quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A vida, amigo...

Nós voltamos. Aliás, há algum tempo isso aconteceu, mas eu hesitava em comentar a novidade com medo de que ele me deixasse novamente. Depois do que ele tinha me feito, acabou voltando com o rabo entre as pernas. Tudo bem que, de certa forma, eu é que havia provocado seu arrependimento e o conserto de nossa relação. Mas é fato, ele tinha voltado pra mim!

Agora eu era a dona do pedaço. Eu quem dava as ordens e fazia as regras. Eu dizia quando e como queria. Eu é que marcava compromissos e viagens sem pedir sua licença. Apenas comunicava a decisão, pegava ele pelo braço e me mandava.

Mas as coisas nunca acontecem como a gente planeja; regra! Viajaríamos neste natal, voltaria pra casa ao seu lado, para a confraternização em família. Contudo, desta vez foi o acaso que nos separou. Sim, aquele conjunto de causas independentes que determinam um fato qualquer, justo ele, sempre ele... Uma mulher atravessou o nosso caminho e nos deixou totalmente esfacelados. A maldita me fez ver de perto o fio da navalha pelo qual caminhamos diariamente.

Mais uma prova de que eu e ele não fomos feitos um para o outro. Meu pai, que mesmo tendo um M de machista às vezes sai com um bom conselho, falou que a culpa não era dele. - Não importa, pai, eu sei que mesmo dolorosa, existe a constatação de que ambos vão por caminhos opostos e é só; nem culpa de um, nem culpa de outro.

De todos os consolos, um me serviu mais, simplesmente pela comodidade do agrado. “Talvez, filha, isso aconteceu para que algo pior não viesse pela frente e para que a liberdade do descompromisso lhe permita novos contatos”. - Tá certo, pai, disso eu gostei...

Luiza.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Under my umbrella

Depois de dias de calor, nos quais andar no sol foi, literalmente, uma tarefa árdua, as botas puderam sair do armário, pois a chuva veio em grande quantidade, quietinha e sem pedir licença.

Quando eu era criança, meu pai ligava para a minha avó uma vez por semana, pois não tínhamos telefone em casa e fazíamos as ligações do escritório. Ele me colocava na linha e ela dizia:

“Hoje choveu muito. Está coisa mais linda aqui do alto! As alfaces estão crescendo de um dia para o outro, dá até para ver as folhas dobrando de tamanho. Aqui do alto, dá para ver o festival de guarda-chuvas coloridos. Coisa mais linda!”.

Por mais que eu estivesse perto e de olhos atentos, jamais consegui ver as folhas crescendo. Lá da casa da minha avó eu não enxergava muito e sempre achei que fosse culpa da minha altura. Pensava que com o tempo, cresceria e poderia ver a maravilha do desfile de guarda-chuvas lá embaixo.

Cresci e descobri que as folhas realmente crescem mais rápido e que guarda-chuvas invadem as ruas quando chove. Aqui no andar de cima, no centro da cidade, neste dia chuvoso, descobri também que há sempre maneiras mais belas de contar o cotidiano. Embora aqui do alto possamos ver que a maioria dos guarda-chuvas é preta!

Beijos (inteiros como sugere a outra mulher de Atenas),
Terezinha

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Forma perfeita

A forma mais singela para se despedir, em uma conversa virtual, é a palavra beijo. No singular, sem abreviações. Dei para achar essa palavra escrita sensual. Beijo desliza entre as teclas e lida, entre os lábios. Teorizei que quando se manda beijo, o outro deve ser especial. Beijos a gente manda automaticamente, para qualquer um. Beijão merece certo grau de aproximação. Mas beijo, beijo, beijo escrito assim repetidas vezes me provoca, atiça.
Talvez porque a palavra é linda falada. É íntima o suficiente, pronuncia-se inteira, pausadamente. Roça no ouvido. Quem fala beijo deve antes molhar os lábios, para que o som resvale, e o outro a pegue no ar.
O encontro das vogais prolonga a palavra, mas ao mesmo tempo o som final, o do biquinho, a deixa curta. É um termo que me intriga. Talvez porque as palavras sem sinônimo à altura me fazem refletir sobre elas. Ósculo é feio, pegajoso. Ou talvez porque, ao ler um beijo, a gente imagina o locutor. Como ele fala beijo. Como ele beija. E como será além de ouvir, sentir o beijo.
O beijo reticente, necessário em um curto espaço de tempo. O beijo dos delírios de Rodin, o beijo despretensioso, o beijo do encontro e aquele último, o grave, o beijo da despedida. O beijo que, sendo o derradeiro, fica.

Rosa.

domingo, 22 de novembro de 2009

Referência

Texto citado no texto anterior. Do genial Xico Sá:

A GENTE SE VÊ (O REMIX)(03/11/2009)



Em uma megalópole como SP e outras tantas grandes cidades, haja encontros e desencontros, Sophia querida, alguns não tão graves, acontece, outros infinitamente dolorosos, que nos perturbam os sentidos, que fazem a gente maldizer os céus, os astros, o destino.

Fica tudo na base do “a gente se vê”... E fudeus, adeus!

Não que fosse acontecer um casamento ou algo do gênero a partir daquele encontro, nada disso, mas foram encontros bonitos, fortes, que se acabam ali mesmo, na poeira da estrada, numa tarde fria, em um café da manhã, numa simples despedida sob a neblina na Dutra ou Anchieta.

“A gente se vê.” Pronto, eis a senha para o terror, o “never more”, o nunca mais do corvo do escritor Edgar A. Poe.

A gente se vê. Corta para uma multidão no viaduto do Chá.

A gente se vê. Corta para uma saída de estádio lotado em dia de decisão do campeonato.

A gente se vê. Corta para “onde está Wally”.

Nada mais detestável de ouvir do que essa maldita frase. Logo depois a porta bate e nem por milagre.

Jovens mancebos, evitem essa sentença mais sem graça. Raparigas em flor, esqueçam, esqueçam.

Melhor dizer logo que vai comprar cigarro, o velho king size filtro do abandono. Melhor dizer que vai pra nunca mais. Melhor o silêncio, o telefone na caixa postal, o telefone desligado, o fora da área, a clandestinidade amorosa, o desprezo on the rock´s.

A gente se vê uma ova. Seja homem, troque de palavras, use o código do bom-tom e da decência. A gente se vê é a mãe, ora, ora.

Como canta o Rei, use a inteligência uma vez só, quantos idiotas vivem só...

Esse “a gente se vê” deveria ser proibido por lei. Constar nos artigos constitucionais, ser crime inafiançável no Código Penal.

A gente se vê é pior do que a gente se esbarra por ai. Pior do que deixar ao acaso, que jamais abolirá a saudade, que vira uma questão de azar e sorte.

Melhor dizer logo “foi bom, meu bem, mas não te quero mais”. YO NO TE QUIERO MÁS, como na camiseta mexicana que ganhei de una hermosa chica. Dizer foi bom meu bem e pronto, ficamos por aqui, assim é a vida, sempre mais para curta do que longa-metragem.

A gente se vê é a bobeira-mor dos tempos do amor líquido e do sexo sem compromisso. A gente se vê é a vovozinha, foda-se!

Seja homem, seja mulher, diga na lata.

Não engane a moça, que a moça é fino trato, que não merece desdém.

A fila anda, jogue limpo.

A gente se vê. Corta para uma multidão no show do Morumbi. A gente se vê. A gente se vê. Corta para a multidão no Campo de Marte. A gente se vê. Corta para o formigueiro do Maracanã. A gente se vê. Corta para a São João com a Ipiranga. Corta para a 25 de Março em véspera natalina. A gente se vê. Corta para um engarrafamento gigante na marginal do Tietê...

A gente se vê. Então aproveita e vai olhar se eu estou na esquina!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Post it




Nobres rapazes, não tenham medo de dizer o poderoso NÃO, o “bye, bye, tchau, fui”, o “sai da minha aba”, o “desencana, tô noutra”, o “au revoir”, you know? O sexo feminino não é tão frágil que não possa suportar um adeus. Elas já deram e receberam tantos, e muitos ainda virão nessa vida. Não será o seu que fará desmoronar nada além do que um dia ou dois. Um e-mail efusivo, uma ligação carinhosa, um recado esperto, nada disso significa que elas morram de amores por vocês. Elas podem, sim, “ser legais e não dar mole”. Vamos lá, não se preocupem, elas podem não estar nas suas, e, caso estiverem, entre um não e outro, haverão muitas afirmativas. Por isso, digam, digam sim um NÃO bem gostoso de se ouvir, pelo menos mostra que coragem não é um adjetivo apenas feminino.
Vamos lá, mancebos, sem melindres...
Afinal, como diria o velho Buarque:

"Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim"

[Inspirado no “A gente se vê”, de o carapuceiro]

Luiza.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Quando a cabeça encosta o travesseiro

[Da série "Quando"]

O peito dói quando a cabeça deita sobre o travesseiro. É lá que borbulha o peso dos sonhos abafados, das palavras não ditas, dos planos no amanhã. Exatamente naquele lugar, voltam as lembranças das letras que o vento leva, dos sentimentos que passam desencontrados, como a lua que cresce e o sol que cai, acabando com o desejo de admirá-los juntos.

Naquela hora em que a cabeça deita e o peito sofre, se faz mil planos, se desenha novas figuras. Lá é que habita a saudade daquele velho corpo, daquela canção mais sabida, da poesia decorada, da ligação prolongada. Daquela posição é que se desenha novas calçadas, se faz prodigiosos planos e se espera o melhor de tudo e de si mesmo.

É quando o corpo parado e a mente louca, viajando, se espera o beijo na testa, o cafuné mexendo os cabelos, a música no ouvido emanada daquela voz doce que sussurra os versos açucarados. Quando o peito dói, a cabeça alcança o travesseiro e a mente viaja, você bastaria do meu lado, sendo sol e lua juntos, na dança mal ensaiada da vida.

