordar toda manhã e saber o caminho a se seguir.

Lígia

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Maneira mais feliz de viver

Eu tenho medo, esse medo incontido, esse medo fudido de te perder, mas também, como não ter? Se é só olhar para você e me deparar com essa beleza linda que é te ter?


Da série: músicas que grudam na cabeça...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Incoerência de gênero*

No intervalo do trabalho, com alguns amigos na roda do cafezinho, conversávamos sobre a festa a qual fomos juntos no último sábado. O tema principal de todos os comentários: mulheres.
- Oh, e você viu aquela loirinha, deliciosa, não era?
- Sim, que peitinhos, hein! Acho q andava sem sutiã.
- Nossa, e a moreninha com quem dancei, que cinturinha!
- Cinturinha que nada, ela tinha era uma bunda gostosa.
- Tu não percebeu como o vestido dela marcava?
- Tenho certeza que a safada andava sem calcinha.
- Na cama deve dar gostoso pra caralho.
Comentários vão e vem, insistiram para eu expor os meus:
- E você? A gente viu você conversando com aquela gatinha no balcão, o que rolou? Ficou com a mina?
- Sim ficamos. Ficamos conversando sobre músicas, filmes, livros, etc. Ah, e dançamos também.
- E aí, e aí, pegou na cinturinha, sentiu se era gostosa?
- Gostosa demais, realmente muito gostosa para dançar, curti muito.
- Ah! Qual é? Entrega o jogo... a gente viu que você saiu com ela mais cedo. Comeu, né? Conta, levou ela pro motel ou foi no carro mesmo?
- Comi, sim!. Mas foi na pizzaria, ela não tinha fome, só tomou um refri.
- Poxa cara, pelo menos ao deixa-la em casa, imagino que uns beijinhos você deu, né?
- Ah, claro! Na despedida lhe dei um beijão, no rosto, e combinamos de sair outro dia.
- Porra meu, tu é um frouxo mesmo, que classe de homem tu é, hein...

* Uma postagem à cubana: por minha total responsabilidade posto esse texto e faço dois destaques - essa é a primeira vez que uma pessoa, que não as três mulheres, escreve neste blog. Com mais entusiasmo ainda, tenho que destacar que esse texto foi escrito por um homem, de marte, talvez... Ele me mandou esse texto por e-mail. Disse que tinha escrito algo e que iria me enviar. Ele mora em outro país, onde um povo aguerrido mostrou que outro mundo pode ser possível. Ele se prepara pra voltar, em breve. Eu ainda não sei defini-lo bem, mas ele é das melhores pessoas que já conheci. Eu não sei como será na sua volta, mas a única esperança que guardo comigo é de que eu possa continuar fazendo parte, de alguma forma, da sua vida. Ele ainda não sabe que eu postei esse texto aqui, mas acho que vai perdoar a minha ousadia.

Lola, com saudade.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Minhas páginas da vida...

Olhai os lírios do campo, que o apanhador no campo de centeio está em busca do tempo perdido. O grande sertão Veredas acaba na montanha mágica. O processo deixou o homem sem qualidades, o primo Basílio, Dom Casmurro - os miseráveis. Em 1984, a divina comédia mostrou guerra e paz, crime e castigo. As viagens de Gulliver, acabaram-se em cem anos de solidão, não encontrou Otelo, Hamlet nem Madame Bovary. Numa noite Fernão Capelo Gaivota se perdeu e o vento levou... Pergunte ao pó o significado dos sonhos das Valquírias...
Admirável mundo novo que descobri em mil e uma noites de uma história sem fim.

Lily Braun, em títulos emendados por pensamentos desconexos

domingo, 11 de julho de 2010

Do falar de si

Nasci numa cidade aonde haviam, invariavelmente, para as minhas condições, duas escolhas: ficar lá, casar, ter filhos, ou, ir embora. Fui embora. Fomos embora. Meu pai foi o protagonista da revolução de nossas vidas, e, ainda hoje, me pergunto o motivo que o levou a tomar tal decisão. Tenho certeza de que muito foi por nossa causa, minha e de minhas irmãs, mas acredito que ele também tinha consigo algo que lhe afugentava de lá.
Filho de pais humildes e agricultores, optou por não continuar na roça, que era seu destino inicial. Único dos onze irmãos que terminou o terceiro grau. Minha avó dizia que ele, enquanto os irmãos iam à labuta do sol e enxada, se escondia em cima de uma árvore e ficava lendo livros que conseguia na única escola. Tornou-se funcionário público. Quando pequena, eu achava uma graça nas suas conversas, falava com a gente usando as normas de gênero e número, e eu perguntava por qual motivo o pai falava tão certo conosco. Ele ria. Uma vez, a mulher que cuidava de mim e minha irmã, nas horas que o pai e a mãe trabalhavam, disse que tínhamos um pai de ouro. “Nunca conheci um pai tão carinhoso com as filhas”. Lembro de sentir orgulho, mas naquela idade não tinha noção do tamanho disso.
Daquela cidade tenho as melhores lembranças. Da infância loucamente feliz, com férias na avó, bicicleta, bola, esconde-esconde, rua até a mãe chamar pra dormir, joelhos esfolados, primos comparsas, amigos inseparáveis, pé de laranja, nogueiras gigantes, florestas onde se escondiam os maiores perigos imaginados por crianças traquineiras. Da adolescência com uma trupe de amigos que se conheciam desde a pré-escola. Festas com lingüiça e refrigerante, antes das descobertas alcoólicas. Primeiros beijos e abraços quentes. Paixões escondidas, carnavais até amanhecer.
Fomos embora. Paramos numa cidade que, embora muito pouco cosmopolita, me trouxe convivências que formaram grande parte do que sou. Lá, como na cidade natal, acho que vivi tudo no tempo certo, embora com alguns atrasados para certas coisas. Veio a faculdade, movimentos, identificação com grupos, músicas, novos amigos misturados com os velhos. Mas tinha algo que me mandava embora de lá, talvez nessa época entendi um pouco do que o pai sentia. Ao mesmo tempo que queria sair, tinha medo de deixar, medo da ausência, e até mesmo medo de não sentir falta. Hoje pouca falta eu sinto, e isso me dá frio na barriga. Tenho nostalgia dos tempos que lá vivi, dos amigos que ficaram longe. Mas grande parte deles também deixou-se ir e não mais estão. Isso me conforta um pouco, porém com tristeza quando vejo que a vida vai passando e nos levando cada vez mais longe uns dos outros.
A cidade que habito não tem cara, ou eu ainda não a vejo. Herdo a cultura do paranaense de não ter uma identidade. Talvez por isso seja tão fácil deixar os lugares e procurar outras estradas. Estou no caminho para descobrir em que encruzilhada virar. Tenho problemas que, senão resolvê-los, virão escondidos na minha mala. Por isso, agora não estou com pressa de sair. Para chegar mais forte no outro lugar que me espera, tenho que habitar aqui. Sei que nunca estarei completamente preparada, mas tenho tentado aprender no caminho, do ficar e do partir.

L.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Vai, vai, vai, vai...

Amar
Vai, vai, vai, vai...
Sofrer
Vai, vai, vai, vai...
Chorar
Vai, vai, vai, vai...
VIVER



Ontem eu teria medo.
Ontem eu diria tudo o que segura,
que interrompe,
que abafa a vontade de você.
Ontem eu me esconderia,
pra que você não visse minha face rosada, pois
quando te lembro, ela fica como se estivesse sobre o sol.
Não te deixaria descobrir esse detalhe que me entrega.
Ontem eu pensei em te deixar,
te largar no mar de pensamentos esquecidos.
Ontem Frida Kahlo completaria mais de cem anos.
Se viva estivesse, Diego ao seu lado?
Ontem eu pensei em te amar pra sempre,
mas o sempre não existe.
Mas, essa quarta-feira sem graça,
como semana após semana são esses dias sem graça...
Quarta eu te amaria, até esgotar o tanto de amor
que meu peito reserva, curte, espera pra doar.
Eu tenho um tanto de amor,
e ele tá guardado pra você,
doido pra te entregar, dado, pra você...
Quarta, quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, Quarta...

Lola.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A metamorfose frustrada (replay para o Espaço Aberto)

“Assim como Brad Pitt está com Angelina Jolie, nenhum príncipe há de querer uma plebeia”, pensou. E então, como disse o personagem de uma peça que assistiu, aceitou se esconder da chuva no galinheiro, mesmo sabendo que se andasse um pouco mais poderia encontrar um palácio de cristal. Eles se divertiam quando estavam juntos e nada mais. Nem bom de cama ele era. Ainda assim, ele não ligava, a fazia sofrer.

Anastácia - tinha nome de princesa e nada mais. Não tinha modos delicados, exagerados até. Seu riso não era doce, era natural. Suas unhas nem sempre estavam bem feitas e nos dias mais corridos não usava mais do que um batom. Costumava assistir aos romances e andava um tanto chorona. Viu todos estes defeitos e pensou que embora ele fosse um sapo que jamais viraria príncipe, o jeito era continuar no galinheiro, ainda que sofrendo, ainda que mal comida, afinal, não era ela nenhuma princesa.

