sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Que venham os verões

Fazíamos a penúltima das viagens que nos levavam, pelo menos quinzenalmente, aos campos gerais do estado para o procurado aperfeiçoamento profissional. De fato, era sempre uma alegria: a galera, as aulas, o certo entusiasmo, os intervalos, os cafés, os chopp´s e as agüinhas no dia seguinte.

Não queríamos romper com uma ligação que só nos tinha feito bem naquele ano que foi ímpar - literal e conotativamente falando, é claro! Bom, já que a viagem de volta era longa nos botamos, eu e Rosa, a pensar em algo que pudesse manter em contato e que nos viabilizasse a informação freqüente sobre o que se passava na vida de cada uma das três.

Então, como já dito, surgiu o blog. Tirando o fato de que as atualizações não tiveram um ritmo identificável quanto a freqüência das postagens, acho que grande parte do proposto conseguimos cumprir. Pois, em meio as linhas de cada uma de nós, surgiam também os sorrateiros sentimentos constantes no ar. E... concordo com a Rosa. Talvez tudo ainda nos lembre como meninas, talvez seja isso mesmo, talvez demore isso a mudar, mas algo me diz, e me conforto em saber, que este ano que se avizinha será outro ano ímpar!!

Que nossos medos realmente caminhem para mais longe a medida que vamos seguindo novas estradas, e que esses caminhos sejam bem opostos. Acho que a palavra do ano, que desejo à todos, não só as de Athenas, é AUDÁCIA! Que ela nos tome e nos leve para frente. Mesmo porque, sabemos sim, que nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça. Então, bora lá!!

Feliz primeiro um ano de blog e que venham todos os outros.

ps. - Sobre o nome: Eu que tinha escolhido a mulher que passava a vida a esperar na janela, fiquei cansadinha. É, isso mesmo. Quero ver novos retratos, nem que seja através de janelas, mas de oooutras janelas. Por isso agora Luiza é meu nome, e, que como a Luiza, ganhe os sete mil amores, afinal, nada como o “milagre da renovação” pra uma nova esperança?? Hááá.

ps. 1 – Devo um pedido de desculpas à Rosa e Terezinha pelo post sair somente hoje. Sorry!

Saudações,

Luiza.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Que tudo se realize, no ano que vai nascer...

Parabéns para nós, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida!
Acho que merecemos sim este chavão dos aniversários! Afinal, especialmente para mim, ter e manter um blog (por um ano!) é uma conquista... Eu, que como diz Rosa, sou uma menina medrosa, que tem um enorme medo de expor seus pensamentos assim, tão abertamente e estar pronta para as críticas e comentários. Devo revelar um segredo, cada comentário, mesmo pequeno, me faz feliz. Faz com que eu tenha a certeza de que não estamos sozinhas, de que não escrevemos para o nada!
Às minhas companheiras, deixo um obrigada! Obrigada pelas conversas, risadas e amizade! A cada dia vocês ganham uma importância maior na minha vida! Desejo que 2009 seja o ano em que nossos melhores e maiores desejos se realizem!

Que tudo se realize, no ano que vai nascer! Muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender!

Um abraço daquela que promete estar mais presente em 2009,
Terezinha

Feliz primeiro aniversário

Uma coisa que passou a me intrigar ao longo desse ano de (in)certezas , raivas e divagações compartilhadas foi o nome desse espaço. Na empolgação de criar um blog, de reunir amigas fadadas ao esquecimento por causa da distância, de dividir frustrações e ironias cotidianas, sofremos um pouco para encontrar um título que reunisse tudo isso e que de alguma forma nos representasse. As conclusões advindas de uma conversa bastante existencial nos trouxe a música do Chico, um pouco pela letra, mas também pela incompreensão que ela gerou. Ótimo, seremos então as Mulheres de Athenas (com H, porque as de Atenas já existiam). O que me pergunto hoje, especialmente, é se temos o direito de nos intitular Mulheres. Digo isso porque lendo e relendo nossos escritos, acredito que muito de nós que respira aqui é ainda nossas almas de meninas. Não só meninas, mas meninas medrosas. Meninas que têm medo de repetir a geração anterior, medo do futuro profissional, medo (talvez um pouco) de mudanças e medo, sobretudo, do amor.
Que não tenhamos medo. É o que desejo para esse segundo ano de blog e para 2009, que acredito eu, será o ano de muitos renascimentos.
Amo vocês.

Com carinho, Rosa.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Ela não disse, mas sentiu

"Pois, quem pode saber o que é bom para o homem na vida, durante os dias de sua vã existência, que ele atravessa como uma sombra? Quem poderá dizer ao homem o que acontecerá depois dele debaixo do sol?" (Eclesiastes 6,12)

Ela acordou com uma vontade de chorar. Não pelo visível, não pelo que aconteceu na noite anterior, não pelo que ouvira, muito menos pelo que não ouvira. Só uma vontade contida, mas cortante por dentro. Um desejo de chorar, mas que só se manifestava internamente. Internamente tudo borbulhava, prestes à ebulição. Seria mais fácil se de uma hora para outra ela se acabasse em prantos, porque pelo menos todos saberiam que algo lhe afligia. Não seria como estava agora, tentando disfarçar em frente à tela, com o olhar perdido, esforçando-se em manter a atenção na conversa. “Ser triste é perda de tempo”, ouvira o chefe dizer. E ser feliz é o quê? É otimizar o tempo, é a melhor coisa que existe? E por que a alegria é tão efêmera e dá, de uma hora para outra, lugar para a tristeza, esta sim que não tem fim?

Ela foi à igreja. Lá encontraria a cura dos seus males, certamente. Coincidentemente, o tema da celebração era a alegria. “Nós, os cristãos, devemos ser alegres”. E pela primeira vez não se sentiu cristã. Porque ela não tinha aquele semblante pujante de quem encontrou os braços do Senhor. Sentia-se menor por isso. “A busca da alegria é a busca de Deus, disse Santo Agostinho” e, enquanto o padre falava, ela parou para pensar de que forma buscava Deus, se o buscava e por que não encontrava a alegria que vem com Ele. “Eu sou triste e acho que sempre será assim”, um amigo lhe confidenciou. “É isso que os existencialistas chamam de angústia”, disse a ela. Não, ela haveria de renegar esse triste e pobre destino! Não queria passar a vida toda desassossegada, sabendo que algo está por lhe faltar. “E alguma coisa a gente tem que amar. Mas o que, não sei mais”, o músico cantava. E isso que não se sabe que nome tem, quando falta dá lugar a outro sentimento, também sem nome, o da falta de. Seria angústia, companheira pelo resto dos dias? Seria tristeza, afinal? Não conseguia dar bom dia à tristeza, como Vinícius. Mas sentia a tristeza como quem a carrega no ombro, como um papagaio de pirata.

Ela pensou se vagaria sempre assim. Solitária, porque não acreditava em amor para a vida toda, inquieta, porque o saber a lembrava que era ignorante de muitas outras coisas, medrosa, porque sabia do porto, mas o porto não a sabia. “Barco sem porto. Sem rumo, sem vela”. À flor da pele.
“A alegria está no Senhor no meio de nós”, o padre continuava, quase no fim do sermão. Onde encontrá-los? Sabia-se triste, mas não sabia o motivo, não sabia como contornar a tristeza que chovia por dentro, anoitecendo a alma. Sentia medo de ser acompanhada pela sombra que agora lhe afligia pelo restante dos dias. Tinha medo de habitar a cidade fria e escura pelo restante dos dias. Tinha medo de começar os dias, sempre tão iguais, pelo restante dos dias. “Do que você tem medo, afinal? Não seria de você mesma?” Talvez, ela respondia à amiga.