Luiza.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Espírito

“Estou cansada”. A frase foi dita duas vezes no filme de personagens desconhecidas e ao mesmo tempo entrelaçadas. Entrelaçadas estamos todas nós, mulheres, nesse cansaço diário. Sempre acreditei que determinadas palavras têm mais força na boca feminina. Na boca vermelha de batom, na boca carnuda que pede um beijo. Na boca que treme, querendo fugir, na boca que faz bico querendo ficar.
Quando um homem diz: estou cansado, geralmente é físico. Quando é a mulher, mental. Não estou dizendo que são esses os únicos cansaços possíveis, para um e outro. Mas quando uma de nós diz: cansei, é porque cansamos mesmo.
Ando cansada dessa gente que não sabe para onde vai. Cansei de notícias que não me dizem nada. Estou farta de histórias de amores impossíveis, seja pelo sistema, pelo regime patriarcal, pela distância. Chega dessa história de “cada escolha é uma renúncia, isso é a vida” (vá se foder, Chorão).
Quero paz na minha cena.

Rosa.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quando eles dizem: “Vamos casar...”

Não que eu tenha algo contra o casamento, pelo contrário, até aprecio a cerimônia, por mais tradicional que ela seja. Acho que reside aí alguma ideia romântica incontida, que por todas as influências externas se incorporam na pele. Além de que, não é apenas o casamento, mas o juntar-se por querer. O estar perto por gostar. Acordar todo dia ao lado de uma pessoa que você escolheu para compartilhar tudo, desde o bafo matinal até as notas musicais tiradas de ouvido no chacoalhar das cobertas.

Mas cá pra nós, está entre as coisas mais estranhas dessa vida a primeira vez que você ouve da boca de queridos amigos a palavra ca-sa-men-to. “É!!! Decidimos que é a hora. Vamos casar nos próximo verão”. “O quê????” - é a única coisa que você consegue expressar, assombro e surpresa, além de um tremendo sentimento de que a vida te atropela, como naqueles instantes em que você está atravessando a rua distraída e de repente ouve uma estrondosa buzina, em um nervoso sinal de alerta. É, amigo, mais um pouco e você já estará estrelando uma comédia à Solteirões Bom de Bico.

O meu primeiro sinal de alerta veio no ano passado, quando pela primeira vez recebi um convite para ser madrinha de casamento. Sim! Que honra... O orgulho inchou o peito e espalhei aos quatro cantos a honraria do glorioso convite. Mas a ficha só caiu na hora em que eu vi o primo entrando de fraque com o sorriso de orelha a orelha admirando a nobre companheira que entrava para ir ao seu encontro. Nem dava para acreditar que aquele era o mesmo que cresceu brincando e se divertindo à custa de tardes na casa da avó com o restante da trupe de crianças unidas pelo mesmo sangue.

É, realmente eles crescem. Tá certo que ultimamente estava rodeada de amigos casais, mas não imaginava o ponto em que a maioria deles estaria se preparando para o enlace. Depois do primo veio a amiga de infância, juntando-se com outro amigo da mesma procedência. Mais tarde a amiga-irmã de escola, com quem até ontem eu trocava papéis de carta e colecionava posters do Guns´n´Roses. Até aí tudo bem, um, dois, três... Mas a lista não parava por aí, era a irmã em busca de apartamento, a outra em fase de cobrar o namorado pela atitude que não vinha, e... opa!!!! Madrinha outra vez?! “Simm, você fez parte da minha vida, não poderia ficar de fora.”

Um dos indicativos do contraditório tempo (amigo e inimigo) que passa, é a somatória de vidas da qual você já fez ou faz parte. Se de um lado vem a alegria de fazer parte de muitas delas, de outro vem a assombrosa constatação da idade. Um convite para o casamento dos melhores amigos é o sinal do encerramento de um ciclo e, consequentemente, início de outro. Esses dias atrás me convidavam para festinhas de aniversário - pão com linguiça, refrigerante e som dos Raimundos. Hoje eles chegam e vêm me dizer: “Vamos casar”...

- “Tudo bem. Só não aceito mais convite para madrinha.”


Luiza.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


“A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.”

Neruda

Naquele ano o inverno estava demorando a passar. Mesmo terminado oficialmente, os dias continuavam fúnebres. Sentada à mesa, no escritório, ela olhava por uma fresta da janela o outro lado da rua, observando a movimentação com o olhar perdido.

Daquele pequeno vão podia ter uma noção do céu acinzentado de uma estação que começara sem vida. Do inverno, gostava do amarelo dos ipês floridos que desabrochavam antes dele acabar, e cujas flores murchas caídas coloriam e recheavam o chão. Mas queria logo o início da estação seguinte, que representava o começo de mais um ano na sua cronológica contagem de existência.

Mesmo tendo nascido dois dias antes do início, ela queria ser primavera, não inverno. Queria ser os pássaros cantando, não os bichos empoleirados protegendo-se do frio. Contudo, o que ainda não tinha percebido é que os dias haviam mudado, e as estações não estavam mais distintamente definidas. Verão e inverno se misturavam, primavera e outono começavam a ficar encabulados. Do outono tinha-se uma certeza, as folhas, apesar de tudo, continuariam a cair. O fato é que dessa nova primavera não sabia o que esperar...

Com a mão sob o queixo, pelo vão da janela, permanecia mirando firme e distraidamente a rua. Naquele momento, num olhar furtivo, avistou um botão rubro que parecia estar numa luta teimosa prestes a desabrochar. A distração acabou de súbito. Foi então que se deu conta de que a primavera havia chegado, mesmo não parecendo.

L.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

As velharias da vida

Eu gosto de coisa velha: música velha, roupa velha, chinelo gasto, sapato furado, tênis rasgado e - com certa nostalgia por um passado que não volta mais - aprecio os amores antigos!

Este gosto pelo passado cresceu comigo. Quando eu era adolescente, na oitava série (meu Deus, isso já faz dez anos!), fizemos um amigo secreto. As quatro turmas de oitava do colégio participariam. Na sala da coordenação, pusemos uma lista de presentes - mais de 50 pessoas participando da brincadeira e outras 100 que queriam apenas saber dos presentes. Minhas amigas pediram brincos, perfumes, blusinhas. Eu também curtia estas coisas, mas pedi um CD do Bee Gees. Lembro de todos rindo e apontando: “Aquela é a menina do CD! Nem meu vô ouve aquilo! (risos)”. Mesmo pedindo, ganhei uma agenda do Mickey, a qual custava mais que o CD!

Eu não devo ser a única que passou por isso. Houve uma época em que eu separava um velho tamanco para doar. O colocava numa sacola e a deixava esquecida, até que estivesse cheia o suficiente para valer a visita até o abrigo. Mas ela nunca enchia, pois quando eu vestia aquela velha blusinha, que sempre combinou com aquele tamanco, eu o tirava novamente, com a velha intenção: “só mais uma vez”. Ele arrebentou, levei ao sapateiro. Estragou de novo, em outro lugar, levei novamente. Só desisti quando percebi que a soma do sapateiro já me permitiria comprar outro sapato. Fato este somado à insistência da minha mãe que sempre rogava a praga: “Este sapato de novo? Um dia ele vai arrebentar no meio dos outros e você vai passar vergonha!”.

Não pense você que não vivo o presente. Compro sapatos novos sempre a pouca grana me permite! Não posso dizer que aprecio, mas me divirto dançando um sertanejo e canto axé. Já fui ao show de Ivete Sangalo, mas ainda sonho em assistir a um especial de Roberto Carlos na platéia e não pela Globo. Leio os best sellers e até me encanto por eles, mas não resisto a Machado de Assis. Adoro os filmes de Spielberg, mas tiro o chapéu para Trufaut e Chaplin.

De vez em sempre me pego a pensar nos amores que não vivi, naqueles dos quais eu tenho saudades e no que poderíamos ser se o passado fosse presente. Mas nem por isso deixo de olhar para os lados!

E você tem saudade do que?

Um brinde ao saudosismo, ao som de How deep is your Love, e vamos em frente!

Da ausente, Terezinha

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Modern Times

Ser pelo ter. Buscar para buscar. Encontrar possibilidades. Não realizar nenhuma pela vontade de encontrar uma melhor, modern times. Certa vez um professor contrapôs duas músicas num exercício de entendimento, durante uma aula em que explicava sobre linhas de pensamento que pretendem explicar a sociedade moderna.

À época acho que havia entendido o que ele tentou repassar através de seus ensinamentos. Hoje, depois de fatos ocorridos, volto a elas. “Cotidiano”, do Chico Buarque e “Você não entende nada”, do Caetano Veloso. Presente nas duas músicas, dizia ele, estão o idealismo e o materialismo. A primeira realizada apenas no mundo das idéias, onde o sujeito não sofre interferência do meio, objeto. A segunda onde sujeito e objeto possuem interface, onde um, condicionado pelo outro, é modificado e também modifica.

Não lembro exatamente como foi a comparação, mas acho que agora já arrisco fazê-la sozinha, pelo menos a minha.

As músicas chegaram ao pensamento numa noite quando, depois de ouvir, os ouvidos permitiram enxergar. Ouvi de bocas sábias o que no fundo já se sabia, mas o tempo faz a gente perceber de forma mais clara. Nessa, a boca amiga lembrou que, assim como tudo, o amor também é condicionado pela relações materiais e que esquecer disso é cair num idealismo sem fim, idealizando relações humanas impossíveis e irreais, vendo e esperando do outro coisas que não existem. Porque no mundo real, no dia após o outro, é que se vive, se trabalha, se ama.

Dá até vontade de largar tudo como o Caetano, mas é no cotiano do Chico que as coisas acontecem. Alguns, que não entendem nada, dirão que sendo assim não dá pra sonhar. Não, não é esse o fato. Mas aprender que a vida se constrói a cada dia e idealizar coisas melhores é necessário, mas saber dos limites a nossa volta nos torna capazes de sermos os donos do próprio destino.

Não quero fugir como o Caetano, quero a materialidade da vida, mesmo sendo dura. Não quero me embrenhar na modernidade líquida (texto anterior), numa busca sem fim pelo gozo. Não quero me apegar às possibilidades, quase sempre intangíveis, quero ser de poucas, mas certeiras vivências. Isso não quer dizer que esses tempos não tragam várias estradas, mas saber o que se quer construir já é um bom começo.

Não quero tacar fogo no apartamento, porque não importa para onde você vá, não são as pessoas, não são os lugares, somos nós e a maneira como compreendemos o mundo. Os problemas não se resolvem por transferência e as coisas não mudam com mala arrumada.

