quinta-feira, 22 de abril de 2010

Apropriação pessimista

Desamar

Que faz uma criatura,
uma vez entre criaturas, desamar?
Amar e depois esquecer
Malamar e desamar
Amar, titubear e, como se fosse de repente, desamar?
Assim, com olhos pálidos, desamar?

Que pode o ser amoroso
Querer estar sozinho na roda da vida
Para encontrar outro ser
E quem sabe chegar ao mesmo desamor de agora?
Desamar o que a rotina traz aos dias,
O que sepulta o amor, o que arrefece o sentimento?
É sal, é azedo, é amargo, qual o gosto do desamor?

Desamar gradativamente a companhia
O que era confiança cega e adoração sem dó
Desamar o que era doce, de cor
Triste a paisagem, bruto o sentimento
Uma boca que não diz mais nada, desmonte de cenário

Este é nosso destino: amar demais
Amor que diante das coisas vazias
Se esvazia de si mesmo
Para recomeçar a procura medrosa
E paciente de outro amor

Desamar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
desamar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Lígia, pessimista.

[O original é encontrado aqui]

4 comentários:

BelaCavalcanti disse...

Hj vc nao esta bem... Desejo-lhe dias mais alegres :)
beijo.

Daniel Savio disse...

Infelizmente, o mesmo o motivo, o coração, ama quando pensa que encontrou alma gêmea e desama quando vê que não encontro...

Fique com Deus, menina Lígia.
Um abraço.

Mulheres de Atenas disse...

Ahhh Ligia, passei os últimos dias tentando descobrir a resposta. Concluí que é como disse a personagem de um filme que vi outro dia: "Não encontrei em você a certeza que encontrei nele". Por enquanto é a explicação que me acalma...
Bjs,
Lily

Mulheres de Atenas disse...

Do Drummond à Ligia... hehe Gostei!