Mas era tão inofensiva, que não poderia meter medo à coisa alguma. Carregava em si não a beleza, mas qualquer coisa de triste, qualquer coisa de saudade, qualquer coisa de coisa nenhuma. Não dizia sim a nenhuma causa, porque isso implicaria dizer não a inúmeras outras coisas. Essas totalmente dispensáveis e sem a pá de moinho que move os corações. E na solidão dos dias, no sermão, nas conversas, não chegou à conclusão nenhuma. Talvez porque as respostas não poderiam ser encontradas quando a dor, no fundo, esconde uma pontinha de prazer.

Beatriz, triste, pra não rimar.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Eu que não rezo fui à missa

"Só aceito jesus se ele deixar scrap..."

Como as coisas se tornam, de certa maneira, engraçadas à medida que conseguimos apreender alguns códigos negociáveis para tornar a convivência humana mais agradável e madura.

Há mais de sete anos que deixei de ir à igreja, assistir missas. Minha formação católica levou-me, desde muito cedo, aos sermões do evangelho e ao aprendizado dos mandamentos, através da catequese.

Mas, no decorrer do caminho, isso passou a ser desnecessário em minha vida e à partir do momento em que fui aprofundando minha formação em várias dimensões, mas principalmente na política, a religião, definitivamente, saltou para bem longe de mim – graças a deus que não existe.

Na verdade, se olhar mais a fundo, a influência veio de dentro de casa mesmo. Meu pai só pisava na igreja em ocasiões especiais como comunhão e crisma das filhas mais velhas e o batizado de sua caçula, que, para o desespero de minha mãe, foi realizado numa salinha escondida, bem longe do altar onde repousava seu cristo.

Lembro-me vagamente do dia, mas, pelos retratos e pelas lamentações da mãe, sei que meu pai tinha tomado umas e outras no bar do cunhado antes do ato religioso. Hoje, passados os anos, rimos muito do ocorrido, mas não deve ter sido - nem de longe - um bom momento na vida matrimonial.

Minhas irmãs seguiram o mesmo caminho. A mais velha diz que acredita, mas à missa não vai. A caçula, com uma convicção espantosa, diz que só irá quando o pai for, para tristeza de minha mãe que acabou se acostumando em fazer suas novenas antes de dormir.

Ontem, eu fui à missa acompanhada de minha nova família. Eu que não rezo, ouvi três leituras do evangelho, passando pelos comentários, preces e... contei os minutos para que o amém final fosse dito pelo sacerdote.

Depois da cerimônia, caso acreditasse na existência de pecados, teria que rezar um terço inteiro, porque “ai de mim” se deus soubesse que pensamentos passavam pela minha cabeça quando acompanhava a ladainha do pai nosso. Se isso acontecesse, acho que o senhor seu diabo estaria me esperando logo na saída da igreja.

No limite, nada como um esforço ou outro para manter a boa convivência, porque não tinha como negar a ida para uma nova mãe, um novo pai e uma nova irmã. Mas isso é só no início – espero que não se acostumem mal.

Aliás, no final das contas me saí muito bem na fita, porque minha mãe – a verdadeira – ficou incrivelmente feliz com a notícia e até pediu pra eu agradecer meu novo emprego. Agradeci nada! Se devo a alguém essa realização, é a um advogado – que mesmo em caso de ser do diabo – é muito bom!!


Ass. Carolina (6)

domingo, 7 de dezembro de 2008

“She said bye bye”

Fazia frio em pleno mês de dezembro. Ela caminhava pelas ruas de uma cidade estranha sob um sol pouco agradável. Observou algumas pessoas pelo caminho, mas estava com o pensamento longe. Não queria ter dito um adeus, muito menos o “até mais”, expressão que deixava uma lacuna ainda maior no tempo já confuso.

Eram tempos em que há anos não se registrava, nos sóis de dezembro, um vento frio batendo, embora um pouco fraco, cortante. Mas isso já não incomodava ela, que continuava lembrando da hora em que não queria ter partido, mesmo sabendo que a saída poderia render boas chegadas.

O motivo do desconforto se aprofundava com a presença de um velho acompanhante que cochichava ao seu ouvido. Algumas vezes ele sumia, mas voltava a aparecer. Era um velho rabugento que, de certo, não havia tido a vida esperada e tentava alertá-la para os detalhes que passavam e que poderiam fazer a diferença. O velho vestia uma sobrecasaca escura e um chapéu do mesmo tom. Dizia que os momentos simplesmente passavam. “Coisa mais óbvia”, pensava ela dando de ombros.

Sabia que era coisa que todo mundo já tinha conhecimento, mas, contraditoriamente, tinha a certeza de que somente algumas pessoas governavam bem o fato. E, assim, o que ela – cansada de subir aquele morro interminável da rua desconhecida – não tirava da cabeça era um daqueles acontecimentos do acaso, que nos últimos dias tinha reacendido um sentimento gostoso de saborear.

Ele era o motivo do sabor gostoso e do acaso da vida. De alguma forma esse sujeito marcava a memória dela com lembranças de uma companhia que lhe completava, naquelas horas compartilhadas.

O conheceu há algum tempo atrás, quando pouco sabia da vida e se deixava levar pelos impulsos incontroláveis de uma idade boba. Depois, por motivos diversos, tinha saído de seus dias e deixado algumas marcas, agradáveis – na maioria delas. Lembrava disso tudo num daqueles filmes que passam seguidamente pela cabeça.

Depois, vencida a ladeira, chegou numa parte plana da rua e viu que aquele velho rabugento tinha razão, contudo, sabia que os bons momentos não ficavam presos em si, eles também escapavam por entre os dedos. Melancólica, lamentou, pois teve que dizer um “até mais” ressentido, não poderia pedir pra ele ficar em sua vida da forma que queria.

Assim, continuou a caminhar, se aproximando cada vez mais da nova casa e com medo de perdê-lo de vista novamente, porque sabia que, mesmo sem querer, o tempo continuaria a desafiar a vida, não só naquele momento. O velho continuou resmungando pra ela, em vão, uma vez que não sabia o que fazer para não acontecer o que já estava a caminho. Entrou, fechou a porta e foi lavar o rosto. No espelho, viu que, mesmo com o frio, o sol lhe tinha queimado.

Carolina e... só.

ps. Helena, APAREÇAA!!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

De mãos desatadas

"João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história" (Quadrilha, Carlos Drummond de Andrade)

Sinto-me como em uma quadrilha, à la Drummond
Mas embora sobrem-me pares
Não estou de mãos dadas com ninguém

Otávio não amava Beatriz, porque amar é uma palavra muito forte
Era algo bacana, mas passava longe de se apaixonar.

Beatriz amava Hugo. Será?
Talvez porque ele é o único com o qual ela não poderia ficar.

Mas pensando bem, Beatriz sabia que Ernesto era o cara certo para namorar.
Pena que ele morava lá em Belém do Pará.