Ao final, “[...] encarar o sofrimento como aprendizado, ir contra essa tendência de relações superficiais, não quer dizer que seja um caminho fácil, mas é o que eu quero trilhar.”, disse a boca sabida. “Eu também”, respondi sutilmente.

Luiza

* Colaboração especial de uma boca sabida, hoje à la cubana, amanhã, espero, mais próximo.



(não achei nenhum vídeo do Caetano cantando a sua)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Xico Sá pergunta: É namoro ou amizade?

Os bons devem ser lembrados, por isso o post de hoje é dedicado ao grande jornalista e escritor, Xico Sá. Abaixo um texto retirado do blog dele: http://carapuceiro.zip.net/
Esperamos que curtam e acessem o blog, sem surpresa, agradável.

NINGUÉM MAIS PEDE EU NAMORO

É namoro ou amizade? Rolo, cacho, ensaio de amor, romance ou pura clandestinidade?
“Qualé a sua, meu rapaz?!”, indaga a nobre gazela.
E o homem do tempo nem chove nem molha. Só no mormaço, só na leseira das nuvens esparsas.

No tempo do amor líquido, para lembrar o título do ótimo livro de Zygmunt Bauman sobre a fragilidade dos encontros amorosos, é difícil saber quando é namoro ou apenas um lero-lero, vida noves fora zero...

Cada vez mais raro o pedido formal de enlace, aquele velho clássico, o cara nervoso, se tremendo como vara verde: “Você me aceita em namoro”?
O tempo passava e vinha mais um pedido clássico e igualmente tenso. O pedido de noivado.

Mais adiante, a hora fatal, mais uma tremelica do jovem mancebo: Você me aceita em casamento?
E pedir a mão,aos pais, meu Deus, haja nervosismo, melhor tomar um conhaque na esquina para encorajar-me.
São raros, raríssimos hoje esses nobres pedidos. Em alguns setores mais modernos e urbanos, digamos assim, talvez nem exista mais.

O amor e as suas mudanças.

A maioria dos homens, além de não pedir em namoro, além de não pegar no tranco, ainda corre em desespero diante de uma sugestão ou proposta de casamento feita pela moça.

O capítulo bom da história é que agora as mulheres também partem para o ataque e, diante de uns temerosos ou acanhados sujeitos, escancaram suas vontades, suas paixões, e fazem suas apostas, seus pedidos, põem na mesa os seus desejos e as cartas de intenções.

Voltando ao mundo dos homens, lembro que era bem bacana esse suspense masculino do “você quer namorar comigo?”
Havia sempre o medo do fora. Um sim, mesmo o mais previsível, era uma festa.
“Quer namorar comigo?”

No tempo do “ficar”, quase nada fica, nem o amor daquela rima antiga.
Alguns sinais, porém, continuam valendo e dizem muito. O ato das mãozinhas dadas no cinema, por exemplo, ainda é o maior dos indícios.

Tanto quanto um bouquet de flores, mais do que uma carta ou um email de intenções, mais do que uma cantada nervosa, mais do que o restaurante japonês, mais do que um amasso no carro, mais do que um beijo com jeito, daqueles que tiram o gloss e a força dos membros inferiores.
“Vamos pegar uma tela, amor?”, como se dizia não muito antigamente.

Eis a senha.

Mais até do que um jantar à luz de velas, que pode guardar apenas um desejo de sexo dos dons Juans que jogam o jogo jogado e marketeiro.
O cinema, além da maior diversão, como diziam os cartazes de Severiano Ribeiro, é a maior bandeira.

Nada mais simbólico e romântico.
Os dedos dos dois se encontrando no fundo do saco das últimas pipocas...
Não carecem uma só palavra, ainda não têm assuntos de sobra.
Salve o silêncio no cinema, que evita revelações e precoces besteiras.

Ah, os silêncios iniciais, que acabam voltando depois, mas voltando sem graça, surdo e mudo, eterno retorno de Jedi. Nada mais os unia do que o silêncio, escreveu mais ou menos assim, com mais talento, claro, Murilo Mendes, poeta dos melhores e mais líricos.

Palavras, palavras,palavras...
Silêncio, Silêncio, silêncio...

Dessas duas argamassas fatais o amor é feito e o amor é desfeito. Simples como sístole e diástole de um coração que ainda bate.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Quase


[...]
“Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
[...]
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém..."



Das coisas da vida sempre ficam as passagens marcantes, não necessariamente por ser um fato extraordinário, mas simplesmente por serem significativas. O tempo vai passando e a gente nem se dá conta, lugar comum - eu sei, mas assim que é. Esses dias, mais uma vez, me dei conta do quão depressa gira a terra em torno do sol. Caminhando pela rua, sem pressa, comecei a lembrar quantas passagens já contabilizava na minha memória, e eram tantas...

O fato é que antes tinha-se apenas o presente e a perspectiva do futuro, agora já têm-se as histórias no passado, o presente um tanto quanto confuso e um futuro incerto. Desse futuro incerto é, sobretudo, um alento, porque sempre há o talvez, os 50% de chance de dar certo ou o oposto, contudo ele ainda existe. Mas do presente, essa forma verbal que indica que uma ação está sendo feita... ahhhh, este sim é incontrolável e sem retorno.

A partir do presente que as coisas ficam no passado, não existe tempo para pensar no que está se fazendo, o que se fez agora já não se pode fazer outra vez, o tempo de agora já levou os minutos desse instante para o passado, já deixou suas marcas, já disse o que queria, já ficou no amontoado do agora a pouco, do horas atrás, do ontem, do pretérito perfeito, do mais que perfeito, ou então do imperfeito, afinal.

É esse presente que deixa a gente confuso, sempre na encruzilhada, sempre nas escolhas, sempre na expectativa de construir um futuro melhor do que o ontem, melhor do que o agora, melhor do que o hoje que já vai passando. Neste presente é que se luta diariamente para seguir um pouco diferente, fazer um pouco melhor do que aquele sol que já se pôs, na tentativa de não ter ficado tão aquém do que se quis. É dele que se tem medo, mas é preciso enfrentá-lo para seguir em frente, apesar de tudo.

Luiza.

domingo, 16 de agosto de 2009

SDP - Síndrome do Diagnóstico Permanente

Tudo bem que todo mundo é um catálogo de síndromes, para todos os gostos. Tem os hipocondríacos, os com mania de perseguição, bulímicos, os obsessivos, os compulsivos. Ultimamente olho para as pessoas e torna-se inevitável não escaneá-las por inteiro até detectar as síndromes, os transtornos, enfim, o que faz de cada ser uma neurose ambulante.
Coisa chata, só eu sei. Mas o que é estranho é que o normal mesmo é o raio-X próprio. Costumo diagnosticar apenas as minhas paranoias, todas as neuras e os defeitos presentes em um relatório dissertativo explicativo sobre essa que vos fala. Não vou citá-las aqui, daria um tratado.
Elas costumam vir à tona quando estou enrolada em algum relacionamento ou prestes a. E nesse quesito, vá lá, devo admitir. É comum eu sómefoderbrasil. E eu não sou aquele modelo de mulher bem resolvida. Aquela que parece dizer com o olhar: olha só, meu bem, dane-se você. Esse tipo de coisa que deixa o homem maluco.
Mas não é só isso. Essa aqui reflete com todos os poros do corpo o que faz dela um ser indigno do outro, daquele trabalho, daquela vaga no mestrado. E a “culpa”, concluía, era sempre das paranoias, dos medos, das atitudes erradas, de tudo aquilo que eu fiz e virou motivo de arrependimento, porque, porque, porque sei lá por que com isso espantei o desgraçado, o possível chefe, a chance certeira.
E olhando assim, depois de um tempo, com aquela distância de segurança que Deus nos dá, e, principalmente, com algo bacana rolando e dando certo, vejo que meu (meu e de milhões de garotas não tão bem-resolvidas) erro foi sempre olhar primeiro para mim mesma, colocar a culpa do mundo nas minhas costas, porque, bem porque isso condiz bem com meu espírito vitimizador, existindo ou não essa palavra.
Quando se trata de relacionamentos, a gente enxerga que o outro, poxa, o outro é que tem medo, paranoia, transtorno. E aquilo que a gente lutava tanto para dar certo nem servia tanto assim para a gente.
Na verdade era o outro que se deixava levar pelos receios, de um jeito meio incompreensível e até meio babaca. E o segredo, no fundo, é não agir como terapeuta de nós mesmas. A gente perde um bom tempo com isso, não é remunerada para tal e no fundo, no fundo, descobre que uma saia curta e uma noite na gandaia dá bem mais resultado.

domingo, 2 de agosto de 2009

De saco cheio

Se eu conseguisse fazer com que o meu computador fizesse o que eu quero que ele faça, meu mundo seria muito melhor, ou, no mínimo, menos estressante.

Tere

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Fuja, lôco!!

Um dia Gilda inventou de desabafar com o primeiro que apareceu na sua frente, aliás, com a primeira janelinha que subiu do lado direito do computador. Dizia ao “amigo” que estava angustiada, que estava com vontade de gritar bem alto, tamanha era a inquietude que sentia.

Aí desabafou:

- Parece que não caibo mais dentro de mim...

- Então engorde!! - disse o sujeito com risadinhas “hahaha”, meio que querendo disfarçar a indiferença presente no sarcasmo.


Depois disso, Gilda aprendeu: em momentos de depressão, fuja do msn!!


L.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

E ele nem sabe o que eu sinto...

Achei que íamos nos dar bem. Idade avançada, modelo retrô, super básico, bem o meu tipo. Nunca quis nada extravagante, suprir minhas necessidades cotidianas, ter para quem recorrer nos momentos de apuro, fazer companhia numa noite ou outra pelas ruas da cidade. Penso que nunca exigi nada além do que ele pudesse me oferecer.

Logo que o conheci disseram: “Ihh!!! Não vai dar certo, ele é muito velho pra você”, ou ainda “Você consegue algo melhor, pra quê comprar uma 'família', ele só te trará problemas!”. Mas eu não escutei, queria ele e estava decidida, era ele ou mais nenhum outro.

Nos primeiros dias nosso rolo foi leve. Eu o olhava diariamente com ternura, tinha cuidado ao falar com ele. Escolhia cada palavra, com medo que algo pudesse lhe ofender e acabar magoando, ferindo seus sentimentos. Não era amor, mas algo perto disso.