De repente imaginou-se homem. Seria bonito, cheiroso, bem arrumado. Seria romântico. Mandaria flores. Faria surpresas. Imaginou-se esperando a mulher amada do lado de fora de sua casa, com uma rosa roubada de um jardim qualquer. A tiraria da cama no meio da noite para ver a lua. Tomariam banho de chuva. Estariam conversando por telefone numa noite comum e ela se assustaria com uma barata. Minutos depois ele apareceria charmoso e dedicado em sua porta, havaianas na mão para aniquilar o inseto e de quebra mimar a namorada. Cantaria para ela e dançariam the way you look tonight numa praça qualquer. Talvez ela não fosse muito bonita, mas seria inteligente. Ah! Como ele seria feliz por estar com alguém que soubesse lhe fazer rir, que tomasse cerveja, fosse com ele ao futebol e de quebra ainda fosse boa de cama. Ah, quase perfeito! Ele seria uma vingança contra o universo masculino insensível!

Então pensou que se fosse homem, na verdade, gostaria de ser totalmente o oposto. Continuaria sendo bonito, cheiroso e bem arrumado. Mas seria sacana. Coçaria o saco se lhe desse vontade. Ia gostar de música sertaneja para não ficar fora da moda e saberia dançar bem. Um sedutor - papo, olhar e sorriso que arrepiariam qualquer mulher. Andaria de carro, cheio de charme, janela aberta. Continuaria detestando estampas de animais. Se cruzasse com uma mulher vestindo uma peça de oncinha iria por a cabeça para fora e rosnar bem alto, a faria sentir vergonha por ter algo assim. Comeria todas e não ligaria no dia seguinte. “Solteiro, sim! Sozinho, nunca” - seria o seu lema. Chegaria sozinho às festas, sairia sempre acompanhado.

Dormiu pensando em como se chamaria se fosse homem. Que nome combinaria com seu estilo pegador?

Para sua surpresa, acordou homem. Era lindo! Olhou-se no espelho totalmente nu. “Homem, sou homem!” - surpreendeu-se, tocou-se, apaixonou-se por si mesmo. Abriu o guarda-roupas e viu que tinha bom gosto, bons perfumes. Saiu de casa e foi para o trabalho. Chegando lá, foi chamado ao escritório do chefe. “Aquele gostoso!”, pensou. Era homem e deduziu que aquela exclamação mental seria algum resquício de sua alma feminina. Entrou na sala e o homem veio para cima dele. Não fugiu. Então, percebeu a realidade: era gay! Sim, homossexual! Passivo, ainda por cima (ou por baixo, como preferir! O chefe o comeu e mandou sair. Não ligou durante a noite e ele sentiu-se mais sozinho do que nunca.

Tentou dormir, queria voltar a ser mulher! Afinal, se é para gostar de homens, sejamos convencionais. Concluiu que sendo mulher o mundo era menos difícil e mijar em pé nem é tanta vantagem!


Lily Braun

PS: Este texto foi publicado em março, mas como o tema coincidiu com a postagem coletiva do Espaço Aberto, resolvi postar novamente.

domingo, 20 de junho de 2010

Empoeirada

O relógio parado na parede ferrou com tudo. É por causa dele que não caminho, pensei eu. Existem os ponteiros, o objeto todo formado para marcar um tempo. E o tempo está parado. As horas não passam e quando passam, falta algum sentido. Quando se vê já são 22 horas! E o que foi feito da vida? E do amor? Sem energia. Sinto-me igual ao relógio parado na parede. Sem pilha. Parada, esquecida na parede do tempo.

Lígia

sábado, 19 de junho de 2010

Criador

A primeira vez que ouvi falar dele foi numa encenação de “A Banda”, na escola. Mas não foi aí que ele me encantou. Foi em trechos na apostila, em que as músicas dele tomavam forma em letras, em palavras, versos, estrofes inteiras. Foi inevitável buscar saber mais do homem conhecido pelo apelido, rodeado de curiosidades (era parente do dicionário?) e que causava asco em muitos alunos em idade escolar. Alvo de minha admiração devido às palavras escritas, Chico Buarque foi me tomando aos poucos com sua melodia e os olhos verdes, muito verdes, Quando me ganhou já era tarde. Eu não era de mais ninguém.
Tive fases de não largar sua discografia, outra de me ouvir cantando, sem mais nem por quê... Fucei na sua história, quis entender bem mais do meu conquistador. Até hoje, não absorvo bem a forma como ele mexe comigo. Mas desisti de elucidações complexas. Assumi a forma de criatura, sem caminho de volta ou indagação.
E por compartilharmos, as três, do mesmo gostar, optamos por sermos várias, mas todas dele.



Lígia, encarregada de dar parabéns.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sim, tenho o Prêmio Nobel, e quê?

"Com 63 anos o que se espera que aconteça?" - ... às 4 da tarde. A hora está registrada em vários relógios da casa, em Lanzarote.





"'O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer'. Ela não tinha pena de morrer. Ela tinha medo de já não estar, no futuro, para continuar a ver esse mundo que achava bonito."



Editorial da Agência Carta Maior

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Meu jeito de dizer que te amo* - Dia 12 do que, mesmo?

Hoje a mãe diz que sente muita saudade do pai dela. Eu não sinto saudade, mas tenho boas lembranças, acho que não tanto por ele, mas pelo sítio que lhe pertencia. Lá eu passei aquela boa fase da vida em que tudo se resume a tardes de sol e traquinagens de criança. Quanto ao vô, as imagens da parede das memórias são poucas, mas nítidas. Ele sentado na varanda picando o fumo de corda para desfrutar do próprio cigarro antes do almoço; ele pedindo a algum neto que fosse até a pipa buscar um copo de vinho para tomar enquanto comia; dele sentado embaixo da mangueira depois de ter tirado a sesta.
Lá ele ficava até escurecer com o olhar perdido no campo de milho à frente. Eu lançava teorias ao vento tentando imaginar que diabos aquele vô tanto matutava. Se fosse hoje, eu entenderia o poder que a gente tem de se perder em pensamentos. A vó é viva ainda, tem lá seus oitenta e poucos. Me lembro que no dia do velório do marido ela chorou copiosamente, desconsolada, perdida. Eu não imaginava que depois de tanto tempo ela ainda teria tantas lágrimas pra derramar por aquele homem. Mais difícil ainda era entender a dedicação que lhe destinava - nunca soube se por opção ou obrigação.
O vô sentava-se à mesa quando ela já estava posta e ele era exclusivamente o primeiro a ter a comida no prato. Sim, não disse que ele era sempre o primeiro a servir-se, porque era a vó quem arrumava sua comida. Era ela quem colocava a xícara de café na sua frente e sabia exatamente o ponto do doce que ele gostava. Isso foi assim até os últimos dias, como uma babá que serve, limpa e segura uma criança. Ele nunca teve nenhum problema, a saúde era forte e suas mãos nunca tremeram. Ainda hoje não ousei perguntar à vó se ela fazia isso porque lhe tinha acostumado mal – e, assim, gostava – ou porque ele lhe tinha imposto tacitamente a função.
Me lembrei disso esses dias, quando eu vi uma amiga fazer isso com o namorado. Ela fazia o café pra ele, mecanicamente, serviçalmente, boçalmente. E para ele era natural ela ter esse comportamento e ainda tinha a capacidade de reclamar da casa quando ela estava desarrumada – sendo que ele não tirava nem o prato da mesa depois que comia.
Dizem que nascemos para encontrar o amor, para perdê-lo e, depois, encontrá-lo de novo. Acredito que seja assim, mesmo. Embora tenha convicção que não é por esse fato que será aceitável qualquer companhia. Pode ser que minha vó tenha sido feliz em sua ignorância, geralmente nessa condição as pessoas são mais satisfeitas. Pode ser que a amiga queira isso para si mesma. Com certeza uma companhia é melhor do que a solidão, mas não qualquer uma. A gente queimou sutiã, lutou pelo sufrágio, saiu às ruas, mas tudo isso não foi à toa. Pode ser que tenha ficado mais difícil, que em certos casos equivocados reina a extravagância chula, e que por causa disso se criem esteriótipos. Mas, assim é a história, do velho nasce o novo, pra depois envelhecer e se reinventar. Pode ser que a gente perca o rumo, sinta o vazio da lucidez, procure o amor e não encontre, se confunda, troque os pés pelas mãos e o dia pela noite – pode ser... Porém, me desculpe, Erasmo, “mas antes mal acompanhado do que só” SOMENTE se for em véspera de Natal esperando o trem das onze na estação.

Happy Valentine´s Day!!!


Lola.