Talvez eu tenha vocação para Maria, a que ficou para tia, ou para Teresa, a do convento.
Ou quem sabe seja como outra Teresa, a "inha" de Jesus.
E de tão atrapalhada não soube a quem dar a mão e acabei abanando-a.

Dei adeus, a cada um mandei um abraço, piquei mula.
Talvez eu não faça parte da ciranda de pedra que é amar.

Da louca (ainda), Beatriz

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

UMA BEATRIZ PARA DOIS

“Flora, se visse os gestos de ambos, é provável que descesse do céu, e buscasse maneira de os ouvir perpetuamente, uma Beatriz para dois. Mas não viu ou não lhe pareceu bem descer. Talvez não achasse necessidade de tornar cá, para servir de madrinha a um duelo que deixara em meio.” (Trecho de Esaú e Jacó, Machado de Assis)

Sou de Tiago.
Sou de Lucas.
Tiago é Capricórnio
Lucas é Escorpião
Tiago é mais velho
Lucas é mais novo
Tiago tem emprego
Lucas é estudante
Tiago anda de carro
Lucas de bicicleta
Para Tiago eu me maquio
Para Lucas eu cozinho
Com Tiago eu vou ao bar
Com Lucas à missa
Os sábados são de Tiago
Os domingos de Lucas
Com Tiago madrugadas beijando
Com Lucas só conversando
Capricórnio me instiga
Escorpião me ganha
Tiago é inteligente
Lucas toca violão
Tiago tenta ir além
Lucas me abraça
Tiago quando escreve me abala
Lucas quando sorri me desarma
Para Tiago a ausência é normal
Para Lucas faço falta
Com Tiago não há muita conversa
Para Lucas conto segredos
Para Tiago pergunto o que há
Para Lucas digo coisas que lhe fazem pensar
Tiago é Caim
Lucas é Abel
Não sei dos fantasmas de Tiago
Sei que Lucas para o dele deve voltar
Eu e Tiago nos beijamos só escondidos
Eu e Lucas só nos entendemos no olhar
Sei bem menos que os olhos castanhos de Tiago
Queria encarar os olhos castanhos de Lucas sem piscar
Tiago é cabeça dura, razão
Lucas é coração mole, emoção
Tiago é canalha
Lucas é gentil
Tiago é irredutível
Lucas é comovido
A escrita de Tiago é impecável
A de Lucas esbarra na concordância
Tiago me beija e nada mais
Lucas me olha e nem há mais
O nada mais de Tiago é algo sério
O mais de Lucas é carne
Tiago esquece os compromissos
Lucas lembra minha música
Tiago é blues
Lucas é pop rock
Para Tiago sou mais uma
Para Lucas sou amiga leal
Tiago é pecador
Lucas é santo
De Tiago não sei o que quer de mim
De Lucas desconfio de muita coisa

E eu me divido entre Esaú e Jacó
Com Tiago sou pervertida
Com Lucas sou angelical

Na verdade, queria um terceiro
Um André ou Paulo, sei lá
Alguém que não fosse nem Lucas nem Tiago
Nem tanto a terra, nem tanto ao mar
Alguém mais igual a mim
Assim, um meio-termo.


Me chame de doida, ou de Beatriz.

sábado, 15 de novembro de 2008

Desabafo sem métrica

"Cadê a tampa da pasta de dentes?
Minha escova, onde eu deixei?
O espelho me olha impaciente
Eu ia me encontrar e me atrasei..."


De como se perder...

Carolina nunca gostou de escrever frases com reticências. Achava sempre muito tosco uma pessoa escrever orações verbais e deixar aqueles três pontinhos no final, como se não conseguissem racionar ou dar um ponto final em coisas simples.

Mas atualmente ela tem escrito nove em cada dez frases com reticências e ao escrevê-las também saboreia o gosto de sentir-se reticente, em tudo. Na verdade, tem lembrado que as coisas não se decidem de um momento pro outro e talvez nunca se resolvam, por isso a importância de manter a calma e seguir em frente, por pior que seja.

Acho que por algum tempo tinha esquecido que - tudo - quanto mais simples mais complexo. Uma manhã levantou sem saber o que fazer com a vida que não ia muito bem e novamente sentiu outro gosto, de que era muito fácil se perder pelo caminho. Pensou nisso porque algumas coisas sempre estavam certas no seu papel de planos para o futuro, mas de uma hora pra outra levou um tombo, daqueles que demoram pra levantar e nunca mais soube o que fazer.

Percebeu que o que mais a incomodava era o fato de que não conseguia ver nada à frente, e sentiu-se vazia como nunca cogitou sentir-se, nem em seus sonhos mais loucos o subconsciente deixava isso acontecer. “Realmente é fácil perder-se...”, falou baixinho com medo e com as reticências.

A partir daí colocou uma meta na cabeça – uma nota mental como diria sua amiga Beatriz. “Encontrar-se”. Uma só palavra, simples assim. Mas no simples vocês já sabem o que existe. E só.



Da ausente Carolina.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Me and myself

Coisas que eu queria dizer...

- Emprego bom, daqueles que pagam bem, que você só faz o que gosta, que teu chefe te paparica e se ajoelha por você, uma pessoa talentosa e super inteligente, estar na empresa dele, só em sonho. Ainda mais em início de carreira. Então, cai na real, babe.

- Minha filha... Seja sincera consigo mesma. Olhe em volta. Os sorrisos que você dá por obrigação, o cara que você agüentou por falta de opção, a faculdade que você reza para sair, tudo isso é realmente o que você quis para sua vida? As amizades que você sai caçando, oferecendo qualquer regalo em troca de agüentar sua superficialidade, não irão te agüentar por muito tempo. E vai acontecer o que tanto seu coraçãozinho de papel crepom com glitter teme: ficar sozinha.

- Pessoas que se dizem “mente aberta” não deveriam ter preconceitos ou então ter poucos deles, ou eu tô enganada? Será que você se diz liberal e desencanado somente porque não quer que te condenem? É, porque na hora de condenar os outros... a língua é afiada.

- Querida, se ele não é fiel agora, não acredite que de uma hora pra outra vai dar um estalo no dito cujo e ele vai começar a te respeitar. Ou abandona o bofe, ou deixa de explodir de ciúmes à toa e assume a condição de corna.

- (Para o amor da querida) Tem gente que parece que tem fogo (é, lá mesmo onde você está pensando). Então, pare de se comportar como uma cadela no cio e não engana mais a pobre coitada. Ou melhor, não se engane. O que você sente por ela é amor? É? E não é o suficiente, ô matador? Se não for, já que você não tem coragem mesmo de honrar o que tem no meio das pernas e acabar com essa farsa, segura teu facho aí.


... masss como não sou lá a rainha da coragem, eu engulo meu refrigerante, faço ‘aham’ com a cabeça e sigo a vida em frente.

De Beatriz, ou de seu alterego, vai saber....

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Eu não sei em quem votar!

Eu nunca imaginei que um dia chegaria ao ponto de me sentir muito mal por isso... Não deixa de ter um lado bom: estou mais consciente! Talvez esteja me transformando numa cidadã digna deste título!

Eu não vou nem mentir dizendo que corri atrás para conhecer as propostas dos candidatos. Para falar bem a verdade, analisei aquelas que vieram até mim! E isso pode servir de dica para os políticos em suas campanhas! Mas quero salientar que quando eu falo destas propagandas, estou excluindo aquelas nos carros de som. Eu sempre penso: ‘Por que eu votaria em alguém que me deixou surda?”.