Ele havia tornado-se meu companheiro, podia contar-lhe meus segredos e gritar bem alto em sua companhia, nem que fosse só para exorcizar os fantasmas da alma. Até que um dia nossa relação foi rompida, e acho que a culpa foi minha...

Certo dia deixei faltar o combustível que fazia a nossa engrenagem funcionar, foi o que bastou para ele me abandonar logo no dia seguinte. Não saiu de casa, mas resolveu não responder ao meu chamado logo que acordei. Deixei passar, achei que ele estava magoado, dei tempo ao tempo. Quando voltei do trabalho ele já estava mais calmo, e aos poucos fui ganhando sua confiança novamente, mas nossa relação já não era mais a mesma.

Um dia resolvi fazer uma surpresa. Programei uma viagem a dois, separei nosso som do Roberto, arrumei nossas coisas e partimos. Mas tivemos uma briga no meio da viagem e retornamos no mesmo instante. Culpa dele – que fique claro!! Depois disso ele saiu de casa, ficou mais de uma semana fora, contudo, acabou voltando com o rabo entre as pernas.

Mas, nessa altura, meu sentimento por ele já havia arrefecido. Não sentia mais aquela ternura, não cuidava mais com as palavras, não ouvia mais o nosso som, não pensava mais nas curvas da estrada de Santos. De fato, algo tinha se rompido.

Apesar de tudo eu não queria aceitar, quis insistir uma última vez, sugeri aquela viagem novamente, ele aceitou. Partimos, mas num rompante tudo se acabou. Ele me deixou sem dar uma explicação, me abandonou no meio da viagem. Nem pude me despedir, talvez eu nem quisesse, minha raiva era tanta que eu queria tirá-lo pra sempre da minha vida.

Fui socorrida por amigos, que chegaram, ajudaram a recolher minhas coisas, ajuntaram o que sobrou de mim, amenizaram meu pranto. Deram conselhos e fizeram piadinhas. Tudo bem, eu aceitei numa boa, afinal, eles tinham razão, realmente o Fusca pode proporcionar apenas duas alegrias: uma quando a gente compra e outra quando vende. E, além de tudo e no final das contas, ele nem sabe o que eu sinto...

Luiza.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Saudade

Aurélio: [...do latim solitate] 1. Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las.


Tinha acabado de chegar em casa, ainda estava se desprendendo dos casacos quando o telefone tocou, era ele. “Estou com saudades”, foi a primeira coisa que disse. “Eu também...”, iria dizer o quê? Era apenas, e não menos, isso que sentíamos.

- Estou com saudades de dançar um rock com você. Com saudade daquela festa que a gente foi e dançou até o sapato pedir pra parar, lembra?
- Lembro. E daquela outra? Aquela da sua turma... Tocou a mesma banda e a gente dançou um Beatles juntos, lembra?
- Como eu iria esquecer?! Na época acho que eu não sabia, mas agora sei... Foi um dos momentos mais felizes da minha vida.
- Da minha também. A gente era tudo, né?! E bastávamos... Agora é cada um sozinho num canto qualquer, choramingando e maldizendo as desventuras da vida.
- Tenho saudade de lá, daquela época, não da cidade em si, mas de nós.
- Eu sei, sozinhos nos perdemos de nós mesmos, um pouco a cada dia, e só o que nos resta são as recordações presas ao tempo e ao passado.
- É... Agora só me resta a nostalgia, apenas me sobra a impressão de que não somos mais e vamos ter que conviver com isso.
- Mas... a gente ainda vai se encontrar, não vai?! E a nossa promessa, você não esqueceu, não é mesmo?
- Não! Ainda levo ela comigo, um dia a gente se encontra, e se ajeita. Você ainda é parte do que me faz forte...
- Você também!

Desligaram. E a batida da saudade continuou a tocar...


L.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eu queria ter

O sucesso ao jogar com as palavras:

Em passar sua vagínula sobre as pobres coisas do chão, a
lesma deixa risquinhos líquidos...
A lesma influi muito em meu desejo de gosmar sobre as
palavras
Neste coito com letras!
Na áspera secura de uma pedra a lesma esfrega-se
Na avidez de deserto que é a vida de uma pedra a lesma
escorre. . .
Ela fode a pedra.
Ela precisa desse deserto para viver.


do Manoel de Barros;

a sensibilidade de transformar um nome em poesia:

Ali

ali

ali
se

se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse

se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce

ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece


do Leminski;

a inspiração o tempo todo:

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...


do Vinícius de Moraes;

a simplicidade tocante:

tem os que passam
e tudo se passa
com passos já passados

tem os que partem
da pedra ao vidro
deixam tudo partido

e tem, ainda bem,
os que deixam
a vaga impressão
de ter ficado

da Alice Ruiz;

e a sabedoria:

E então, que quereis?...

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.


do Maiakovski.

Luiza.

sábado, 27 de junho de 2009

See ya!

Algumas pessoas existem tanto, que eu tinha a impressão de que não eram reais e por isso não morriam! Mas Michael Jackson morreu. Deve ser mais ou menos o que a geração que veio antes de nós pensava de Chacrinha ou Elvis! Eu não era fã, mas é estranho não parar para pensar.

Terezinha

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Mais audiência

Raj e Maia vão apresentar o Jornal Nacional. Eles dão mais audiência que William e Fátima. Ainda bem que estes dois diplomados já têm uma poupança bem gorda para bancar seus trigêmeos! Agora que não precisam mais de pessoas graduadas para exercer a função de jornalista, a Globo tornará o jornal mais atraente ao público.
Ouvi boatos que a previsão do tempo passará por uma grande reformulação. Ainda estão decidindo se Carla Peres, Sheila Carvalho ou a Mulher Melancia fará a apresentação. Haverá também o garoto do tempo. Eu, particularmente, voto num dos galãs da novela das oito, mas como o mundo está sofrendo drasticamente com mudanças climáticas, devem optar por algo mais agressivo. Dizem que pensam em Alexandre Frota, mas ainda não há nada oficial sobre o assunto.
Quando estiver calor, os apresentadores do tempo estarão bem vestidos e irão se despir gradualmente, a cada informação dada. Nos dias de frio será o contrário, ambos entrarão ao natural, trêmulos de frio. E no final, quando chegarem as temperaturas mínimas e máximas, já estarão bem agasalhados.
O repórter de economia será o dono da padaria que fica pertinho do Projac. Ele começou vendendo empadas sem azeitona na rua, tão precária era sua situação. Foi um ótimo administrador e já tem outras três filiais.
A gerência esportiva ficara por conta de Galvão Bueno e isso dispensa comentários. A Glenda vai voltar a surfar para ganhar a vida e o Tino Marcos vai fazer poemas noutra freguesia, qualquer lugar onde topem pagar um salário de jornalista diplomado para suas matérias sentimentalistas.

Rio ao pensar que uma vez deixei um emprego por medo de perder meu registro no Ministério do Trabalho devido à falta de ética dos outros profissionais que trabalhavam lá!

Se já éramos prostituídos, meu bem, agora fodeu tudo de vez!

Os médicos que se cuidem! As curandeiras já estão se organizando em parceria com as benzedeiras para acabarem com a faculdade de medicina. E eu confio nelas, mas que isso fique só entre nós! Sempre que vou, elas costuram minha dor e volto para casa novinha em folha!

Brincadeiras à parte, fico imaginando como será o jornalismo daqui a algum tempo. Se com profissionais formados muitos jornais já estão à mercê de alguns políticos, como será quando aqueles que jamais passaram por uma discussão técnica, filosófica e antropológica acerca da profissão assumirem o comando? Como será o jornalismo no próximo ano eleitoral?

A minha esperança é que dentro de alguns anos a sociedade perceba o prejuízo de não valorizar a formação dos profissionais da imprensa.

Não sei o que dirão Luiza e Rosa...

Um abraço,
Terezinha

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Quando se é criança

Sempre quando começo um texto acho que o assunto é piegas, tantos já foram os que escreveram sobre tudo, que qualquer coisa que se vá dizer parece cair na cópia e imitação. Mas tudo bem, quem sabe um dia se invente uma fórmula mágica de genialidade e pronto, só beber a poção e virar um gênio da escrivinhança. (Enquanto isso segue a confusão de alhos com bugalhos).

A idéia de atingir o inatingível é comum na infância. Quando se é criança sempre há a impressão de que a gente pode vir a ser tudo o que a imaginação permitir, e lá se vão sonhos em virar astronauta, jogador de futebol, atriz de cinema, paquita (90´s), salva-guarda de animaizinhos indefesos e qualquer outra coisa mirabolante.

Na minha, sempre fui uma aluada. Até não sei por que não acabaram me dando o apelido de “da lua”, como tantos outros receberam. Na verdade, acho que sei o porque: sempre deixei tudo muito escondido, só no pensamento. Vontades e desejos eram o que dominavam as minhas invenções. Lá pelos seis, sete, tudo o que eu mais queria na vida era obter uma espécie de placar eletrônico na testa de cada pessoa, só pra saber o que ela pensava sobre os mais variados temas.

Mas isso não veio à toa, a idéia surgiu durante a mais arrebatadora paixão platônica que tive na infância. Queria tanto saber de quem gostava o menino que eu gostava, que ficava imaginando como seria bom ter aquela tela bem no meio da testa do coitado. Mas não conheci nenhum Einstein a tempo de me ajudar na laboriosa invenção.

Contudo, isso não me impediu de fazer as mais românticas e loucas viagens ao lado do tal menino. Eu ia com ele dar uma volta na Ferrari do amigo do Ferris Bueller, em “Curtindo a vida adoidado”; ficava na praia escrevendo o seu nome na areia, ao som da “Quatro semanas de amor”, do Lairton; inventava casinhas em miniatura na nossa vida a dois; ia para tantos lugares que chegava cansada no outro dia de aula. Mas revelar meu segredo, NUNCA.

Quando se é criança tudo fica loucamente fácil. “Pai, me faz um cheque aí pra comprar minha Caloy”, - ignorando o fato da necessidade de ter dinheiro no banco para pagar a dita cuja – e o que ganhava era uma Monareta reformada. Além do par do príncipe encantado, já quis ser daquelas bailarinas que patinam no gelo, jogadora de volei, decoradora e geófrafa. Por último sonhei em descobrir lugares, ser cidadã do mundo. Virei jornalista (?), que trabalha numa assessoria de imprensa e que pode, enfim, queimar seu diploma.