Postagem coletiva para o concurso do blog Espaço Aberto.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Mas há a vida

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

Clarice Lispector

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Depois

Não carregava consigo o título de senhora empolgação. Era uma ingrata, antes de tudo. Sabia-se privilegiada pelo teto, pela comida, pelo estudo, pelos acessos, pela saúde, pelas coisas que lhe davam condições de uma vida boa. Sabia que isso não bastava, porque não era coletivo. A tristeza também fazia parte da sua felicidade, e, por vezes, a última, tímida, aparecia menos que a primeira. Mas, hoje, o dia despontou diferente. Sentiu no vento o ritmo gostoso pra embalar a manhã do sol que emergiu forte. Fechou a porta, saiu de casa, caminhou logo cedo por aquelas ruas que a tinham recebido tempos antes. Num sopro, ouviu o jovem que voltou no lugar do velho. “Se apresse, temos o amanhã para tecer, acho que ele vai ser diferente”, cochichou o moço ao ouvido. “Eu sei, acordei com essa sensação. Tenho que correr, encontrá-lo”. “Encontrar quem?”. “O sentido, o vento me indicou”.

Lola.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Ela partiu...

Lembrou daquela noite em que tinha a visto pela última vez. Lembrou que o seu toque não foi suave como costumava ser. Num momento de fúria tinha empurrado-a com força para longe de si. Agora, conseguia ver que aquele gesto guardava em si as mágoas que o tempo havia acumulado até o certeiro momento. Fazia muito frio lá fora, a casa estava cheia, as luzes apagadas, os olhares se cruzavam a todo momento, mas eles não conseguiam ler o que a íris estava a dizer. Foi aí que ela se aproximou, começou a falar-lhe ao ouvido, de um jeito manso, querendo arrancar um carinho sequer. Ele lembrou dos últimos fatos transcorridos, a mente resgatou umas verdades arranjadas, mentiras dissimuladas, e a voz suave e mole não lhe convenceu. Ela continuou sibilando ao ouvido, querendo conquistá-lo, fazendo insinuações. Ele não queria se render, sentiu, de repente, um asco e a repulsou pra longe, pegando-a pela cintura e jogando-a em cima das pessoas que estavam perto. O escuro se fez ainda mais, e a única coisa que pôde ver foi o vermelho dos olhos dele. Nada entendeu, nada escutou. Logo depois, num segundo, ele viu a porta balançar, um vulto ligeiramente sair e, dela, apenas um perfume no ar.

Lola

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Balelas

Do que você gosta? Como assim, do que eu gosto? Ah! Não sei... tô pedindo de forma geral, mas seja específica. Cara, você é estranho. Sou? É, você é muito estranho... Estranho como, explique! Você sempre aparece do nada com essa cara de perdido, mas que sabe muito bem onde quer chegar, só que você não me diz qual o lugar e vai sem mim. Você fica tentando me fazer acreditar nessas palavras que solta ao vento, no entanto, eu sei de coisas que desmentem todas essas chorumelas. Sua mãe me disse que você fala horas com ela ao telefone; comigo, nem mandava mensagem. Ué, mas o que você tá me cobrando, a gente nunca teve nada. É, eu sei que não, então pra que ficar me enchendo com suas conversinhas? Ah, agora eu é que não sei, eu gosto de você, mas... Não precisa falar mais nada, eu já entendi tudo. Entendeu tudo? Nem eu entendo... você e essa sua mania de ficar tentando adivinhar as coisas, de colocar palavras na minha boca. Tá, desculpa! Eu acho que é uma forma de defesa que eu tenho, tentar premeditar os acontecimentos pra não levar nenhum susto. Tudo bem, eu gosto de você mesmo assim. É, você gosta de mim e dos Stooges. Viu, já é alguma coisa. Eu também gosto deles, mas preferia a versão curitibana do Iggy Pop, o Oneide Deedrich... haha... lembra o show que a gente foi? Lembro, a gente ainda não se conhecia direito, eu nem gostava dos caras, mas fui por tua causa. Pois é, naquela época você ainda fazia coisas que me agradavam, me acompanhava nos lugares, não tinha vergonha, demostrava seu afeto publicamente. Eu mudei... É, eu sei que você mudou, mas certas coisas ainda continuam exatamente iguais. É? Como o quê? Como o fato de que mesmo estando com outra pessoa você não perde a oportunidade de olhar pro lado, de flertar com outras meninas, iludir, você nunca tá sozinho, mas uma companhia só não te basta, mesmo se as outras forem platônicas. Você realmente é estranho. E você leva tudo muito a sério, aliás, já disse que sonhei contigo essa noite e que você tá linda hoje. Não disse?! Viu só, fale sério comigo! Não temos mais nada! Aliás, não gosto desse seu tom de dom juan... Nossa, eu nem falei nada nesse sentido. Que sentido? Esse que você tá pensando! Tudo bem, mas daqui pra frente só me faça perguntas sobre o tempo, o trabalho, a família e... ponto! Ah, como você é exagerada. É, sou mesmo. Tá bom, se você quer assim. Quero! Ok, mas posso te pedir uma coisa? Pode! Quero te mostrar um filme que vi hoje, aquele último do Woody Allen, Tudo Pode Dar Certo. Pode? Aham!


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Do que as mulheres gostam? Nossa, acordou inspirado hoje, mas tá atrasado, a Nancy Meyer já fez um filme com esse título há quase uma década. Engraçadinha, tô falando sério, do que vocês gostam, quando tão lá, na hora H, hein? Você já foi mais sutil... Relaxa, hoje é sexta. Tá tranquilo no escritório, pega um café e me conta. Você me vem com cada conversa, por que não para de me atazanar, entre num desses blogs de aconselhamentos e troque uma ideia com outros mancebos. Ah, como você é certinha e cheia de nove horas, tô aqui tentando levar um papo bacana contigo, qual o problema da gente falar sobre isso? Você não é moderninha?! Vamos, mostre que sim e me ajude a te entender, ops, digo... entender vocês. Olha, pra você não ficar falando besteira, vou te dizer... a gente gosta de homens sensíveis, que vão com calma, mas que tenham pegada. Nada de trogloditas apressadinhos. Ihh... vocês e essas conversinhas moles, esses papinhos furados. Ei!!! Calma aí, sabichão. Você me pediu e eu tava respondendo... quer saber, vai dormir!!! Ai, que dodóizinho que você é. Não é isso, mas você que pediu, então por que não escuta? Tá bom, tá bom, continue... Somos como vocês, também queremos sentir prazer, mas é muito mais difícil, mais complexo, mais trabalhoso, por isso que o homem tem que prestar atenção, ter sensibilidade, ser paciente e incisivo. Nossa, falou, falou, falou e não disse nada objetivo. E quem disse que somos objetivas? Ué, tem mulheres que são... É verdade, tem mulheres que são mais fáceis de se entender, mais certeiras, afinal não nascemos de uma única receita. Então fale por você, você que é complicadinha e nhé nhé nhé. Ai, como eu te odeio! Pra uma pergunta evasiva, uma resposta no mesmo tom... Tá, vou ser mais preciso, fale de você. Eu já falei! Posso te dizer uma coisa? Você tem cara de quem usa lingerie branca, com lacinho, mas que... Hahaha, você me mata! Você não sabe nada de mim e... me faz um favor?! Vá trabalhar!!!! Tudo bem, mas, então antes me diga, é preta??
Lola.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Papo entre amigos

Bons amigos, um homem e uma mulher - com uma leve antipatia física um pelo outro - conversam sobre a vida amorosa enquanto esperam uma bebida:

- Não vou namorar com ela...
- Mas você não está me dizendo que gosta dela?
- Gosto... Mas ela não é para namorar.
- Como assim?
- Ah, já foi comigo de primeira e com outros que eu conheço!
- E?
- Como e?
- E?
- Você sabe que não tem jeito. Eu penso em casamento!
- Sinceramente, acho que é o único jeito! Não faz sentido você...
- Claro que faz! Há mulheres para namorar e para ficar. Ela é do segundo tipo.
- Aham... Daí o casamento termina porque a mulher não dá! Um brinde à sua ignorância!
- Sim, e ao seu otimismo!