Quando estava praticamente certa de que votaria num tal professor... Antes de continuar esta frase, quero dizer que não colocarei nomes... Pois acho injusto, embora de justos eles não tenham nada, nomear os bois, contar seus defeitos, enquanto a boiada toda faz cagada!

Enfim, quando pensei que havia encontrado um bom candidato, uma pessoa que já fez alguma coisa pela educação em minha cidade, meu pai chega dizendo: “Olha... O professor me ofereceu álcool para votar nele... O que acha? Pegamos o álcool e não votamos ou não pegamos o álcool e não votamos?”. Ainda bem que ele não cogitou a possibilidade de votar nele...

Escolhi então um outro candidato. Este me pegou estendendo roupas no varal, ainda de pijamas, em pleno domingo e sentou na escada da cozinha para contar que vai lutar pela implantação de um centro de atendimento para uma doença específica, porque tem um filho com este problema e sempre enfrentou dificuldades para tratá-lo na cidade. Ele é médico, tem dinheiro e disse que se preocupava com as pessoas menos favorecidas. Conto da Carochinha para embolsar um salário a mais no final do mês? Não sei, afinal, ele não precisa disso para se manter...

Novamente, quando meu voto era dele, fui olhar na internet a declaração dos seus bens. Vocês não vão acreditar, com o meu salário, ou melhor, com menos do que o meu salário, eu posso comprar um terreno rural de 74 alqueires na cidade de Cruzeiro do Sul! Não acreditam? Nem eu acreditei! Mas o terreno que este candidato tem vale apenas R$ 700 (vou escrever para garantir que não haverá dúvidas: setecentos reais)!

Decepcionada, resolvi olhar a declaração de outros candidatos que eu cogitei escolher... Qual não foi minha surpresa ao perceber que com meu mísero salário eu poderia ter centenas de cotas de sociedades em empresas, pois muitos candidatos as possuem e elas valem apenas um real! É possível também ter apartamentos por R$ 500, terrenos e casas em ruas centrais da capital paranaense por R$ 350...

Depois, para completar minha tristeza, li uma coluna na Gazeta, de cujo autor não me recordo, na qual ele afirmava que a corrupção existe e é necessário votarmos nos corruptos, pois eles sim farão alguma coisa pelo povo, afinal, se perderem na eleição seguinte perderão muito, enquanto os honestos, se houver algum, terão apenas um salário a perder.

E agora José, João, Joana, Beatriz, Carolina, Maria?

Helena

PS: Quanto ao álcool, o tanque está praticamente cheio, então, ainda não decidimos... Nem sabemos se dará tempo de esvaziarmos o tanque antes da eleição! Talvez um quarto?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A virgem e o cronista

- Alô?
- Oi, Veríssimo? Quero falar com você sobre um problema.... Um problema quase social...
- Quem é você? Às duas da madrugada? Como tem meu telefone?
- Nada disso importa... – diz a interlocutora com um sotaqueestranhíssimo – Já assistiu àquela peça em que o personagem fala isso?– o silêncio a faz ter certeza de que ele não viu e não está interessado na peça – Mas deveria ver, é muito boa! Muito engraçada...
- Eu vou desligar...
- Não, não faça isso... Eu sou uma boa história...
- É?
- É... Sou virgem...
- E daí? Todas as mulheres nascem assim...
- Mas faz 30 anos que eu nasci....
- E você quer que eu te coma?
- Não! Credo! Que nojo!
- Nojo?
- Não... Quer dizer, sim... Sei lá! Eu não quero dar pra você... Maseu quero dar pra alguém...
- E você quer que eu indique um amigo então? Este tipo de coisa pega mal se eu indicar alguém... Sabe? É aquele tipo de função que um homem não pode delegar a outro...
- Aff! Não... Você não entende nada...
- Não mesmo! Você me liga de madrugada, me diz que é virgem, mas não quer que eu te coma, e exige que eu te entenda...
- Você quer dormir? Eu ligo pro Cony....
- Não, já perdi o sono...
- Na primeira vez que eu estava disposta a dar, eu dormi...
- Que cara incompetente!
- O quê?
- Eu não disse nada...
- Então, como eu ia te contando, a maconha me deu sono...
- Era só o que faltava... – diz indignado o cronista do outro lado da linha – Fumou um baseado hoje também?
- Não! Você entende tudo errado! Fumaram perto de mim! Ele foi aobanheiro e quando voltou eu estava apagada... Acho que o cheiro me fez mal...
- E daí desistiu de dar Bela Adormecida?
- Perdeu o clima...
- Eu sei...
- Sabe?
- Não... Quer dizer... Agora, por exemplo, perdi o sono...
- Você está comparando tesão com sono?
- É... Não... Talvez...
- Depois ninguém mais tentou... Tipo assim, tentou de verdade...
- E o que é tentar de verdade?
- Ahh... Vai querer que eu te fale da minha intimidade?
- Olha quem fala de intimidade?
- Você quer que eu fale sobre a mão dele na minha calcinha?
- ...
- Mas eu não vou falar... Pode perder as esperanças, está achando queisso aqui é disk sexo??? Então, depois deste da maconha, como uma vingançado destino, foi o cara que dormiu e eu fiquei na mão... Na verdade, nem na mão...
- E o que eu tenho a ver com tudo isso?
- Nada, só quero que você escreva uma coluna sobre o meu karma.
- Virgindade agora é karma?
- É... depois de uma certa idade, uma faculdade e outras formações...
- Você é bonita?
- Sou inteligente, se é que me entende...
- Hmm...
- Por quê?
- Sei lá... Já tem meu telefone, talvez queira meu endereço...
- Mas é muito audacioso mesmo! Eu liguei só para te dar uma boa história...
- E porque decidiu dar para mim?
- Quantas vezes eu vou ter que te dizer que eu não quero dar para você? – disse a virgem pau-sa-da-men-te para garantir a compreensão.
- Eu to falando da história!
- Ah! Porque eu gosto do jeito que você escreve.
- Então você quer que eu publique esta história?
- É... mas tem que ficar engraçada...
- Você acha engraçado ser virgem com esta idade? Eu acho um tanto 'trágico'...
- Pois é... Mas é engraçado... Eu tenho uma amiga devoradora de pintos...
- Meu Deus! Onde será que nós vamos chegar?
- Nós não nos falamos há anos....
- Por quê?
- Por falta de assunto... Então, você vai publicar a minha história?
- Não sei.. Tenho que pensar, achar um gancho...
- Ta bom... Vou ler sua coluna depois de amanhã porque a de hoje já está nas bancas.
- Aham... E se pensar melhor, talvez eu possa ajudar, ligue de novo...

Dois dias depois, a coluna mais lida do jornal: "A incrível história dadevoradora de pintos". Ela leu a coluna sem acreditar no que via: uma história ridícula sobre uma ninfomaníaca insaciável que se dizia mal-comida... E no final da história, dizia o cronista: "Era uma mulher muito sozinha. A única a amiga que teve era uma velha virgem, com quem não falava há anos por falta de assunto".


Inspirada por uma conversa entre as mulheres de Atenas,
Helena

domingo, 14 de setembro de 2008

Com a licença poética...