Acho que ainda preferiria ser a tresloucada da infância – que exemplo!!!

Ass. Louquiza.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

In The Mood For Love

“É um momento de inquietação. Ela mantém a cabeça baixa para que ele se aproxime mais. Mas ele não é capaz, por falta de coragem. Ela se volta e se afasta.”

“Ele se recorda desses anos perdidos. Como se olhasse através de uma janela empoeirada. O passado é algo que ele pode ver, mas não tocar. E tudo o que vê agora está turvo e mal definido.”

“- Só tinha curiosidade em saber como tinha começado. Agora já sei... Os sentimentos podem crescer de repente.”



Mais! - http://www.contracampo.com.br/criticas/inthemoodforlove.htm

O que se é.
Luíza.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Discurso impotente

Quando cai um avião, cai também o nível da cobertura jornalística brasileira. Acho triste e me solidarizo com passageiros e familiares. Porém, é nestes momentos que vejo como o jornalismo brasileiro é elitista e peca na cobertura de certas áreas.
Todos os meses, apenas no Brasil, dezenas de pessoas morrem diariamente em acidentes de trânsito. Voar é muito mais seguro do que andar de carro e estatísticas que comprovam isso não são novas. Entretanto, problemas que atingem muito mais a sociedade brasileira, recebem menos atenção. Chego a pensar que é proporcional: quanto mais importante é para o cidadão comum, menos relevante é para a mídia.
Em poucas ocasiões, reportagens especiais mostram a realidade das estradas. Exploram-se os personagens e algumas promessas de melhorias são conseguidas. Em pouco tempo, os repórteres viram as costas e anos depois voltam com aquele ar de satisfação para mostrar que nada mudou, que o buraco continua no mesmo lugar.
Quando um grupo de resistência mata civis noutros países, a mídia cobre como se a morte de dezenas de pessoas diariamente com a violência brasileira não fosse tão incidente e até banal. É claro que a dor é para todos os homens e todos sofrem a morte de forma igual. Contudo, para a mídia, a morte de uns parece ser mais pesada que a morte de outros.
Lembro-me de um acidente que por pouco não vi acontecer. Fui uma das primeiras a parar, o socorro ainda não havia chegado. Cinco pessoas de uma mesma família morreram. O acidente rendeu poucas linhas nas colunas policiais locais. Naquele lugar, em dia de chuva, a água continua a se acumular. Ninguém mais se importou. Quando morreram meus amigos, foram três, dois eram irmãos. A vida de uma família inteira se modificou. Nenhum deles ia a Paris, voltavam para casa.
No Rio de Janeiro, logo depois de assumir o governo, a nova administração criou a Secretaria de Ordem Pública, que com o projeto Choque de Ordem está retirando ambulantes e camelôs das ruas. O que eles querem? Que quem recebe 500 reais por mês pague 20% de impostos, mais contador?
Esse discurso é antigo e sinto-me no primeiro ano de faculdade, quando demonizávamos com orgulho a Globo. É um discurso impotente, mero desabafo. O mais triste de tudo isso é ver que algumas coisas nunca mudam.

Com o coração de estudante (esperançoso e enraivecido),
Terezinha

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Eu quis comer você

Uma vez escrevi o seguinte - naquela parte do perfil do Orkut onde você deve responder o que aprendeu com relacionamentos anteriores: “Calma, baby! Um convite para um encontro não é um pedido de casamento, muito menos uma declaração de amor”. Tanta era a raiva do cara que recusou uma proposta pra tomar um suco comigo num lugar descontraído.

A gente erra quando fica imaginando coisas muito além do que elas são, admito! Mas tenho um ódio profundo dos seres que acreditam que isso é regra. Quem disse que o convite do suco não era apenas um suco mesmo? Por que o medo de conhecer quando se é um ser sociável?

Da próxima vez que te fizer um convite seja simpático e sorria, porque talvez eu queira comer você, depois do suco, é claro!

# http://www.youtube.com/watch?v=-cwY7UG8jIU (não tinha o link no MP3tube)


Luiza.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Eu quero ser Drew Barrymore!

Ela é linda, tem uma estrela na calçada da fama, tem dinheiro, tem 33 quando aparenta 18, já escreveu um livro, seus avós são atores de ótimos filmes, recebeu vários prêmios e já beijou (ao menos tecnicamente) muitos dos atores mais lindos que andam por aí...

Drew Barrymore e suas lindas histórias de amor estão me perseguindo... Em 15 dias, assisti a três filmes com ela. Daqueles que sabemos que não acontecem na vida real, mas nos deixam com uma vontade tremenda de que sejam verdadeiros... Daqueles que você jura que não vai suspirar, mas não se segura quando ela beija o mocinho no final. Daqueles que você não deveria estar assistindo porque precisa trabalhar, ler, limpar a casa, mas não levanta do sofá.
O que não é o melhor, mas é aquele com o qual a minha vida mais se identifica é “Ele não está tão a fim de você”. O nome já diz tudo, nem preciso explicar. Porém, o filme terminou melhor do que as histórias relatadas no livro e isso me deixou um pouco insatisfeita, afinal, as pobres mulheres que não leram o livro deixam o cinema com aquela ponta de esperança de que um dia isso tudo vai dar certo.
Para Drew Barrymore, tudo termina bem. Eles sempre são lindos e se não são tem aquele charme ao qual ninguém resiste. Eu, ultimamente, não busco charme nem beleza. Basta um perfil no orkut que não conste a palavra ‘casado’ na descrição... Quem sabe um chat com o nick ‘coração solitário’ dê certo! (Aff... a situação nem é tão horrível assim!).
Na verdade, na maioria das vezes a Drew Barrymore me irrita. É irritante esta folia de sempre ter que chamá-la pelo nome completo. Mas não consigo dizer apenas Drew... Não somos assim tãoooo íntimas!!! Ela faz papéis de adolescentes, quando sabemos que já passou dos vinte há algum tempo...
O melhor de tudo, é que ela é artista de cinema, não de novela! Tudo acontece instantaneamente! A parte ruim é que o que é bom dura pouco, mas o que não é tão bom assim passa logo!!!
Amor em jogo, os garotos da minha vida, como se fosse a primeira vez, nunca fui beijada, afinado no amor... Só filme estilo ‘sessão de sábado’... Eu gosto dos mais filosóficos, alternativos, mas não resisto à Drew e suas love stories...

Aiiiii gente!!!! (Se não leu esta exclamação com a ênfase que merecia, leia novamente!) Bem no fim, I don’t wanna be Drew Barrymore! Ela também está solteira!!!!

Terezinha Barrymore

terça-feira, 19 de maio de 2009

Questão de ângulo

- Não estou a fim de vê-lo hoje. sei lá, já estou de pijama... Mas queria que ele viesse! Que ele tivesse vindo me ver! Insistido para me encontrar! Dito que me ama! Paradoxal? Eu sou.
- Hahaha Você é demais para ele. E até para mim.
- Meu problema é que me acho muito. Muito pouco.
- Vou repetir. Você é demais.
- Eu sou o verme do cocô do cavalo do bandido.
- Você é o perfume da princesa roubada pelo bandido a cavalo.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Acordou meio “em crise”

Ela acordou meio em crise. Na noite anterior nerdeando pelos chats desse mundo virtual, deparou-se com fatos que a levaram acreditar que cada número à esquerda alterado na somatória da idade de uma pessoa, surgia uma nova crise.

Ouviu e enxugou lágrimas de amigos e conhecidos dos vinte e poucos, dos trinta e poucos, dos quarenta e poucos, dos cinqüenta e poucos... ok, já era o suficiente. Depois disso, não com muito custo, iniciou um curto processo de sistematização:

- Os jovenzinhos, dos vinte e poucos reclamavam da crise (existencial, que fique claro!): era a dúvida pela escolha do curso superior certo, seguida pela procura de emprego, vontade de sair de casa e achar um cantinho longe da asa da pobre mãezinha protetora, sede e pressa de ver as coisas todas ajeitadas, e tantas outras inquietações.

- Depois... Ahhhh! Os trinta e poucos. Empreguinho conquistado – tá, não é lá essas coisas, mas enquanto não surgir outro, tudo bem! Correr atrás de aperfeiçoamento, com muito custo tentar a conquista da promoção no empreguinho e, “por favor, tenho que arrumar um companheiro (a), afinal quero ter filhos!” “Cadê esses homens??? Cadê essas mulheres, só querem usar e jogar fora???” “Bá, o tempo está passando rápido demais...”

- “Já é hora de fazer plástica? Tirar as gordurinhas? Começar a academia? Comprar a última versão do creme antirrugas??” Põats!! Chegou os quarenta e poucos. “O emprego não foi o que eu desejei quando entrei na faculdade. Acho que poderia ter feito outro curso”. “Amanhã começo a pensar no meu plano de aposentadoria, afinal, corre o tempo...” “Ahhh, e esse companheiro (a)? Bem que minha mãe avisou...”

- Nos cinquenta e poucos? “Eu poderia ter feito tantas coisas, porque não fiz tudo diferente”. “Ahh, se eu tivesse convidado aquele menino pra tomar um sorvete na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto, ouvir aquela canção do Roberto”. “Ahh, se soubesse antes o que sei agora”.