L.
PS:Só os bons amigos podem brindar - sem brigar - à diversidade de pensamentos.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O fato é que

Todas as vezes que quero muito te falar e não consigo acontece algo. Não são as mil possibilidades do teu não, apenas. Geralmente uns fantasmas me assombram à porta, mas não é somente isso. É meu inconformismo, gritante, dessa minha ansiedade frouxa.
Incomoda-me o fato de que toda vez que tenho algo importante a te dizer, não me atendas. E depois, quando vens a me apresentar desculpas, elas não sejam mais necessárias (na verdade, em momento algum são). O momento passou.
Incomoda-me, sobretudo, o fato de querer te falar a toda hora, como se a voz aplacasse a ausência. E nessa espera rota, ter como resposta não uma voz, mas uma chamada quem me diz irritantemente: NÃO, NÃO, NÃO.
Mas o que mais me irrita, e de longe é o mais desesperador, é o fato de que te falar é uma necessidade minha e que tua voz, quando presente, me conforta sim, mas não é para sempre.
O fato é que eu, sempre errante, preciso aprender a lidar com meus assombros, com a ausência, com o vazio. Sozinha. Não quero dividir com ninguém o peso dos meus dias, o peso de qualquer coisa que me quebra, qualquer coisa que me trinca, qualquer coisa de angústia. Algo que me pesa e que nem deveria existir, mas, existindo, só a mim deve pesar, a mais ninguém.
Sozinha, hei de aprender a tua mansidão, a tua calma, a tua avidez de procurar sentido às coisas, quando todo o resto não tem mais sentido. Tudo o que mais me encanta.
Não quero criar a expectativa do todo dia, se o todo dia, a mim e a ti, não é possível. Não quero me entregar a espera doente do todo dia se, igualmente doente, depois virá o toda hora e toda hora, igualmente, não será possível.
Quero me curar para que, uma vez curada, livre e inteira, eu seja tua. E não um punhado de ausência.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O amor não existe

Não existe. O que tanto a jovem procurou simplesmente não existe. Buscou em cada pessoa, em cada atitude, instituição, profissão, debaixo da cama, dentro do armário, atrás das portas, nas janelas, nas danceterias, nos barzinhos, nas festas, nos churrascos, na internet, na prosa e na poesia. “Se eu fosse o amor, onde me esconderia?”, questionou.

Procurou-o nas flores, mas só encontrou beleza e perfume. Foi às músicas e ouviu lamentações. No vento encontrou o arrepio e o som. Na chuva molhou-se e não sentiu o amor. Nos homens encontrou o prazer. Nas amigas, a cumplicidade. Na família, o apoio. Nas pessoas, a mágoa. No tempo, a saudade. Na morte, o descanso. Nas crianças, os sonhos. Nos amantes, o desejo. Mas em nenhum lugar encontrou o amor.

Conheceu alguém e sentiu admiração. Mais um tempo e sentiu amizade, foi sua cúmplice. Semanas depois, paixão. Respeitou suas ideias, ainda que discordasse de algumas. Sonharam juntos. Conheceu sua beleza, seu perfume, sentiu saudades, ouviu suas lamentações, sentiu arrepios, desejo, prazer, magoou-se. Na morte de tudo aquilo, o descanso da procura incessante.

Nunca o amou. Viveram, sim, um conjunto de experiências e sentimentos. Mas o tal amor, este ela nunca sentiu. Nunca o entendeu.

“O amor não existe”, concluiu e pela primeira vez dormiu em paz.

Lily Braun

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Apropriação pessimista

Desamar

Que faz uma criatura,
uma vez entre criaturas, desamar?
Amar e depois esquecer
Malamar e desamar
Amar, titubear e, como se fosse de repente, desamar?
Assim, com olhos pálidos, desamar?

Que pode o ser amoroso
Querer estar sozinho na roda da vida
Para encontrar outro ser
E quem sabe chegar ao mesmo desamor de agora?
Desamar o que a rotina traz aos dias,
O que sepulta o amor, o que arrefece o sentimento?
É sal, é azedo, é amargo, qual o gosto do desamor?

Desamar gradativamente a companhia
O que era confiança cega e adoração sem dó
Desamar o que era doce, de cor
Triste a paisagem, bruto o sentimento
Uma boca que não diz mais nada, desmonte de cenário

Este é nosso destino: amar demais
Amor que diante das coisas vazias
Se esvazia de si mesmo
Para recomeçar a procura medrosa
E paciente de outro amor

Desamar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
desamar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Lígia, pessimista.

[O original é encontrado aqui]

terça-feira, 20 de abril de 2010

Mario Benedetti




Hoje eu revi uma poesia que me fez lembrar porque eu gosto tanto deste autor latino americano e uruguaio. Sua sensibilidade frente ao sentimento humano, falando de forma simples sobre uma existência tão complexa e, acima de tudo, sendo um homem consciente e comprometido com os desafios do tempo que lhe coube e deixando um legado para os que viriam, fez com que me apaixonasse sem exitar.
Meu novo companheiro de estrada chama-se Mario Benedetti e faço isso não por banalidade, mas para que eu me lembre e repita em pensamento seus escritos nas curvas dessa vida.
Devido à minha procrastinação literária li somente há pouco tempo atrás o seu romance mais famoso, “A Trégua”. Nele, Benedetti traz a nós, em forma de um diário, a vida de Martín Santomé, que já se vai ladeira abaixo, como diz o próprio personagem. Com 50 anos ele espera a aposentadoria ansiosamente, para poder desfrutar do tão esperado ócio. Empregado de departamento de contabilidade, seu maior prazer no trabalho é a rotina, porque lhe permite viajar mesmo exercendo suas funções. De outro modo, teria que se concentrar naquilo que estava fazendo, assim, pode ocupar sua cabeça com seus devaneios, mesmo no exercício de suas atividades.
Tem poucas aspirações até o dia em que se descobre envolvido por uma jovem estagiária, com idade para ser sua filha. Depois disso, pra mim, vem a melhor parte do livro, onde reflete sobre o tempo, a idade, o tempo passado e o tempo futuro, sobre a vida, enfim. Tomei o cuidado para ler cada trecho vagarosamente, para degustar cada palavra e não perder o sentido das orações.
Este romance teve mais de uma centena de edições traduzidas em 19 idiomas e levada ao cinema, ao teatro, ao rádio e à televisão. De forma bela e simples ele mostra "como um grande amor pode ser uma trégua na vida".

Lola.

A poesia que revi:

Tática e estratégia

(Mario Benedetti)

Minha tática é
olhar-te
aprender como tu és
querer-te como tu és

minha tática é
falar-te
e escutar-te
construir com palavras
uma ponte indestrutível

minha tática é
ficar em tua lembrança
não sei como nem sei
com que pretexto
porém ficar em ti

minha tática é
ser franco
e saber que tu és franca
e que não nos vendemos
simulados
para que entre os dois

não haja cortinas
nem abismos

minha estratégia é
em outras palavras
mais profunda e mais
simples
minha estratégia é
que um dia qualquer
não sei como nem sei
com que pretexto
por fim me necessites.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sui

"Pouco a pouco,
Sem que qualquer cousa me falte,
Sem que qualquer cousa me sobre,
Sem que qualquer cousa esteja exatamente em qualquer posição,

Vou andando parado,
Vou vivendo morrendo,
Vou sendo eu através de uma quantidade de gente sem ser.

Vou sendo tudo menos eu.
Acabei.
[...]"

Morria lentamente à medida que o sol ia do Leste ao Oeste, não só pela contagem cronológica, mas porque se matava em gotas que engolia por querer e outras forçadas goela adentro. Morria lentamente no trabalho, onde o produto do seu esforço não lhe cabia, produzia por obrigação de sobrevivência, morria porque não se reconhecia naquilo. Fenecia pelos sonhos que abafava no clarear do dia, pela sua covardia, pelo seu comodismo, pelo sentimento de mãos presas e boca cerrada. Se matava pelas suas escolhas, pela própria falta de escolha, pelo vazio que sentia, pelo que a solidão lhe impelia a fazer. Morria lentamente pela falta de força, pelo arrefecimento de suas convicções, por sentir-se solitária, pela falta de comparsa. Acabava-se de domingo a domingo na rotina de levantar, comer, trabalhar, cansar, repor energias e voltar ao começo de tudo aquilo. Morria, talvez, por não acreditar em si mesma, por duvidar de tudo, por não transformar o que sabia que estava errado. Ia morrendo um pedaço seu a cada céu que não olhava, a cada barbárie ignorada, a cada injustiça tratada como natural. Isto era, também, uma forma de suicídio, porque dava a morte a si própria.