Martina e Claudia

Martina e Claudia costumavam dizer que eram infinitamente amigas. Colegas de faculdade, encontravam-se sete dias por semana. Sabiam tudo uma da outra, desde a aquisição de calcinhas novas às crises familiares. Davam-se bem, além de tudo, porque adoravam conversar e beber juntas. Noites de sábado repletas de vinho e fofocas. Para quê homens, infantis, estúpidos e entendiantes, quando se tem grandes amigas?
Claro que nas devidas proporções. Não eram lésbicas, afinal, havia nos homens uma peça fundamental da qual só eles dispunham. E às vezes iam a festas, nas quais dividiam ainda mais histórias. Na metade da noite cansavam-se das rodadas de tequila, paravam no balcão e observavam a festa com rigor acadêmico. Era sua maior diversão. Aos seus olhos, os passos de funk tornavam-se ritos coreografados da dança do acasalamento, os caras que perseguiam as mulheres eram machos predadores. E Martina e Claudia se recusavam a desfilar como se estivessem na vitrine de um açougue, para serem aprovadas ou não por exemplares nada exímios do sexo oposto. As noites acabavam mais cedo, mas sempre havia muita gargalhada para passarem o domingo.
Tinham tido pouco amores para rechear o currículo. Martina dizia que todas as suas histórias de amor juntas não davam um curta-metragem. Claudia tinha uns amores aqui, outros acolá, mas sempre desprezíveis. No terceiro encontro, via que não dava mais. No início da faculdade, ela e um colega tinham feito a babaquice de trocar uns beijos. O irmão havia lhe aconselhado: nunca, jamais, fique com colegas de faculdade. Ou vira namoro ou vira um estorvo para quem você tem que olhar na cara pelos quatro anos.
Aurélio era baixinho, metido a besta e tinha um sotaque mineiro misturado com um paulista arrastado que não atraía Claudia de maneira nenhuma. Mas enredaram-se numa história cheia de idas e vindas, sem ninguém se assumir, com direito a copos de cerveja na cara, declarações públicas de ódio recíproco, provocações de ciúmes e até uma trágica festa de aniversário dela, em que ele beijou outra, para protesto de todos os amigos presentes.
Tapas e beijos que duraram anos. Para ela, restou o asco. Achava que a recíproca era verdadeira, até que descobriu, no fim do quarto ano, que Aurélio nutria um sentimento mais profundo. Ele achava que Claudia era a mulher da sua vida.
Ela sabia disso porque Martina lhe contou. Era para ela que ele declarou, depois de umas rodadas de chopp, que não conseguia esquecer a “garota cheia de nove horas”, como ele se referia a Claudia, que nem deu ouvidos para a história que a outra lhe contava. Pelo contrário, dava gargalhadas.
Sem os encontros presenciais da faculdade, o sentimento virou pó. Foi só numa noite de sábado, dois anos depois de formadas, regadas a vinho do Porto, que o fantasma de Aurélio apareceu, para minar a irmandade das amigas.
- Esse cara do filme me lembra o Aurélio... disse, sonolenta, Claudia.
- Nossa, o Aurélio. Há quanto tempo a gente não fala o nome dele. - respondeu Martina.
- Graças ao bom Deus!
Depois das gargalhadas habituais, Martina coçou os olhos e falou, assim, como quem conta uma história corriqueira:
- Ainda lembro dele se lamentando comigo. Tinha uma época que ele aparecia na minha casa todo dia, um dia até chorou. Eu o proibi um monte de vezes de ligar na sua casa ou de chegar para falar com você nas festas. Ele falava que não conseguia viver sem você. Que queria te ligar, aparecer na sua casa de madrugada, que acordava à noite aflito sem dormir e só você vinha na mente dele. - riu.
A outra ficou em um longo silêncio. Depois, virou para a amiga e perguntou firme:
- E por que você nunca me falou isso?
- Isso, o quê? Claro que falei, boba. Disse um par de vezes!
- Não disse não! Você disse que um dia ele, bêbado, veio se queixar. Essa história de ir na sua casa, todo dia, de não conseguir dormir sem mim, isso você nunca havia falado!
- Ah, você não ia dar bola mesmo... Eu disse para ele desencanar.
- O quê? E agora você quer decidir as coisas por mim? Em um caso desses é comum a gente pelo menos contar para a pessoa, para pelo menos ela saber o que acha e aí então tomar uma decisão! Se eu não queria nada com ele, era meu direito dizer isso para ele! Mas peraí... Só pode ter uma explicação. Você me contaria tudo, como sempre faz, a menos...
- A menos que o quê, Claudia?
- A menos que você fosse apaixonada pelo Aurélio, Martina! Você era?
A outra não respondeu. Ficou em silêncio, desviando o olhar da amiga.
Claudia apanhou as coisas e saiu. Nunca mais se viram, nunca mais trocaram uma palavra.

da inspirada por uma conversa das Mulheres em uma madrugada de sábado, Beatriz

domingo, 31 de agosto de 2008

Coisas de mulher (e não só.. )

Há algum tempo venho pensando sobre algumas coisas em relação a nós, mulheres. Não só as de Atenas, digo no geral, no gênero feminino. E me pergunto, puta que o pariu, porque tem que ser tão difícil essa vida de mulher? E não é mais uma “ladainha feminista?”, não! Falo sério! É em tudo, desde relações sociais, já ancoradas no machismo e blá blá blá, isso já vem mudando há muito tempo, mas num ponto ainda saímos perdendo..

Mulher é emotiva, sentimental, preocupada com tudo e todos. Mulher é uma máquina extremamente complexa, que depende de uma engenhosa engrenagem pra funcionar – permitindo-me a metáfora. Enfim, não é fácil ser do sexo feminino!

E aí, em busca de algumas explicações, e dialogando com algumas pessoas que sabem muito mais do que a simples Carolina, cheguei a algumas constatações (obviamente que nenhuma descoberta), que me fizeram e me fazem a olhar as coisas de formas um pouco mais relaxadas, digamos assim.

O que nos diferencia dos homens? De forma escancaradamente simplificada... o sexo, é claro. Sim, o órgão feminino e o masculino. Aí começa a diferença de tudo: para o homem é tudo pra fora e para a mulher é tudo pra dentro, you know?!

Simmmm!! Por que dizem que pra mulher é tudo mais complicado? Nós dizemos, os homens dizem... Mas, quer saber?? Tudo é mais complicado mesmo, mas não por nossa culpa, pela própria anatomia humana. Querem ver?

Então, em relação a descoberta da sexualidade, ao início da vida sexual, ao sexo, ao prazer. Pro homem é muito mais simples, pois ele já nasce com a sua genitália exposta, ele convive com ela o tempo inteiro, tem que pegar pra fazer xixi, na hora de coçar, a todo o momento isso ta muito visível pra ele, praticamente na mão – sem trocadilhos.

Ahhh!! Mas pra mulher não, as coisas são mais escondidas, não precisamos conviver com a nossa genitália, enquanto crianças e até uma certa idade ela praticamente não existe, a não ser pelo fato de que usamos pra fazer xixi, mas até aí o contato é indireto, a secamos com a intermediação de um papel. Entendem?!

Por isso a demora da mulher se descobrir mulher, da dificuldade das mulheres acharem o seu prazer nas relações, e tudo o mais. Tudo é mais velado, e sorte das mais ousadas que não se reprimem e partem para a descoberta, e o azar das outras reside no fato de se nascer mulher e por algum motivo, ou outro, demorar a se descobrir e muitas vezes não se descobrir nunca. Quem nunca ouviu a história da vovó que só serviu para a ‘procriação’?