Exausta voltou do exercício mental, fez uma xícara de café e foi sentar-se ao sofá. Não era possível reduzir TUDO a isso de agora pouco. Puxou um livro de poesias que estava sobre a mesa de centro e abriu uma página aleatoriamente. Suspirou. Estava lá, uma boa resposta. Nem sempre é preciso pensar em tudo sozinha:

“e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e olhando nos meus olhos

acho que ganhei o tempo
de lá para cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando”
[V. Mosé]

Luiza.

sábado, 2 de maio de 2009

Orgulho e medo

Queria te dizer, especialmente hoje, que admiro você, pai. Que eu te levo a sério, sim. Que o teu trabalho, para mim, é motivo de orgulho. Que essas frases cheias de vírgulas são para reforçar que eu sinto um amor muito grande pelo meu, sempre, herói. E que embora esse amor seja expresso de uma forma, quase sempre, reticente, para os outros o que aparenta é que ser sua filha é uma das coisas que mais me orgulha. É o pedaço mais gritante de mim.
Eu sei, pai, que você me ama. Ama a todos nós. Mas esse amor exacerbado, embora não seja sua intenção, imprime um medo muito grande em mim. O medo de te decepcionar. Por te admirar tanto, por saber do esforço em nos dar sempre o melhor, tenho medo de não corresponder a um pingo das expectativas que você tem sobre mim.
Deve ser por isso que, na minha própria vida, sempre acho que não é o suficiente. Nunca está bom, sempre poderia estar melhor. Sempre estou me cobrando, para chegar a ser um terço da imagem que você me projeta. Para alcançar os objetivos que você gostaria que eu conquistasse. A imagem da filha bem sucedida, que te ajudará a ir mais longe.
E se eu não ajudo, pai, se eu não tento, é por puro medo de não dar certo. É por medo de me frustrar e, principalmente, de te decepcionar.
É por isso, pai, que eu aparento não ligar para o seu trabalho, para os seus feitos, para seus malabarismos constantes a fim de continuar existindo com dignidade nessa terra de loucos.
É porque eu te amo. E quero que você acredite que, senão deu certo, é porque eu não tentei. Se tentasse, com certeza conseguiria.

Ass: Rosa, filha de meu pai

P.S. Desculpe, Luiza. Não consegui sair do carma da tristeza.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pra outra!

Uma hora, enfim, a gente percebe que existem coisas que não permitem mais se insistir, não por enquanto. Foi aquele plano de passar as férias fora do país, porque não se poupou dinheiro suficiente. Foi aquele exercício demasiado difícil que apenas com a ajuda do professor poderia ser resolvido. Foram aquelas aulas de violão abandonadas, porque não havia agilidade e nem coordenação motora para prosseguir. Foi a vontade de ir embora e mochilar mundo a fora que passou - porque não se vive do vento. Foram tantas coisas. Foram tantas negativas assimiladas que aos poucos se tornaram claramente provas de afirmações tácitas. Por hora, acabou chorare (com a licença poética).

Luiza.

 Novos Baianos - Acabou Chorare

sábado, 18 de abril de 2009

Contratos sociais

Andei pensando
Nem tudo é verdade,
Mas não é porque não é verdade,
Que é uma mentira.

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Tem um momento da vida em que o casamento deixa de ser um direito e passa a ser um dever.

Não houve flores, mas havia música. Ele queria que fosse como nos filmes. Ela desejava algo menos comum. Um certo aroma de perfeição pairava no ar. Os olhos brilhavam e veio o pedido:
-Casa comigo?
Um silêncio constrangedor... “Quem cala consente”, pensou ele e a beijou. Ela o beijou com a mesma paixão da primeira vez. Disse não, sem saber explicar. Ele se decepcionou e todos os que esperavam a troca de alianças, a valsa e a festa também. Ela o amava. Ele a amava. Mas disse que se era assim, o relacionamento acabou. Não haveria segunda chance depois de mais de dois anos de namoro. Ela não quis argumentar. Magoado, ele saiu e foi procurar quem dissesse sim. Encontrou, casou e os filhos vieram.
Ela não guarda ressentimento, embora ainda o ame. Mas não consegue entender como se pode olhar para alguém e, de repente, ter a certeza de que se quer dormir e acordar com ela pelo resto dos seus dias. Ela quer um, dois ou até três namorados que respeitem seu espaço, quer carro e casa. Os filhos, se um dia tiver, pensa em adotar. Não que a gravidez não seja bela, se um dia acontecer, será bem vinda. Porém, ainda mais bela que a maternidade é a escolha dela. Olhar nos olhos e dizer “eu vou te amar e serei o teu refúgio”. Como será belo o amor maternal!
“Dividir a casa, aguentar o as trocas de humor, é necessário? Porque não podem ser eternos amantes, namorados e enamorados?”, questiona. “Pergunta sem resposta”, pensa. “Contratos sociais”.

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Oração da mulher apaixonada
Senhor, tire-o do meu pensamento ou, por favor, coloque-me nos dele. Amém.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Estado civil: solteira, cansada de procurar

Eu posso até ser uma Mulher de Atenas (ou Athenas), cheia de prerrogativas que me fazem bradar aos quatro ventos: sou autossuficiente. Eu me divirto, toda sexta e sábado (ou em apenas em um dos dois, salvo decisão ou falta de vontade da própria), eu me sustento, eu não devo satisfações para ninguém. Eu sou inteligente, não caio em conversa mole, pago minhas contas, faço meu supermercado, limpo a minha sujeira, sei cozinhar quando dá vontade, sem precisar me valer disso para arrumar marido.
Toda Mulher de Atenas que se preze se orgulha de todas essas coisas. Mas, porém, entretanto, contudo, todavia, todas nós guardamos um profundo (e sendo profundo está escondido, mas borbulhante) sentimento de inveja e raiva total em relação a mulheres que são casadinhas, namoradinhas, enfim, as que possuem seus amantes que batem cartão toda sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta e, pasme!, até quinta-feira. Embora esse sentimento se travista de desprezo e até conversinhas venenosas quando as Mulheres de Athenas se reúnem para comentar: veja como ela se anula! Eu não faria isso por homem nenhum! Como ela pode estar com um cara desses? As duas mulheres que acabaram de travar o diálogo supracitado estão, sim estão, se roendo por dentro.
E chega uma hora que elas cansam de posar de moderninha solteiraça, mas também desistem de procurar. Chega um momento em que aparece um sabadão, com um ar quente que sopra do Sul carregado de promessas (tanto de você estrear sua novíssima blusa que você já comprou com más intenções, como para você encontrar o amor da sua vida) e você não se vê com nenhumíssima vontade de sair de casa. Não, a animação não vai chegar ao longo da noite. Só de pensar em passar o rímel você já boceja. Seu sofá nunca pareceu tão confortável. Você arregala o olho para a propaganda do Altas Horas e pensa: Nóóóssa, o Serginho Groismann ainda não morreu? Hey, essa banda que vai tocar no programa parece ser legal, acho que a balada ficará para a próxima.
Apesar de sua mãe vim medir sua temperatura, é perfeitamente normal que uma moça casadoira, na idade reprodutiva, no auge da empolgação, com o próprio dinheiro para gastar, diga um dia: Não, não quero sair. Ficarei em casa, curtindo a minha fossa, que não se refere a um fora recente ou a uma dor passageira, mas a fossa de toda uma vida sozinha, mal amada, sem expectativa de sair dessa condição de protótipo de Mulher Maravilha do século XXI e juntar seus trapos com um cara que nem precisa ser músico, ter barba por fazer e já ter lido Fernando Pessoa.
Fugindo da dança do acasalamento, das cervejas e das tequilas despejadas goela dentro, dos olhares não correspondidos, das cantadas dos bêbados, da vontade de morrer, dorme uma moça na noite de sábado. E antes de pegar no sono no sofá da sala, ela pensa que o problema não é que esteja procurando no lugar errado. Procurar se procura a vida inteira. Mas há momentos em que apenas o que uma mulher quer é ser encontrada. Ser pega no colo e colocada para dormir. Assim, à moda antiga.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Orgulhosas cicatrizes

Que pena que a gente não tem tudo ao mesmo tempo. A eterna confusão entre idade e maturidade, entre saber conciliar essas coisas que geralmente não vão pelo mesmo caminho, embora devessem. Como o Ex-estrangeiro, também queria saber antes o que sei agora, e que eu soubesse hoje o que inevitavelmente saberei amanhã, assim, deixaria viver mais cada momento.

Mas esse deixar viver é antagônico ao processo de querer o que não é nosso, e em sendo nosso entender que o é por uma variável tão sensível quanto o tempo de agora e o de segundos depois de antes. A maturidade que eu assimilaria seria a de aprender que uma pessoa dificilmente será sua a vida inteira e perder o medo de perdê-la – mesmo não a tendo.

Me dói lembrar que relacionamentos acabam e que ninguém é insubstituível. Queria ser a pessoa de alguém pela vida inteira. Carrego comigo um bobo sentimento de melancolia sempre que penso em todas as mulheres que passaram pela vida do Poetinha, pelo casamento desfeito do Leminski e da Alice Ruiz, pela quase incompreensível vida da Simone de Bouvoir e do Sartre, pelas tantas mulheres que o Chico amou e retratatou em suas músicas.

Queria – hoje - saber compreender que existem amores e parar de viajar à toa - parecendo uma eterna iludida – e, sabendo disso, poder conviver melhor com o “estar” das coisas. Também queria poder me orgulhar de diversas cicatrizes. Que, pelo menos isso, a idade me traga de bom!

“Talvez a gente esteja no mundo para procurar o amor, encontrá-lo e perdê-lo, muitas e muitas vezes. Nascemos de novo a cada amor, e a cada amor que termina, abre-se uma ferida. Estou cheia de orgulhosas cicatrizes”.

Luiza.

terça-feira, 10 de março de 2009

Mãe não deveria morrer nunca...

Sei que textos sobre mães geralmente acabam sendo meio clichês e você nunca dirá algo que alguém já não disse, mas certas vezes é preciso, e necessário, que algumas verdades, mesmo sabidas, sejam ditas, escritas, registradas, para que as pessoas possam assimilar, principalmente a quem o desabafo se direciona. Então, que se dane!

Minha mãe é antes de tudo uma lutadora (não disse que não diria nada de novo?)! Não sei se no seu lugar, depois de ter passado por todas e tantas, eu estaria inteira. Guardo não só, mas principalmente, as melhores lembranças. Lembro que quando a caçula da casa chegou eu me deleitei. Sim, apesar de ter perdido o colo desfrutei de muitas noites dormindo ao som de sua voz que cantava pra minha nova irmã dormir no embalo de melodias de ninar.

Eu adormecia tão feliz quanto a que repousava sobre seus braços, embora o sono algumas vezes fosse interrompido pelos berros do bebê eu o desculpava, pois por sua causa eu ouvia novamente a voz doce das canções daquela alma tão serena a cantarolar.

Hoje vejo que o melhor de tudo quando se amadurece é ver a mãe tornando-se a melhor amiga. Foi assim comigo e lamento pelos anos que passei confabulando deixar a casa por motivos que só uma criança pode se chatear.