Lola.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Psicológica

A menstruação atrasou.
- Culpa dos remédios que você tomou para a garganta – alguém disse.
De fato, havia tomado muita coisa. Mas, como quem tem cu tem medo, a possibilidade lhe rondou.
Pensou em como a vida mudaria e a cabeça rodava, mil rotações por minuto. Comunicou o namorado, pensou nas roupas, no dinheiro gasto com algodão e fraldas. “O algodão anda caríssimo!”.
Sentiu uma colicazinha, prenúncio do rio vermelho mensal. Nada de descer.
- Deve ser o estresse. Você anda meio esquisita mesmo.
De fato, o mundo estava ao contrário, tudo de cabeça para baixo. Mas não. Pensou no batizado, em quem seria convocada para a madrinha. Pensou no seu pai, ele jamais olharia na sua cara.
Contou à mãe, que fez escândalo e depois lhe receitou chás para acelerar a descida. Sem rampas, sem degraus. A situação continuava irredutivelmente reta. Nada de descer.
Fez teste de farmácia. Cinco minutos, os piores, no frio da madrugada. Pensou na criança indo à escola, queria uma menina, mas meninas menstruam. Ou não menstruam.
Preocupou-se tanto que vomitou. “Ai, o enjoo! Prenúncio de um ser”. O exame deu negativo. Mas embrulhou-se tanto o dia todo... A dúvida.
- É nada, é o estresse!
Às favas com o estresse. Pensou na licença maternidade, no seu pai que não lhe dirigiria a palavra, a mãe, que se intrometeria na educação do filhote. Mas quem para madrinha?
Fez o exame de sangue. As veias sumiram todas, pareciam borrar-se de medo. O enfermeiro entrou e disse contente: “então, vamos ver se tem neném aí?”
Queria matá-lo. Pensou nas gangorras emocionais das grávidas. “É isso, estou prenha!”
Pensou no colégio da criança, uma fortuna nos dias de hoje. Pensou na educação sexual, nas perguntas, nas roupas. As roupas infantis, um assalto.
- Você está tudo, menos grávida – era o que o teste parecia dizer.
As cegonhas dissiparam-se da sua cabeça.
Contudo, era necessário se pensar que a menstruação ainda não descera. Grávida não, mas vai que tinha outra coisa? Marcou consulta na ginecologista e pensou nos remédios, nos hormônios, das doenças malignas...

[continua]

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A fragilidade humana

Uma das coisas que mais me comovem, sem par, é o sofrimento do ser injustiçado. Não que seja justo sofrer, mesmo que para alguns certas dores tenham ar de castigo. Tenho dó do ser que, sem ter a chance de se defender, sofre. Daquele que pelo sexo, cor, classe ou qualquer outro critério de discriminação carrega nos ombros o peso de ser frágil.
Dói-me, por exemplo, ver mulher sendo agredida, criança estuprada, pobre sendo cuspido, ou qualquer outro ser sendo rechaçado. Por nenhum motivo, por sentimento torpe, por causa vã.
Não é raiva, não é desprezo, não é inconformismo que eu sinto. É dor.
Eu choro com pouco, bem pouco. Choro por eu mesma ser vulnerável, às vezes. Já verti lágrimas por me deparar com a fraqueza do ser humano, por prever a tragédia anunciada e, mesmo assim, encontrarmo-nos, todos nós, com as mãos atadas.
Dói-me, sobretudo, a violência gratuita. A violência enraizada no medo da vida que se expressa em doses de exaltação, de ira contra os demais, contra aqueles que não lhe fizeram nada, mas por serem mais frágeis, são alvo de um incontrolável desejo de poder.
Quem muito mal faz ao outro, vai saber, bebeu da mesma água amarga. Ou nunca foi pego no colo.

Lígia

O quarto mês

Numa manhã de abril
Para evitar a rima
Ninguém lhe sorriu
Nenhuma folha caiu
Nenhuma mulher pariu

Mas quando quer,
Menina vira mulher
Vê poesia até em manhã fria
Num dia qualquer de abril
No qual ninguém lhe sorriu

Lily Braun (com a cabeça repleta de rimas pobres e nem um pouco nobres)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Desejo

Observou a criança que pediu o doce à mãe tão logo o vendedor virou a esquina.
Seus olhos brilhavam e ainda assim ela disse não. Com a negativa, a criança chorou um choro quieto, sentido, ferida na alma pelo pedido que não seria atendido.
A mãe percebeu a comoção, que não era uma birra qualquer e sinalizou para que o homem se aproximasse. A pequena sorriu, ainda chorando, com a emoção profunda de quem deseja algo e pode, enfim, tê-lo em mãos. Ela escolheu cada detalhe, a cobertura, o recheio. A criança observou a guloseima em sua mão, cheirou, sentiu o prazer de possuí-la. Tocou-a sem coragem de destruí-la. Enfim, a abocanhou. Degustou sem pressa, lambusou-se, saciou-se e lambeu os dedos com grande satisfação.

A mulher percebeu a diferença entre querer e desejar. Tem-se vontade de um doce. Sente-se desejo por aquele doce. A satisfação para a vontade está ao alcance das mãos. O desejo só morre quando se tem o objeto desejado em mãos.

Pensou em si mesma, pensou nele, no quanto o desejava. Desejava a ponto de perceber que sua alma chorava um choro quieto de saudade e vontade insaciável. Imaginou-o em suas mãos. Olharia-o nos olhos, nas pernas, costas, barriga, pés. Examinaria cada detalhe, saberia qual era sua composição. Queria conhecer seu odor e textura. O cheiraria e tocaria em cada milímetro. Por um momento a fumaça que pairava no ar ganhou o cheiro que ela imaginava sentir. Teve água na boca. Imaginou-se mordendo-o, provando-o. Saboreava em seu devaneio a pele suada, sua cobertura, seu recheio.

E o dia ensolarado que brilhava em torno dela tornou-se chuvoso em suas entranhas, o que a fez desejá-lo ainda mais.

Lily Braun

quinta-feira, 25 de março de 2010

De se jogar

O tempo corre demais pra ela ficar escondida. Ela quer é cantar pra todo mundo ouvir. Quer andar encima do meio fio na rua, só pra tirar graça de si mesma. Quer escutar música no último volume. Quer dançar esquisito de olhos fechados. Ela quer é tomar banho de chuva quando volta pra casa. Quer ver todos os filmes de amor e gravar todos os poemas na memória. Ela quer é poder escrever poesia, um dia, pra pessoa amada por pura vontade de se dizer contente. Ela quer é andar naquela praia deserta em companhia do vento. Ela quer é dar bandeira, falar de quem gosta e se jogar no ar.

Lola.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Deste sol

A gota de suor escorria pela têmpora até a barba hirsuta e amarelada. Para ele, o céu azul não remetia a lembranças leves, muito menos de baunilha. O vento que soprava devagar, não amenizava o calor do sol queimando o rosto desprotegido. Do alto do andaime daquele prédio, só olhava para cima na tentativa de enxergar a estrela batendo no ponteiro alto do relógio. Subia e descia seis vezes por dia, o trabalho era chapiscar aqueles tijolos com massa de concreto. Na viagem do meio, era o tempo que tinha para amenizar um pouco do calor com o arroz e feijão frio que engolia. O preparo anterior era feito por ele mesmo, a mulher também era escrava do tempo e, na corrida, não lhe dava beijos de hortelã. Depois do intervalo do meio dia, voltava à rotina do andaime, da pá e do cimento. O esforço manual até deixava um curto espaço para a mente viajar, mas debaixo daquele sol ela não ia muito longe. Parecia que a cada pá de cimento jogada contra parede, ele aterrava o dia, o mês, a vida. O cimento que ele deixava naquela parede que nunca seria a sua casa, fazia com que ele próprio endurecesse. À noite chegava em casa, tomava um banho gelado e deitava no sofá em frente à tv. Daquela tela via moças e rapazes bonitos, senhoras e senhores muito bem alinhados, praias, piscinas, ar condicionado, limonada suíça. Absorto por aquelas imagens que refletiam tudo, menos a sua vida, adormecia... No dia seguinte, ainda madrugada, descia pedalando pela rua rumo ao céu. O sol já começava a despontar e ele nem sequer percebera que, na véspera, mais um verão havia terminado.

Lola.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Breve suspiro

Quero mãos, beijos, língua, tesão.
Quero uma vida contada em pontos de exclamação.

Lily Braun

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Eu sempre achei que os versos fossem pra mim. Que o desejo fosse pra mim. Que olhos, suspiros... a boca!! Eu sempre achei que as palavras que saim daquela boca fossem pra mim. Um dia olhei uma foto e não era eu. Aquele cabelo não era meu (tosco). Aquela boca (torta), não era minha. Nunca mais empresto meu vestido, ele fica melhor nela do que em mim. Nunca mais darei o fora em mim mesma, porque talvez eu quisesse ficar e nem me dei a chance.

ps. Desculpe, Lily, por pegar o seu post emprestado. Prometo devolvê-lo da próxima vez.

Lola.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Já ganhou sua rosa hoje?