Sei que esse assunto é muito mais complexo do que certas toscas constatações, mas garanto que as mulheres sabem muito bem o que isso significa. Depois de tudo tive pensando que uma nova disciplina deveria entrar para o currículo de todos, sem exceção, meninos e meninas, desde cedo, é a educação sexual. Não só o fato de aprender a colocar a camisinha na banana, mas a lidar com a sexualidade não como algo pavoroso, mas que faz parte da vivencia humana, pra quando chegar na vida adulta ter tudo mais claro e resolvido.

Foi-se a época em que o prazer era negado pela igreja, e muito menos vivemos em tribos africanas que as mulheres tem o seu clitóris cortado de seu corpo. O ser humano é o único ser dotado de mecanismos que podem levar ao prazer, no ato sexual, porque então negar isso, tem que mais é se conhecer, mulheres não deixemos que a anatomia nos prejudique ainda mais.. por favor!!

Bem, mas depois de tudo onde eu quis chegar?! Well, no fato de que somos mais encucadas que os homens, e somos mesmo, quer saber?! Mas tudo isso acima é o que nos forma, então, entendam – homens – pra gente é mais difícil mesmo, mas nem por isso nos faz coitadinhas... O negócio é ter claro algumas coisas – e isso é uma delas – e tentar levar da melhor forma possível. Conhecimento é chave de tudo – o meu e o seu.

ps. Praticamente o Jairo Bauer falando.. hahahahaha

mas tudo bem.. vcs me entenderam, né.. ou não!?

bjs e
até,

Carolina.

domingo, 17 de agosto de 2008

Lutando por um chocolate

Furei a fila de novo para mostrar aquele tipo de coisa inútil mas que nos chamam a atenção por algum motivo... Recebi de um amigo este questionáriozinho e em vez de mandar para todo mundo, resolvi colocar aqui. Este é o tipo de coisa boba que nos faz pensar para onde estamos indo. Quase um epitáfio...
Parece idiota, mas sofri para responder!
Então, fique à vontade e saiba um pouco mais sobre a Helena.... e se quiser falar de você, responda também!

Eu quero: amor (em vários sentidos: amor de namorado, amor pela profissão, amor pela vida etc e tal)
Eu tenho: um diário que só eu leio
Eu acho: que as coisas só acontecem comigo
Eu odeio: a solidão
Eu sinto: saudades
Eu escuto: Nando Reis, Marisa Monte e O Teatro Mágico - e hoje tem uma rã coachando perto da minha janela
Eu cheiro: a um perfume que foi feito especialmente para mim (chique né?)
Eu imploro: que um dia eu tenha dinheiro suficiente para morar em Nova Iorque
Eu procuro: um namorado (huahuahua alguém se habilita?)
Eu arrependo-me: de não tê-lo beijado naquele dia, naquela foto
Eu amo: andar de bicicleta, sem rumo e ouvindo O Teatro
Eu sinto dor: quando eu vejo os sonhos morrerem (como quando vi o Diego Hypólito caindo e chorando)
Eu sinto a falta de: dinheiro
Eu me importo: com este mundo maluco em que vivemos
Eu sempre: choro antes de dormir
Eu não fico: satisfeita com menos do que eu esperava
Eu acredito: em Deus (com todas aquelas dúvidas que você sabe)
Eu danço: qualquer coisa se estiver com um 'pé-de-valsa' bem disposto a ser pisoteado (com ou sem hifen?)
Eu canto: quando estou dirigindo sozinha
Eu choro: (quase) sempre que sinto vontade
Eu falho: todos os dias
Eu luto: por um chocolate
Eu escrevo: diariamente (e às vezes secretamente) sobre minhas amarguras, alegrias, angústias e silêncios
Eu ganho: pouco
Eu perco: o amigo, mas não perco a piada (chavão, eu sei!)
Eu confundo-me: com as pessoas
Eu estou: magoada
Eu fico feliz quando: estou rindo com as pessoas que gosto
Eu tenho esperança: de ser uma profissional bem sucedida
Eu preciso: de dinheiro
Eu deveria: fazer dieta
Eu leio: menos do que gostaria
Eu sou: sincera
Eu faço: um macarrão como ninguém!
Eu vivo porque: tenho esperança no futuro
Eu tenho medo de: falhar
Eu desejo: uma certa pessoa

E eu poderia aumentar, mas sei que você não teria a paciência de saber mais sobre mim...
Mas, para finalizar:
Eu espero que: você tenha gostado e refletido sobre o que nós somos e para onde vamos...

Um abraço da azeda, mas nem tanto,
Helena

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Fulana de tal, no mundo real...


"Tudo quanto fazemos, na arte ou na vida, é a cópia imperfeita do que pensámos em fazer. Desdiz não só da perfeição externa, senão da perfeição interna; falha não só à regra do que deveria ser, senão à regra do que julgávamos que poderia ser. Somos ocos não só por dentro, senão também por fora, párias da antecipação e da promessa." Fernando Pessoa

Desde pequena Carolina pensava como seria sua vida adulta, podem me dizer que isso é comum entre todas as pessoas, mas, por outro lado, posso dizer que ela sonhava demais, e demasiadamente sonhando levava seus pensamentos às alturas. Imaginava o par perfeito, no lugar e no tempo exato - e de quebra com a trilha sonora que tocava na única rádio da cidade vizinha, considerando ser a perfeita.

Sonhava com o emprego em que seria reconhecida como grande profissional. Sendo grande profissional imaginava a casa modesta, não era de luxo. Modesta, mas só dela. Sim, adorava pensar que seria independente como certas mulheres que via em filmes ou novelas baratas.
Algumas vezes, Carolina se pegava aos prantos na janela olhando o infinito e escutando aquela música – aquela perfeita da rádio – e o momento em que estaria descendo uma escada e pulando nos braços daquele menino por quem escondia paixão platônica, como de costume.

Seu sonho sempre foi ver colado na testa das pessoas uma plaquinha, tipo um letreiro eletrônico, onde constaria o que cada pessoa achava sobre a menina Carolina. Cada detalhe, cada adjetivo. Para os de fora, percepção óbvia do que viria a ser sua extrema preocupação pelo que os outros pensavam dela – pobre criatura.

Um dia Carolina leu em qualquer canto que as pessoas que sonhavam demais eram medíocres, pois não viam na sua própria volta o que as cercava e que poderia ser tão bom quanto os sonhos. Mas aí já era tarde, Carolina sonhava, e depois de cada sonho vinha a frustração de não realiza-lo, ou pior, de achar que poderia fazê-lo sempre de forma diferente com aquilo que acontecia.

Mas não era culpa dela, afinal, quem ensinou Carolina a viver sonhando e perder a vida nos sonhos? Naquela altura ela não sabia mais, estava envolta em coisas que não tinha se dado conta que havia feito, e nem até onde tinha chegado, porque ela nunca esteve lá... e nem cá. Ela era apenas mais uma fulana de tal, perdida no mundo real. Era aquela Carolina que continuava esperando na janela.