Aquela mulher que me escovava os pés até ficarem vermelhos depois de ter passado a tarde correndo no barro, aquela que tirava do meu ouvido, com grampos de cabelo, grãos de milho, trigo e qualquer outro objeto não identificado após passar tardes brincando na casa da avó, aquela que arrancava varinhas de pêssego e ameaçava curar a teimosia com umas boas varadas, aquela que passou por uma série de cicatrizações dolorosas, aquela que antes de tudo é uma mulher que também sofre, chora e sente saudade, é quem eu mais admiro, considero, me preocupo, e por quem derramo as minhas mais profundas lágrimas de saudade.

Descobri que minha mãe é muito mais corajosa do que parece, é muito mais forte do que se imagina, mesmo tendo uma flor no seu nome. Porém, ela também não é de ferro e mesmo sendo minha SUPER MÃE, passa por muitas e ruins nessa vida. Tudo que eu queria hoje é que ela, apesar de tudo, não desanimasse e soubesse que, mesmo não tendo feito tudo o que queria ou mesmo que não tenha escolhido outros caminhos que a tivessem levado para lugares melhores e mais felizes, o mais importante de uma mãe ela fez: ter conquistado o amor incondicional de não apenas uma, mas três filhas que a querem tão, mas tão bem que só de pensar me arde o peito.

“Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.”




ps. retroativo ao dia da Mulher, à minha mãe, pra mim, a melhor mulher!

Luiza.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Instinto Maternal

Começou com uma conversa informal na hora do almoço. E aí surgiu a enquete. Você quer ter filhos? Sim, pensei, abruptamente. Quero. Não agora, mas quero, sempre quis. Sempre brinquei de boneca, planejei nomes, imaginei o futuro de cada bonequinho quando crescesse. Já pensei em ter seis, quatro e dois filhos. O número foi diminuindo inversamente proporcional à consciência de quanto se gasta com um bacuri. As únicas certezas que mantive foram as de que quero ter filhos em números pares e que não terei um só.

Nunca pensei em quando teria início a encomenda da minha prole. Na verdade, como toda menina parece ser o reflexo de sua mãe, imaginava que minha sina seria a mesma. Com 23 já teria o primeiro nos braços. Mas a idade chegou e essa ideia passou longe das minhas metas. Depois que eu entrei na idade reprodutiva (e sexualmente ativa), ter um filho ficou adiado para um tempo do não sei quando, um dia quem sabe, quando a estabilidade chegar (e chega?). Porque a espera de um marido transformou-se na escolha, simplesmente, por um pai. Uma produção independente não está descartada dentro dos meus planos de carregar meus lindos bebês nos braços.

Lembrei de um livro, em que a protagonista (mais ou menos da minha idade) busca desesperadamente ter um filho. Sem namorado (que não quis levar o sonho da moça adiante) ela vai até para outro país para tornar o sonho (considerado desejo bizarro de criança mimada pelas amigas) realidade. Recordei algumas passagens de quando ela se depara com crianças e grávidas. A reação era idêntica a que eu ando tendo ultimamente:

- Meu Deus, esse bebê é a coisa mais linda desse mundo!

Tá, não é para tanto. Ele pode ser bonitinho, ter cheiro bom de talco, mas tenho certeza que aquela risadinha sem motivo aparente pode ser só para te conquistar. Para despertar em você aquele instinto maternal que dormia no fundo da sua alma.

Não sei se foi a enquete, que me fez parar para pensar nisso, ou se foi a proximidade recente com grávidas, ou ainda o amadurecimento chegando, mas a vontade absurda de ser mãe voltou. E anda latente. Uma vontade tremendamente irracional, diga-se de passagem. Para ajudar, fui a um chá de bebê de uma amiga. A cada presente aberto, os "ahhhhh" "que linduuuuu", "oinnnnn" mais altos eram meus. A futura mãe, esplêndida no seu barrigão de oito meses, também ajudou para que minha vontade de ser genitora se tornasse ainda mais forte. Descobri, sorriso nos lábios, que seu filho terá o mesmo nome que eu quero que meu filho homem tenha. (Sim, eu tenho o nome certo para o menino e para a menina que um dia eu terei.)

A vontade continuava lá, linda e pujante, até que alguém no chá teve a ideia de passar uma sacola cheia com os papéis vazios dos presentes entregues. Cada convidada deveria tirar um pacote e a última seria a felizarda futura mamãe. Tive uns três tipos de calafrios. Não, não, não vem com esse pacote perto de mim.
- Vai ter que pegar sim. Só não pega quem não pode ter filhos - disse uma mulher ao meu lado.
- Mas eu não posso!
- Não, eu digo quem já tem idade, ou fez laqueadura.
- Não posso ter um filho.
- Por quê?
- Minha mãe me mata.

Eu hein!
Filhos? AGORA, melhor não tê-los!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O verão terminara

(Este texto fala sobre dias que poderiam ser doces dias, mas devido a inúmeros desencontros se tornam amargos dias.)

Hoje escolhi que iria te encontrar. Planejei estar ao seu lado, hoje, o dia mais longo, o dia em que termina o horário de verão.

Li no jornal. Os relógios devem ser atrasados uma hora à meia-noite. A hora acrescida no dia vai repor a que foi subtraída quando o horário de verão começou. Lembro que fiquei pensando... Como eles têm o direito de roubar uma hora de nossas vidas? Vá lá que vão repor depois, mas há dias mais especiais que outros.

Fiquei a imaginar quem aniversariava naquele dia, quem tinha uma grande festa para ir, quem aguardava ansioso no aeroporto o horário do voo para rever os seus. Uma hora lhes foi roubada. E devolvida somente quatro meses depois. Em quatro meses pode acontecer tanta coisa...

Mas isso não tem nada a ver com a gente. A não ser pelo fato de que o dia da devolução da hora roubada foi o dia que eu escolhi para passar ao seu lado. Imaginei o tanto que teríamos a nos falar e achei a ocasião bem propícia.

Aguardei o horário do nosso encontro com ansiedade. Esperei insistentemente o telefone tocar, para confirmar o encontro, sutilmente anunciado minutos antes. Em vão.

Planejei passar este dia ao seu lado. Você escolheu outra coisa. Outra pessoa, enfim. E talvez, vai saber, você nem soubesse que o dia seria mais longo, muito menos o quanto estar ao seu lado seria especial para mim.

Ironicamente, o dia acabou com a certeza de que ele foi, sim, mais longo. Mais longo de dúvidas, mais cheio de incertezas, mais repleto de ausência. Da sua ausência.

Rosa (ainda) despedaçada.

* Texto escrito dia 14 de fevereiro. Postado hoje, somente, devido às incongruências da vida.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Coisas de partir e voltar...

Sempre brinquei com minha mãe que nunca sairia de casa. Ficava rindo à toa com ela e imaginando como seria bom ter o aconchego do seu abraço e o despertar matinal do seu chamado, tirando de ouvido o timbre de sua voz. O grito era sinal de desespero e pulo da cama, ou o contrário, a voz mansa deixava-me adormecer mais um pouco.Agora sei o quanto isso me faz falta.

No fundo eu sabia que o ficar para sempre não aconteceria. Afinal, uma hora ou outra todos vão e a mim a saída não tardaria a chegar, porque minha vontade também era deixar e partir.

Ontem, depois de pouco mais de dois meses fora de casa, retornei àquele abraço carinhoso e o sorriso no rosto de quem espera. Nunca parei pra pensar na sensação que as pessoas tinham em voltar para casa, contudo o gosto foi muito melhor do que eu teria imaginado. A mim ele chegou repleto de êxtase e prazer. Nas duas noites que estive em casa, dormi na minha antiga cama com um sorriso no rosto, daqueles que deixam o sono macio. “O melhor de ir embora é voltar”, pensava comigo.

Nessa volta também veio uma certeza: aquele já não era mais o meu lugar. Aquela ciadade já não era mais minha. Eu não caberia mais lá, igual um calçado que você abandona e não consegue mais colocar no pé, porque simplesmente não entra mais dentro dele.

Depois disso, lembrei de uma amiga e dos textos que ela já tinha escrito sobre o partir, o voltar e o não permanecer. Agora entendo melhor o que ela dizia. E, embora seja triste o fato de que dificilmente você voltará para casa, é bom saber que podemos revisitá-la sem o compromisso de ficar e conquistar, mesmo ilusória, a sensação do mundo pela frente. E, em tendo o mundo pela frente, haver sempre um lugar para voltar...

Luiza.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

À toa

À toa, pensamentos invadem minha cabeça.

À toa, me perco num mar de sonhos que só lembrados
são quando, à toa, me percebo toda nua, toda crua...

Cheia de coisas que eu queria fazer e não fiz,
que eu queria dizer e não disse.

À toa que eu te perdi, mas não é
À toa, que eu me lembro de ti.

Bjs,

Luiza*

* Preguiçosa e sem vergonha, pq descobriu que é fácil escrever poemas toscos.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Síndrome de Armstrong

Foi esses dias. Aconteceu de repente. Fui atacada pela Síndrome do "What a wonderful World", do Louis Armstrong. Tudo passou a fazer sentido. E um sentido absurdamente positivo. Não era nada tããão sobrenatural, nada de "que as luzes violetas estejam com você", nada de "minha força interior", nada de "a energia dos cristais...". Essa seria a Síndrome de Osho. O que me atacou mesmo foi a outra.

Já ouviu?


Impressionante. É claro que eu não cantava com a avidez do Louis, mas essa música pareceu orquestrar a minha vida. Eu parecia enxergar apenas as cores vibrantes das coisas, como se todo o cinza em volta não importasse. Parecia ouvir apenas a cantoria dos passarinhos e não queria saber se eles estavam prestes a cagar na minha cabeça. Acordava cedo, andava muito, comia rápido, mas qual o quê? O mundo é maravilhoso! Olha, ele é maravilhoso!
Dei esporro numa amiga, acostumada a enfeiar a vida, como eu mesma fazia, há (veja!)poucos dias antes. Tentava mostrar a ela o que eu enxergava do meu caleidoscópio multicolorido.