Há muito tempo acho que o Dia Internacional da Mulher é uma data que não me representa. Talvez porque o caráter das homenagens tenha qualquer coisa que não me traduz. Eu juro que se eu ouvir mais uma vez algo que me compare com flores, rainha ou que mencione a frase “ocupando seu espaço” colocarei para fora minhas náuseas.
Em meados de março, estamos sempre lembrando que as mulheres estão apanhando mais, dirigindo mais, conquistando mais vagas de emprego (mesmo com menores salários). Ó, vitória.
Mas descobrimos que o preconceito ainda existe. Por outra ótica, pode ser que dizer que o lugar de mulher é em casa não se trata de preconceito. É vontade mesmo. Três entre quatro mulheres que eu conheço não ligariam de não ter que trabalhar, desde que tivessem uma vida de madame. E a quarta mulher titubeia ao responder a pergunta.
As anteriores queimaram tanto sutiã para sair de casa, “ocupar seu espaço” e para quê? Para as de hoje olharem para isso e perceberem que trabalhar fora pode não ser tão bom. Lutaram tanto para quê, amigas do século 20? Por que trabalhar fora era proibido, não era tão comum? Aguenta o tranco e volta aqui agora, filha, para bater cartão todo dia às 8 da manhã e ainda chegar em casa a tempo de preparar o jantar. Afinal, o que mudou, mesmo?
Queriam tanto poder dirigir, as antigas. E as de hoje têm de ouvir (de bocas femininas) que mulher não dirige mesmo bem. Uma época atrás e mulher nem votava. Hoje votam sim, há tempos, na verdade. Mas não votam em outras mulheres. Quanto tempo levará para que as coisas realmente mudem? O que precisa acontecer para que a postura feminina deixe de ser frágil diante da opinião conservadora e machista que domina a sociedade?
Somos mulheres, ora. Queremos tudo. E nada. Carregamos uma mistura explosiva de sentimentos em um olhar. A relação com outra mulher é a mais frágil possível. Mulher não gosta ou desgosta, simples assim. À outra mulher podem ser reservados o ódio e o amor pulsante, existindo uma escala de 20 mil pontos entre essas duas possibilidades. Na relação frágil entre duas mulheres, é possível que as duas percorram a ponta do amor e a do ódio em frações de segundos. E a competição está sempre presente, mesmo sendo as duas rivais amigas, mãe e filha, irmãs. Guerra e paz.
Talvez seja a necessidade constante de estar provando para alguém que se é, apesar de mulher. Que se é competente, que se é multifuncional. Provar para alguém, não se sabe direito o que, por quê nem para quem.
O cérebro feminino, essa bomba relógio cor-de-rosa, ultrapassa qualquer tentativa de explicação. É por isso que eu me contradizo agora e, vá lá, te desejo um feliz dia da mulher. Um dia alguma descendente das que hoje comemoram exija que a data seja derrubada. Por descobrir, enfim, que não há motivo para existir um dia para se lembrar da mulher. A peleia é todo dia.

Lígia.

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Di Cavalcanti: Mulheres protestando

Qual desafio?

O desafio é reinventar o momento; abrir portas e janelas, deixar o vento circular leve. O desafio é não se deixar levar pela conversa vazia, preconceituosa, produtora de arquétipos. O desafio é tapear o tempo e não enxergar somente o próprio olhar, não com tantos outros olhos querendo se encontrar. O desafio é não tornar o cotidiano, a rotina, uma desculpa para se afastar, quando é tão imprescindível achegar. O desafio é seguir, quando um pequeno grupo, desenhado maior, quer regredir. O desafio é enfrentar esse gigante inventado e ser uma multidão para vencer o dito invencível. Enquanto mulher, o desafio é lutar, sempre! E entender, que mesmo sendo Maria, Joana, Carolina, Luiza, o enfrentamento também sintetiza a luta de todos, trabalhadores, homens, crianças, negros, amarelos, desempregados, que se juntam... O desafio é encontrar o que une e continuar a busca por um mundo em que não se precise de um dia para lembrar que somos mulheres, que somos trabalhadoras, estudantes, sonhadoras. Em que seja possível o homem, enquanto espécie, desenvolver todas as suas potencialidades, livre e humanizado.

Lola.

sábado, 6 de março de 2010

Vigor

Desejava o gosto dele, aquele cheiro, o cheiro de nicotina e perfume que só ele tinha, o perfume misturado ao suor depois do sexo. Fatigados na cama, queria o olhar complacente, depois do gozo, depois de serem uma explosão de gemidos e saliva.
Queria passar a língua nos seus lábios, beijar a boca, como se a devorá-lo. Percorrer o pescoço, a orelha. Rolar na cama, os dois grudados, roçando os pés nas pernas, as coxas no sexo. Morder, apertar o corpo rijo dele contra o dela. E ao senti-lo entrar, ser. Completa.

L.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A metamorfose frustrada

“Assim como Brad Pitt está com Angelina Jolie, nenhum príncipe há de querer uma plebéia”, pensou. E então, como disse o personagem de uma peça que assistiu, aceitou se esconder da chuva no galinheiro, mesmo sabendo que se andasse um pouco mais poderia encontrar um palácio de cristal. Eles se divertiam quando estavam juntos e nada mais. Nem bom de cama ele era. Ainda assim, ele não ligava, a fazia sofrer.

Anastácia - tinha nome de princesa e nada mais. Não tinha modos delicados, exagerados até. Seu riso não era doce, era natural. Suas unhas nem sempre estavam bem feitas e nos dias mais corridos não usava mais do que um batom. Costumava assistir aos romances e andava um tanto chorona. Viu todos estes defeitos e pensou que embora ele fosse um sapo que jamais viraria príncipe, o jeito era continuar no galinheiro, ainda que sofrendo, ainda que mal comida, afinal, não era ela nenhuma princesa.

De repente imaginou-se homem. Seria bonito, cheiroso, bem arrumado. Seria romântico. Mandaria flores. Faria surpresas. Imaginou-se esperando a mulher amada do lado de fora de sua casa, com uma rosa roubada de um jardim qualquer. A tiraria da cama no meio da noite para ver a lua. Tomariam banho de chuva. Estariam conversando por telefone numa noite qualquer e ela se assustaria com uma barata. Minutos depois ele apareceria charmoso e dedicado em sua porta para aniquilar o inseto e de quebra mimar a namorada. Cantaria para ela e dançariam the way you look tonight numa praça qualquer. Talvez ela não fosse muito bonita, mas seria inteligente. Ah! Como ele seria feliz por estar com alguém que soubesse lhe fazer rir, que tomasse cerveja, fosse com ele ao futebol e de quebra ainda fosse boa de cama. Ah, quase perfeito! Ele seria uma vingança contra o universo masculino insensível!

Então pensou que se fosse homem, na verdade, gostaria de ser totalmente o oposto. Continuaria sendo bonito, cheiroso e bem arrumado. Mas seria sacana. Coçaria o saco se lhe desse vontade. Ia gostar de música sertaneja para não ficar fora da moda e saberia dançar bem. Um sedutor - papo, olhar e sorriso que arrepiariam qualquer mulher. Andaria de carro, cheio de charme. Continuaria detestando estampas de animais. Se cruzasse com uma mulher vestindo uma peça de oncinha iria por a cabeça para fora e rosnar bem alto, a faria sentir vergonha por ter algo assim. Comeria todas e não ligaria no dia seguinte. “Solteiro, sim! Sozinho, nunca” - seria o seu lema. Iria sozinho às festas, sairia sempre acompanhado.

Dormiu pensando em como se chamaria se fosse homem. Que nome combinaria com seu estilo pegador?

Para sua surpresa, acordou homem. Era lindo! Olhou-se no espelho, totalmente nu. “Homem, sou homem!” - surpreendeu-se, tocou-se, apaixonou-se por si mesmo. Abriu o guarda-roupas e viu que tinha bom gosto, bons perfumes. Saiu de casa e foi para o trabalho. Chegando lá, foi chamado ao escritório do chefe. “Aquele gostoso!”, pensou. Era homem e deduziu que aquela exclamação mental seria algum resquício de sua alma feminina. Entrou na sala e o homem veio para cima dele. Não fugiu. Então, percebeu a realidade: era gay! Sim, gay! Passivo, ainda por cima! O chefe o comeu e mandou sair. Não ligou durante a noite e ele sentiu-se mais sozinho do que nunca.

Tentou dormir, queria voltar a ser mulher! Afinal, se é para gostar de homens, sejamos convencionais. Concluiu que sendo mulher o mundo era menos difícil e mijar em pé nem é tanta vantagem!

Um abraço,

Lily Braun, um tanto fatigada do universo feminino.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Revelando...




"O filme a seguir é uma história de ficção. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Especialmente você Jenny Beckman. Vaca".