Ps. Depois de longo período distante,

Carolina, como sempre, a do Chico.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Certezas

Eu tenho poucas certezas na vida e hoje eu descobri uma delas. Apesar do desespero, da insatisfação com muita coisa, dos sonhos que de alguma forma parecem interrompidos e da tristeza que tem me acompanhado nos últimos dias, eu sei qual a profissão que eu quero seguir. Estou no caminho. Eu amo as minhas letras e não as deles! É preciso explicar, então vamos lá.

Hoje acompanhei uma equipe de reportagem num trabalho para um jornal. Matéria especial, daquelas que só eu sei o quanto gosto de escrever. Daquelas que você conhece o personagem e se apaixona por sua história. Nestes casos, por mais longo que seja o texto e mesmo que receba elogios sobre quão completo ele está, haverá sempre a sensação de que muita coisa foi deixada de fora. Há uma certa tristeza em publicar, pois parece que a história não deveria terminar assim. E eu estava ali, mas não era a repórter. Era apenas a assessora.

E quando vi tudo isso percebi que estava segurando o choro, que são estes sentimentos que estão faltando na minha vida. Tomei consciência de que eu quero e talvez muito mais do que querer, eu preciso voltar a sentir tudo isso. Hoje e só hoje eu compreendo as falas de grandes profissionais, quando dizem que o amor é fundamental.

No final de tudo, não bastasse todo este sentimento, fui tentar por a casa em ordem, pois passei o dia todo 'borboleteando' por aí. Dentre as atribuições, precisava fixar alguns avisos nas salas de aula. Até que um amigo (e ele vai saber que foi ele e não deve se sentir culpado por isso) me disse algo mais ou menos assim: "Eu, quando fizer jornalismo, vou me dedicar para ir além de pregar cartazes". Foi uma brincadeira bem humorada e eu ri. Mas isso me faz ter mais uma certeza, eu sou maior do que isso. Eu sei fazer mais do que isso.

Não quero que o blog vire um espaço de lamentação. Ele também é maior que isso. Mas hoje eu precisava... E quero também ouvir, quais são as suas certezas?

Helena (Não estou azeda, mas um tanto amarga...)

PS: Carolina, por favor, sente aí e escreva alguma coisa e, se possível, mude de assunto.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Desabafo jornalístico

Li um conselho para jovens jornalistas: trabalhe mais do que o horário estipulado, sujeite-se a ganhar pouco, azucrine todos no meio para entrar no mercado. Profissão árdua essa. Trabalha-se muito, sem reconhecimento. Ganha-se pouco. Expectativa de aumento? Pfff, quase nula. Seu trabalho é submetido a crivos nada críveis. Censores, geralmente muito censores e pouco jornalistas.
Penso isso enquanto estou sentada, esperando para fechar um trabalho. Um trabalho no qual acredito, tenho que acreditar. Sentada nas escadas de uma tevê esquecida. Com cheiro e gosto de poeira na boca, depois de ter me embrenhado no mato para coletar imagens. Imagens não muito boas, sofridas.
Jornalista tem que amar, ter raça, vontade de pegar no batente. Jornalista não nasceu para ser empreendedor, se o fosse, deixaria de ser jornalista - diz a outra parte do texto que li.
E por que amar essa profissão se está cada vez mais difícil atingir estabilidade, ganhar dinheiro, crescer? Ou será que é fácil, mas ainda não encontrei a fórmula? Reúno três péssimas características para alguém que pretende subir na vida a passos largos. Sou mulher, sou jornalista e nunca precisei trabalhar para sobreviver. Só me resta a vontade de ser, fazer e crescer.
Nossa geração é acomodada, por acreditar que sentar a bunda em cadeira universitária por 4 anos seja o suficiente. Não. É preciso aprender com as gerações anteriores, pais e avós. Eles tinham, parece-me, mais necessidade e até mais criatividade. Sobrou-nos a vontade, que ora me escapa ante o desânimo e as dificuldades.

Beatriz, azeda.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Três textos curtos, três idéias longas

PS: Começo o texto com um PS para dizer que estou num momento, eu diria, etnocentrista, então, falei de mim, apenas...


Dualista
Deus... Intrigante demais para mim! É uma questão que está sempre comigo e que me faz lembrar de uma frase do Padre Zezinho: “Deus só se torna uma grande resposta quando faz dele sua maior pergunta”. E este questionamento anda sempre comigo. Com quem eu falo? Para quem eu faço meus pedidos e abro o meu coração? Não sei, falo com algo que é maior que eu, mas que ao mesmo tempo cabe dentro de mim.
Deus tem sido um mistério cada vez maior na minha vida. Quanto mais eu tento entendê-lo, mais complexo ele parece. Contudo, sinto-o cada vez mais próximo de mim.
Quando vou à igreja, como manda a sociedade, ao contrário do que deveria ser, Deus parece se afastar na fala do padre, nas brincadeiras das crianças, nos ritos repetitivos.
Falar com Deus é mais que palavras. Queria conversar mais com Ele em minhas atitudes, que de alguma forma as pessoas vissem Deus no meu sorriso, nas minhas palavras...
Deus existe, eu sei. Está dentro de mim e em todos os lugares. E você, o que acha?

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Especialista
Eu já li um pouco de muita coisa, posso dizer que já ouvi falar um pouco de quase tudo. Prefiro, sinceramente, saber um pouco de tudo e tudo de nada. O diferente é mais interessante. Que graça teria se eu falasse apenas sobre mim, que é o que eu gosto mais?
O bom mesmo é tirar o foco do próprio umbigo. Falar de mim, dele, dela, de nós.
Gosto tanto de ser assim, ser muitas em uma só. Ser Helena, Carolina, Bianca, Cecília, Terezinha e tantas mais.

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Agora vou falar de amor.... Amor não, de sentimento, pois não tem nome, é sentimento e só.
Um amor platônico que não sabe que tinha este título. Talvez agora saiba, mas acho que ele não lê blogs... Enfim, eu achava que jamais nos encontraríamos e (quem diria?) conversaríamos. E uma amizade então? Incrível! Somos amigos... fomos algo a mais e agora amigos de novo...
E amor platônico materializado é misto de magia e desencanto, palavras ligadas e, neste momento, antagônicas. Um sonho que virou beijo e um beijo que não foi sonho.
Apesar dos pesares, ainda adoro seu sorriso, o mais charmoso, apesar dos dentes um tanto desalinhados. Ele não usa perfume, mas tem um cheiro tão bom, daqueles que dá vontade de abraçar... E para terminar:

Enterro
Acabo de descobrir que ele tem namorada.
Preparem os cartões, a missa e as lágrimas
Mandem-me condolências pelo romance mal acabado...

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Escrever, para mim, é aliviar a alma. Alguns fumam, outros gritam. Enquanto outros choram ou brigam... Às vezes eu penso e não escrevo, mas, na maioria das vezes, eu escrevo e não penso. Isso é uma verdade e serve como justificativa (e pedido de desculpas) para as linhas mal traçadas que acabaram de ler.