A síndrome me atingiu em cheio e durou uma semana. Esfacelou-se, virou pó.
A amiga me encontrou, praticamente estirada no chão, sem forças. E me cobrou o olelê anterior.
- Ué, cadê o otimismo?
- Morreu.
- E desabou por quê?
- Homens.

Sempre eles. Malditos.

Rosa (despedaçada).

sábado, 31 de janeiro de 2009

O silêncio seu

Eu não preciso ser muito esperta para saber o que signfica seu silêncio. Bem, na verdade, é melhor usar no plural. Os seus silêncios. Eles simbolizam que, além de ser reticente e optar por escutar ao invés de falar por falar, você não quer dizer. E eu sei que isso é muito significante.
Por isso, imagino que me ver todos os dias é algo que deva incomodar bastante seu silêncio. É uma afronta até. É como obrigar o silêncio a se curvar, a contragosto, ao gesto da fala.
É preciso falar, nem que seja um bom dia. É preciso conviver, assim são as convenções.
Achei que só teria de você o seu silêncio. Mas hoje, justo hoje, você o quebrou, não nas linhas naturais, mas não deixou de ser uma quebra. Você rompeu o silêncio para mostrar que esse jogo contiuará a valer, pois a gente nunca perdeu os dados. É hora de limpá-los, jogá-los para o alto e recomeçar a competição onde ninguém sai ganhando. O engraçado é que quem dá as fichas é você. Sempre você. O croupier silencioso, que parece saber onde está a roda da fortuna.
E eu sou a moça que decidiu parar de jogar, com um bolo de fichas na mão. Tão certa da sua decisão como a mais volúvel das mortais, ela decide recomeçar as apostas. Sem saber onde isso vai dar. Sem saber como fará para continuar no jogo.

No fundo, seu silêncio antecipa o meu silêncio, quando a minha fala não consegue exprimir algo de muito relevante.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"A vida, amigo, é uma só"

Há pouco eram dez anos e eu brincava como uma doida,
aproveitando todos os segundos de dias ensolarados.

Algumas semanas passadas, na ingênua cabeça dos dez,
imaginava que nos quinze, ADULTA, já seria mulher feita,
praticamente casada.

Esses dias, lá pelos dezoito, não havia casado...

Hoje, olhei no espelho e me vi aos vinte e poucos,
embora tenha me sentido como ontem.

Ainda ontem tinha deixado a idade do alvorecer,
quando já deram a largada pro meu entardecer.


* Da saudosa Luiza.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Teste: Como você reage à presença masculina?

Teste: Como você reage à presença masculina?

1) Você manda uma mensagem e ele não responde. O que passa pela sua cabeça?

a) Ele não tem crédito e não está com grana para colocar mais. Final de mês ainda... Só.
b) Ele não é do tipo que responde mensagens instantaneamente. Difícil de convencer, mas vá lá.
c) O celular acabou a bateria e o carregador foi levado por engano pela tia dele que mora em Juiz de Fora (MG)
d) Ele foi abduzido por ET’s. Quando ele voltar, se voltar, terá sorte se ele ainda te reconhecer.
e) Vai que um meteoro atingiu o cara ou o celular? Na dúvida, liga já no outro dia para saber se está tudo bem com ele e para quem sabe marcar alguma coisa.

2) Quando você entra no MSN, automaticamente ele some. E quando você tenta despistar e aparecer offline, o filho da puta reaparece. O que pode ter acontecido?

a) Ele nem dá muita bola para MSN. E os desencontros são pura coincidência.
b) O cara deixa o MSN ligado no computador de casa. A conexão é uma bosta e fica caindo e conectando automaticamente.
c) Quem usa o MSN dele, na verdade, é a irmãzinha de 8 anos, que acha o máximo ficar entrando e saindo, para a janelinha ficar aparecendo toda hora para os outros.
d) A senha dele foi roubada por um cafageste gay que não SU-POR-TA ver mulher entrando no MSN.
e) Ele desapareceu sem deixar rastros e a família está usando o MSN para entrar em contato com as últimas pessoas que conversaram com ele. Você, obviamente, não é uma delas.

3) Vocês saíram, foi ótimo, mas ele nunca mais deu notícias. Você desconfia que ter freado as mãos do safadinho possa ter alguma coisa a ver com o sumiço, mas não deixa de ficar com a pulga atrás da orelha (afinal, foi ótimo!). Qual é sua reação?

a) Quem sumiu mesmo? Tem muitos outros caras no mundo, babe, e você vai atrás deles com aquele seu vestidinho preto que você carinhosamente batizou como “100% de aproveitamento”.
b) Espera calmamente o celular tocar, recusa programas no sabadão, porque aquele pode ser o dia que ele vai ligar e termina a noite acompanhada por um balde de pipoca e as piadinhas do Zorra Total.
c) Imagina que ele está trabalhando demais, em um novo empreendimento que irá abalar as estruturas da cidade, quiçá do país! “Quando o projeto terminar, ele vai te ligar”, você pensa, mas não deixa de acompanhar as notícias de polícia no jornal.
d) Vai na casa da mãe dele, chora as mágoas, pede uma forcinha para a velha e, para garantir, pede umas receitas de bolo e pergunta como ela faz para conservar aquele jardim tão lindo. Se mesmo assim ele não aparecer, dá queixa na polícia pelo desaparecimento.
e) Veste uma capa preta, coloca óculos escuros, pede o carro emprestado da amiga e fica de plantão na casa do filho da mãe esperando ele aparecer com outra para fazer um escândalo.

Respostas: (Some as respostas. Não trapaceie!)

a) Você é um exemplo de mulher bem resolvida. Sua foto deveria ser colocada no mural de grupos anônimos de apoio a mulheres ciumentas, possessivas, desequilibradas e etc.
b) Você tem alguns problemas de auto-estima, um pouquinho de insegurança, mas consegue segurar a onda legal.
c) Você tem uma puta imaginação! Esqueça o cara e tente um emprego na publicidade ou vá escrever um livro de ficção.
d) Sua imaginação também é foda, mas com uma dose de fatalismo e atitudes um tanto quanto inusitadas. Doses de fluoxetina diárias podem resolver seu problema.
e)Você é uma doida desequilibrada, amiga. Vá se tratar. E não adianta refazer o teste, a trilha sonora da abertura dos “Normais” rege sua vida.

*Teste elaborado por Rosa, que, nem a pau, conta seu resultado.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Perdidas

Luiza diz: Se é isso que você está buscando, mesmo com todos os contras, vá em frente.
Rosa diz: Para de falar isso, parece que estou optando pela escolha errada.
Luiza diz: Não, só quero dizer que será melhor você seguir com essa ideia, porque é o que você quer realmente.
Rosa diz: Não sei se eu sei se é isso o que quero realmente. Não sei o que quero realmente.
Luiza diz: Às vezes tenho a impressão de que nunca vamos saber.
Rosa diz: Eu também tenho essa impressão.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Um gato.

Quando fiz essa associação, as coisas ficaram um pouco mais claras.
Sim, você é um gato.
Gatos não gostam da banalização do carinho. Por isso, quando você quer carinho, você vem procurar carinho. E se não tiver a fim, não se importa, mas também não dá sinal de vida.
Gatos são independentes. Por isso, você não precisa de mim. Não tem necessidade de mim.
Gatos são inconstantes. E você é.
Gatos sabem quando estão certos. E sempre acham que estão certos.
Talvez você esteja apenas assumindo sua verdadeira índole felina.
E eu, como domadora, não levo o menor jeito.
Isso é chato.

Rosa.

P.S. Não uso pontos finais em títulos. Mas esse se fez necessário.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Vidas sem vida

Anita nutre pelos livros um sentimento estranho. Ora os adora, ora os odeia. “Os livros são traidores”, pensa. Quando quer companhia, eles não a negam. Estão sempre prontos na estante, para quando ela preferir. Ela tem o poder sobre eles, abre e fecha quando quiser. Pode até pular o que considerar maçante, se assim preferir, mas nunca o faz.
Porém, não se pode confiar nos livros, pois eles a tornam refém. Fingem contar-lhe tudo. Nenhum personagem escapa aos olhos da leitora e é por isso que fica cativa. Anita sente-se responsável pela vida de cada um. Não importa se são bons ou maus, a vida deles está em suas mãos e cada um merece ter o seu final. Ela pode, com um marca-páginas, estagnar o andamento das coisas, fazer com que aquele momento seja eterno. Se ela não terminar, a vida deles será incompleta. Por várias vezes teve o ímpeto de não continuar, mas a agonia de um eterno marasmo na vida dos personagens a fez voltar. Imaginou que alguém poderia interromper a leitura de sua trajetória neste exato momento e ela seria obrigada a acordar e dormir eternamente como hoje. Odiou a idéia e teve a certeza de que nenhum livro deve ser lido pela metade. Ele pode não ser interessante, mas é dever do leitor terminar o que iniciou.
Por tudo isso, Anita é metódica ao escolher o título que irá ler. Pede sempre informações e nunca lê a contracapa se ela tiver trechos ou o resumo do livro. Gosta das críticas, de saber se é considerado bom ou ruim. Contudo, nem sempre acredita nelas, prefere a sua própria opinião. Acha um desrespeito saber da vida do personagem sem antes ser apresentada a ele.
Em alguns casos, ela sente ódio pelo autor. Sente ódio se a história não vai bem ou se não a surpreende, pois de previsível basta a sua vida. Mas o que considera traição é o fim, quando não está preparada para isso, quando sabe que aquela história poderia continuar. Quando um livro bom termina, ela sente um vazio, uma sensação de inexistência, que só um ótimo personagem pode lhe causar.
Gosta das histórias longas e nunca assiste ao filme sem antes ler o livro. Sente prazer em criar os personagens em sua mente, imaginar com quem se parecem, como são seus olhares e sorrisos. É também leitora assídua de crônicas, amores de carnaval.
Anita não gosta de presentear com livros. Ela é egoísta. Os quer para sempre, para ela, disponíveis na estante. Nunca deu a ninguém um livro que comprou para si. Há um que tenta esconder de sua mãe, pois ela não compreenderia tal conteúdo na mente da filha. Ela o deixa sem visibilidade na prateleira, tal como está sua vida agora, mas não tem autoridade suficiente para se livrar.

Saudades, Terezinha

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Dó, dor, dói.
Só, amor, foi.


tsc tsc

Luiza.