Odeio escrever textos em primeira pessoa, mas isso não quer dizer que eu não o faça. Odeio ter que admitir certas coisas, mas algumas são inevitáveis, como o fato de que adoro assistir filmes “boy meets girl” e comédias teens 80´s, recheados com trilha sonora post punk ou british pop. Isso destrói minha panca de durona e afeta profundamente certas convicções, mas é uma contradição e tenho que lidar com ela, fato!
Feito o desabafo, tenho que falar do filme que vi essa semana em dvd. (500) Days of Summer. De coisas que não sabemos, ele não tem nada! Mas assistir um filme que foge de clichês românticos e do felizes para sempre é um alento para as pobres almas fãs de comédias românticas inteligentes. Tom (Joseph Gordon-Levitt) conhece Summer (Zooey Deschanel) no trabalho. Ele acredita em alma gêmea. Ela não acredita no amor. Ele se apaixona por ela e acha ser a mulher da vida dele. Ela, bem... nem tanto! O filme não é linear, é construído sobre o ponto de vista do Tom e dos 500 dias “de Summer”.
O que mais atrai na história é o fato da desconstrução do mito do felizes para sempre, do destino, da alma gêmea e toda essa balela que a gente alimenta por influências diversas. Uma coisa diferente, e até meio exagerada, é a inversão dos papéis. Não é a Summer a iludida e cândida, mas sim o Tom, que representa perfeitamente os idealistas apaixonados, sim, aqueles que não olham pro real e visualizam amores, relações e pessoas perfeitas. Daqueles que são atropelados pela história, pois negam a sequência, o amanhã e as reticências (não pelo fato de não ter a resposta, mas pela simples continuidade da vida).
Mas, calma aí! O Tom não fica nessa. A história vai e volta, tem os altos e baixos e a superação lenta e dolorosa de qualquer final de romance. O legal é que ela acontece, sim. Protagonistas à parte, a irmã do Tom, Rachel, que não deve ter mais do que 13 anos no filme, sai com ótimas sacadas, como uma cena em que ela diz pro irmão algo mais ou menos assim “Tom, só porque vocês gostam das mesmas coisas e se divertem juntos, não quer dizer que ela é a mulher da sua vida”. E a relação deles é engraçadíssima, pois é a garotinha a adulta da história.
Uma das cenas que mais marcaram no filme, é no finalzinho, quando, depois de uma bela dor de cotovelo, Tom é surpreendido pela Summer no lugar predileto dele. Lá eles conversam sobre o que passou, e do porque ela havia feito aquilo. “Um dia eu acordei e tive certeza”, diz ela, “uma certeza que eu nunca tive com você”, pá! Depois disso, Tom redescobre a roda em uma coisa tão óbvia... mas é um dos momentos que levam eu considerar um dos filmes mais legais do gênero que eu vi nos últimos tempos.
- Depois do verão, vem o outono. The end!

L.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Os trogloditas, infelizmente, não são uma espécie em extinção

Eles estão por toda a parte. À caça dos pares de coxas mais grossos, dos glúteos mais firmes, dos seios que se revelarem mais salientes debaixo das blusas. Ou não. Estão atrás de qualquer dona de saia, de qualquer uma ao alcance das mãos e daquelas que buscam num troglodita a felicidade do pós-festa. A felicidade de contar, mais tarde às amigas, quem e quantos foram os pegas da noite anterior.
Eu não tenho o menor orgulho de ser o sexo frágil. Não quando você se vê vulnerável diante das mãos em polvorosa de homens sedentos. Sou mais, muito mais que essa roupa justa. Sou mais, muito mais que o meu decote. Olho para minhas mãos pintadas de vermelho, observo meu reflexo no vidro dos carros e tento imaginar quem poderia imaginar o que há por trás dessa imagem deparando-se apenas com a imagem. Os trogloditas não querem saber o que eu li, se tenho tiradas inteligentes, se meu sonho é rodar o mundo, se meu pulso reverbera em garra e força. Eles se valem de sua aparência por vezes bonitinha, da insistência, da força e o pior: valem-se da retrógrada ideia que não resta à mulher outro destino que se entregar. Elas deveriam é agradecer.
Dessa fragilidade eu me abstenho. Ser frágil não me faz mulher, não mesmo.

Lígia

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O verão terminara

RETROSPECTIVA A PEDIDOS

(Este texto* fala sobre dias que poderiam ser doces dias, mas devido a inúmeros desencontros se tornam amargos dias.)

Hoje escolhi que iria te encontrar. Planejei estar ao seu lado, hoje, o dia mais longo, o dia em que termina o horário de verão.

Li no jornal. Os relógios devem ser atrasados uma hora à meia-noite. A hora acrescida no dia vai repor a que foi subtraída quando o horário de verão começou. Lembro que fiquei pensando... Como eles têm o direito de roubar uma hora de nossas vidas? Vá lá que vão repor depois, mas há dias mais especiais que outros.

Fiquei a imaginar quem aniversariava naquele dia, quem tinha uma grande festa para ir, quem aguardava ansioso no aeroporto o horário do voo para rever os seus. Uma hora lhes foi roubada. E devolvida somente quatro meses depois. Em quatro meses pode acontecer tanta coisa...

Mas isso não tem nada a ver com a gente. A não ser pelo fato de que o dia da devolução da hora roubada foi o dia que eu escolhi para passar ao seu lado. Imaginei o tanto que teríamos a nos falar e achei a ocasião bem propícia.

Aguardei o horário do nosso encontro com ansiedade. Esperei insistentemente o telefone tocar, para confirmar o encontro, sutilmente anunciado minutos antes. Em vão.

Planejei passar este dia ao seu lado. Você escolheu outra coisa. Outra pessoa, enfim. E talvez, vai saber, você nem soubesse que o dia seria mais longo, muito menos o quanto estar ao seu lado seria especial para mim.

Ironicamente, o dia acabou com a certeza de que ele foi, sim, mais longo. Mais longo de dúvidas, mais cheio de incertezas, mais repleto de ausência. Da sua ausência.

* Texto escrito dia 14 de fevereiro de 2009. Postado hoje em alusão a mais um horário de verão que se foi e, junto com ele, outros tantos desencontros. Ele foi escrito pela Rosa, que também já se foi...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Terça de carnaval

A ressaca começa na madrugada de terça. Quando o sol desponta, o gosto acre já toma conta da boca. Aquele que fica depois da última caipira na praia, do gole amigo oferecido pelo usuário do guarda-sol do lado, e, por fim, daquelas doses a mais no bar do Zado. O gosto da ressaca da terça, vem acompanhado da lembrança daquela boca suculenta e macia da noite anterior, que começa no poente da tarde agitada, na penumbra que vem chegando, com o óculos escuro ainda tapando a visão meia luz, no solavanco do sambinha tocando. O problema dessa ressaca é que ela começa cedo. A terça de manhã já é a tragédia do ano inteiro. Contas pra pagar, livros pra estudar, trabalho pra vender, problemas pra enfrentar, e o suor que não ameniza com um banho de mar. A terça já vem lembrando a quarta acinzentada. Da boca suculenta fica um telefone na agenda, uma mensagem não respondida e um nome na história dos carnavais. Que chegue logo mais outro, porque dessa ressaca tenho o ano inteiro pra curar.

Colombina*

*Porque, ainda em clima de Carnaval, permitimo-nos nos fantasiar

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Clichês

Amar a pessoa errada é clichê.
Amar de forma errada a pessoa certa é clichê.

Amei quem deveria ser apenas um amigo.
Senti amizade por quem muito me amava.

O coração está apertado, é quase sofrimento.
Eu te quis. Você nem me kiss.

Você não é clichê, é especial. Esta frase é clichê, puro chavão.

Eu sem você sou clichê, repetição, chateação.

Nós dois juntos somos coreografia inédita, emoção, estreia, suspiro.

Nossas músicas são clichês.
A música que ouço sem você é clichê para a minha solidão,
Enche de ruídos o que um dia já foi nosso salão.

Lily Braun



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

It´s over again

Não poderia culpá-lo por ignorar uma história que ocorrera apenas nos devaneios dela mesma. Isto era o que tentava assimilar mentalmente. Era meia noite e levantou da cama num sobressalto. Assustada foi até o banheiro e encharcou o rosto com a água que corria torneira abaixo. Junto com a água, tentava mandar embora aquela safada angústia que atrapalhava seu sono e comprimia seu estômago.
Era difícil entender que aquilo tinha acabado novamente sem nem sequer ter iniciado. Se acreditasse, poderia dizer que era como uma maldição sádica de cada começo de ano. Dezembro terminava com expectativas, janeiro prometia boas risadas e fevereiro voltava, com uma marcha de carnaval sarcasticamente lúgubre.
Tentava não sentir raiva, porque entendia que a vida não era uma linha reta, pelo contrário, era, sim, cheia de curvas que iam e voltavam, com coisas novas e velhas, com saudades, tormentos, novidades, mudanças, pedaços de alegrias e outros de tristezas. Isto tudo ela entendia, o que ficava difícil engolir eram as palavras falsas, dissimuladas, o que ele omitia, achando ser a melhor saída. Nada mal para um egoísta, mas era o caso?
Não sabia. Não sabia responder essa pergunta e nem as outras mais. Fevereiro voltava e trazia outro soco no estômago, talvez aí se explicasse a compressão da angústia. Ela realmente se perdia em busca de respostas, mas agora era certo, haveria de deixá-las para trás. Ele teve sua chance; ela cortou o peito e mostrou o coração; ele fingiu não ver; as escolhas, afinal.
Apenas uma coisa lhe era certa, não era mais uma história que não se acabara. Agora era verdade, não teria receio em dizer “it´s over again”, em outra língua, para que as palavras não pudessem abrir um corte muito profundo. Ele escolheu. A escolha valeu pelos dois. Não valeria mais a desculpa do devir. Não teriam o final escrito igual à epígrafe daquele livro que tanto gostava: “Esta é a história de uma mulher e de um homem que se amaram plenamente, salvando-se assim de uma existência vulgar”. Não! Isto, definitivamente, não estaria escrito na história dos dois.

Lola.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A revolta de Lily

Hoje acordei decidida
Vou virar puta
Pois ando cansada de não ter no bolso um puto...
Mas de repente ele apareceu, tão cavalheiro
Que a puta que eu sonhei
Nem conheceu o puteiro

Lily Braun

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ensaios mil

Eu já ensaiei mil vezes começar um texto em que falaria da gente e de como eu acho que fomos feitos um para o outro. Eu já fiquei – inúmeras tentativas - na primeira linha de uma carta em que te diria o quanto estar com você mexe comigo e de como esses momentos com o teu sorriso no meu marcam a minha vida. Eu já quis te dizer que encontrei diversas pessoas interessantes por esses caminhos afora, mas em meio a uma conversa e outra, a um carinho, uma forma de tocar, eu lembrava de você e de tudo o que você não faz para eu te querer. Eu tento diariamente me convencer que nessa vida virão outros e, senão melhores, irresistivelmente diferentes. Já fui piegas e marquei em algum lugar o que eu acho que somos. No fundo é isso, um eterno enrolar em meio a vontade de ficarmos presos àquele instante. Mas com isso, nada posso.
There are one million things that I need to know...



Lola.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sopro de vida

"[…]
Se esconde nas sombras que se movem
Nos objetos que não mais servem
Nas pessoas que nunca mais vimos
Na podridão das frutas que não foram colhidas
Nas lembranças já esquecidas

Revela-se nas fotos que se desbotam
Nas cartas que amarelam
Nas crianças que crescem
Nas rugas que aparecem

Deixa-nos a esperança de Pandora
Nas ações dos que virão
No nascimento dos rebentos"
O Tempo

Há pouco tempo li uma entrevista que a Marieta Severo concedeu tempos atrás para um jornal impresso. Mulher de poucas palavras quando longe do palco e das telas, ela falava sobre a vida que tinha passado e sobre a vida que acontecia. Lendo aquelas páginas, imaginei ela gesticulando, me dizendo aquilo tudo, serenamente. Das tantas frases, uma marcou mais. Perguntada se tinha pressa em viver, sabiamente respondeu: “Não tenho pressa, eu tenho sede!” - Certeira.
Ter pressa dá a sensação de passar correndo pelas coisas, como andar de carro concentrada na estrada sem poder olhar para o lado e ver o que brotaria no horizonte. É diferente de ter sede de viver. Ter sede é degustar pausadamente cada gole d´água, sentir ela caindo goela adentro. É, apesar de tudo, se esforçar para ir caminhando, mesmo com aquela vontade de correr loucamente.
Talvez isso tudo ainda nos remeta às aspirações ladeira acima, como disse Martín Santomé (A Trégua), que depois de observar seu filho, afoito, começou a pensar nos seus quase 50 anos e nas suas aspirações que já se iam ladeira abaixo. O tempo, quimera dos pobres mortais, sempre deixando as escolhas à beira de desafiadoras encruzilhadas.
Final de semana desses a vó tava em casa, sofrendo dos males que os seus setenta e poucos lhe traziam. Deitada na cama, sob o carinho de reticentes mãos, chorava copiosamente, feito criança. O choro, com motivos tácitos, instigava a imaginação; terá a vida sido tão boa antes, que agora a fragilidade da saúde, vinda com a idade, tornavam seu sofrimento ainda maior? Ou terá sido uma corrida tão apressada que não valha o sofrimento de agora? A vó não respondeu, simplesmente porque a pergunta não saiu garganta afora. Na mesma tarde, pouco depois, ela foi levada sem forças ao hospital. Estava no final da ladeira, quem sabe, nos últimos sopros de vida.

Lola.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Observação

Lily Braun, Ligia e Lola
Só agora percebi que por uma coincidência estamos iguais, todas com L - de lindas, luxuosas, loucas, levadas, leais, lascívias, lunáticas... Parecemos aquelas irmãs cujas mães escolhem nomes que iniciam com as mesmas letras.

Um beijo,
Lily Braun

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Eu disse adeus, eu vou com os meus numa turnê!

Sou Lily Braun! Quero ser Lily Braun!
Sempre que ouvi esta música, imaginei Lily: incrível, mulherão, atriz, linda, inteligente.
Dispenso o nunca mais de Lily Braun, paro nos dez poemas e buquê! Ou talvez, substitua o nunca mais por sempre mais...

Esta é a maravilha de não existir: poder decidir como tudo será!

Fiquei curiosa em saber se ela existia e descobri que Lily não era assim tão linda. Era sobrinha de Napoleão - ao menos foi a única referência que encontrei sobre uma mulher com este nome. Mas certamente era a intelectual que um dia eu quis ser. Feminista, juntou-se ao partido socialista alemão e lutava para que as mulheres não vivessem apenas com a expectativa de serem mães e esposas.

Tenho certeza que a Lily não recusaria um chopp com a Mulheres de Atenas.

Para dizer a verdade, não encontrei nada que comprove que a Lily feminista foi a inspiração de Chico. Se isso for um erro, que pena, sou Lily mesmo assim!

Quem dera a cada Ano Novo ou 25 de Dezembro Papai Noel me trouxesse uma cara nova, uma personalidade diferente. Com isso, saberia que 365 dias eram o meu limite para curtir o que pudesse e enterrar no final do ano esta personalidade. Meus anos seriam de pura alegria, uma missão incrível: comandar a vida de alguém que só teria um ano para viver!

Agora o time está completo!
Beijos e um ótimo ano a todas nós!
Lily Braun

Sem água, sem ar...

Passou mesmo mais um final de ano. E nesta, completamos dois anos de blog. Acho que o objetivo continua, manter vivo o contato com as três distantes, tentando adivinhar o que cada entrelinha significa na vida de cada uma de nós. Nem sempre se sabe o que dizer, mas não temos pretensão, apenas sentimentos à flor da pele. No outro ano, meu desejo foi audácia, neste, eu só quero paz.

Porque, cá pra nós, iniciei o ano super bem, sabe como? Com aquela puta sensação de estar num lugar e este lugar não estar em você. E hoje, revisitando o blog de uma recente professora minha, achei um texto que ela escreveu, coincidentemente, no dia do meu aniversário no ano passado, e é exatamente o que eu queria dizer hoje.
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Crônica 2

A propósito de uma crônica: no sábado (26/09), o escritor e ex-colega de UEPG Miguel Sanches Neto publicou "Amar uma cidade". Ele fala da sua relação com Ponta Grossa, lugar onde morei um tempão e hoje não entendo como consegui. O relato dele deixa transparecer todas as vicissitudes do amor: encantamento, gratidão, desencantamento, agressão, negação, aceitação, etc. Lembrei que há algum tempo escrevi uma crônica - olha só - sobre o mesmo assunto. Outras coincidências: ele nasceu numa cidade minúscula do interior do Paraná, como eu; ele viveu em Campo Mourão, como eu; fez pós-graduação em Floripa, como eu; sente-se sem raiz, sem um lugar para chamar de seu. Não tive dúvidas e escrevi para ele. A resposta trouxe mais identificação (essa coisa que nos falta a um lugar). Somos paranaenses e não sabemos o que isso significa. Também questionamos se isso precisa significar alguma coisa. Somos diferentes dos gaúchos, que no seu êxodo carregam o Rio Grande do Sul consigo para onde forem. Nós paranaenses, não. Nós vamos deixando nossa herança em algum lugar perdido da memória, acionando uma e outra informação quando solicitada. Então aquilo que poderia nos desabonar - a tal da falta de identidade - poderia nos redimir: somos o que os lugares e as pessoas que nos perpassam nos dão. Poderíamos chamar isso de cosmopolitismo doméstico. Ou não chamar de nada mesmo.


Fonte: Alarme de Incêndio
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O texto do Miguel Sanches Neto, aqui ó: Amar uma cidade

Lola.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sem

E passou o dia 25 de dezembro sem que nenhuma das três lembrasse de trocar seus nomes, como uma serpente que troca de pele de tempos em tempos, deixando a velha carcaça para trás.
O blog nasceu no Natal, época propícia para nascimentos. É no final do ano que tudo se renova e se refaz magicamente, com um sopro novo.
Já nos desejei coragem. Agora, peço que tenhamos sorte.

Sei que em 2010 vou. Não sei como volto. Nem quando.

Lígia, também de olhos morenos

--


Quando ouvi Lígia pela primeira vez, pensei: essa mulher deve ser uma safada. Mas qual de nós não é?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Eu sempre pensei no dia em que ele chegaria com a notícia de que tinha encontrado outra pessoa e de como eu ia me sentir ao ouvir a novidade. Agora eu sei como me sinto e o fato de ter outra pessoa em sua via não é nem um pouco agradável num início de ano. Boba, achei que servíamos um para outro, a vida...

L.