Até mais,

Helena

sábado, 24 de maio de 2008

De olhinhos puxados

Meu pai viajou anos e mais anos para a fantástica terra vizinha das muambas, o que fez com que minha casa vivesse abarrotada de quinquilharias “Made in Taiwan”. Lembro que a cada viagem (e eram muitas) ele me trazia um novo brinquedo. E cada vez que a gente descarregava as mercadorias na “loja” - que ficava dentro da cozinha de nossa casa, cheia de prateleiras para abrigar os mais variados objetos (de aparelhos de fax, tira-bolinhas a barbies paraguaias) - minha mãe escolhia e separava os exemplares mais finos para decorar nossa casa. Passados quase dez anos que meu pai deixou de fazer as viagens, os bibelôs permanecem e eu nunca tinha notado o quanto a escolha desses objetos oriundos d’além mar podem se interferir na nossa cultura e inclusive render reflexões.
Ontem mesmo, eu estava limpando a sala com minha mãe e falei que na nossa casa tinha tantas imagens de Buda, que parecíamos mais uma família de budistas antes de católicos fervorosos. Há alguns anos, tinha até moedas debaixo das imagens. Minha mãe riu e disse: Dá sorte.
Lembrei que eu, há muitos anos, achava engraçado que as estátuas de Nossa Senhora que vinham do Paraguai tinham todas expressões coreanas. Aqueles olhinhos puxados não se pareciam muito com a Maria que estamos acostumadas aqui. Eu era pequena e não tinha parado para refletir que este é um indício de que o homem constrói seus deuses à sua imagem e semelhança, afinal, nas escrituras sagradas está escrito que Deus criou seu homem tal qual Ele.

Estive conversando sobre isso ontem, com aqueles amigos de infância com quem a gente não se diverte apenas contando histórias, mas pode falar sobre tudo e qualquer outra coisa e, no fundo, antecipa algumas frases deles, porque a gente os conhece desde sempre. Algumas coisas nunca mudam.
E quando chegou no assunto de religião, vi que uma das minhas amigas, que passou anos endiabrando tudo e todos à sua volta (em especial esta que vos fala), parece ter se encontrado. Hoje ela sabe tudo sobre Hare Krishna, namastê, Osho e muitas dessas coisas das quais não entendo bulhufas. Para ela, é o suficiente para andar como se tivesse flutuando e achar tudo lindo, desde que seja feito com o coração. Algumas coisas parece que mudam, mas pode ser que apenas tenham se encaixado.

Estávamos em quatro pessoas. Ela, eu (católica praticante), um outro (católico revoltado) e mais uma (católica meia-boca). E por incrível que pareça as idéias que mais batiam eram as minhas e a da hare krishna. Porque acho que o que importa mesmo é acreditar. Fazer algo, seja seguir um ritual, comungar ou meditar, envolve sempre acreditar em uma coisa maior e que, acreditando, te faça bem. Muito além de mostrar aos outros ou cumprir uma obrigação, tem que fazer bem.
Se você vai à missa toda semana e gosta, se sente mais leve depois, que bom! Se você decora mantras, não come carne vermelha e essa é a sua religião, siga-a e seja feliz. Se você é ateu e isso faz todo o sentido para você, ótimo!
Meu pai é daqueles que sabem todas as orações católicas apostólicas romanas de cor e salteado. Minha mãe aprendeu muitas delas com ele, mas não abre mão de um pé de arruda na porta de casa ou das imagens de Buda. Meu irmão já pintou na parede a imagem de um deus metal, que precisou de umas cinco mãos de tinta marfim para que os rabiscos fossem camuflados, doze anos depois.
Vai ver que a graça do mundo é que todos temos opiniões diferentes. E a graça maior está em aceitarmos o que vem de fora, sem repudiarmos, olharmos de cara feia ou batermos boca. Uma vez o jornalista José Arbex Jr. foi perguntado sobre o que ele achava mais importante para ser um jornalista. Ele respondeu que era a capacidade de sempre rever os seus preconceitos. Abra bem os olhos e, se eles são as janelas para sua alma, abra-a também. E o mais importante:
Tudo, tudo o que fizerdes, fazei de todo o coração.

Ass. Beatriz, em um fantástico mundo em que todas as coisas são belas.

domingo, 18 de maio de 2008

Conversas com o (sub) consciente...

“Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
Só Carolina não viu...”


- Você não leva jeito mesmo, Carolina!! Mas agora não muda mais, já se acostumou a sempre andar atrasada, estar em cima da hora, todo dia a mesma coisa: lá vai ela desajeita, cabelo por pentear, tênis sujo e o jeans lavado. Não tem jeito, essa menina!
- Que menina o quê? Virou uma mulher, só ela que ainda não percebeu!
- É talvez não tenha percebido mesmo, olho no espelho e não vejo tanta diferença. E é bem provável que me vista assim porque não queira ser notada, já pensaram nisso? Que maravilha é não ter que se incomodar em ser percebida e provocar olhares curiosos, espantados ou devastadores. Doce obscura cena a luz do dia!
- Não querer ser notada e esconder-se ao mesmo tempo? Quase um paradoxo, ora, se você não quer ser notada, não será notada, então porque esconder-se se já não te olham?
- Já não me olham?? Achei que me olhassem, e por mania de perseguição me escondo. Mas ao mesmo tempo que enquanto criança me escondo é por medo que me vejam, mas é um querer que me olhem mesmo assim, entende??
- Não.. humm, hã... talvez sim. Você se esconde pensando que te olham, mas se te esconde, desse medo você não pode sofrer, porque escondida não te enxergam! Que tal você começar a se mostrar, aí depois veja se é hora de se esconder.
- Não adianta, já tentei avisar Carolina, já disse que ela não toma jeito!
- É, acho que o erro dela é esperar na janela, falseando o rosto como numa moldura de quadro, fingindo não existir, existindo sem saber, sofrendo sem viver.

Sem mais delongas,

ass. O Sub (daquelas mulheres, que não eu, !OBVIAMENTE!)

terça-feira, 6 de maio de 2008

Pausa para reflexão (e espera do texto da Carol)

Em semana de Dia das Mães, é espantoso ver a quantidade de seções especiais para mulheres na mídia. O que mais dá medo é ver que, passadas décadas e mais décadas das revistinhas que nossas bisavós liam, os assuntos tendem a ser os mesmos. Os suplementos dos jornais especiais para mulheres, as revistas femininas (e aqui entra uma variedade infinita, de Nova à Tititi) e até as seções em sites de notícias na internet trazem, invariavelmente, os mesmos assuntos. Maternidade, família, dicas de beleza, fofocas de famosos e novelas, boa forma. Não sou mãe, nem matriarca, e, particularmente, acho que tem coisa mais interessante para ler do que dieta da lua e como fazer chapinha no inverno. Até porque, se li alguma vez esses assuntos, deve ter sido há anos. Depois, eles acabaram sendo requentados, conforme convêm às editorias...
Não posso negar que me emocionei com a história da pequena Ana Maria, bebê de proveta, nascida depois de anos de espera pela mãe vendedora e o pai marceneiro. Mas minha emoção se deve muito ao fato de que ultimamente ando tão à flor da pele que qualquer historieta me faz chorar. O fato é que sou leitora voraz, mas, comumente, essa mídia não me retrata. Quem sabe retrate uma parcela de mulheres, mas sabe-se lá se elas consomem essas mídias? Então, onde está o erro? Existe um erro ou são só devaneios desta jornalista aqui? Acredito que as mulheres estão diferentes, mas não acho que isso tem sido refletido na mídia para elas. Penso que essa seria uma típica discussão entre mim e Carolina (a de Athenas). E como ela já me disse uma vez, "sabe que isso daria um ótimo texto?". Então, amiga, passo a bola pra você!

--
A notícia da vez é que (novamente) o texto sai! Simmm, ainda a maldição dos trabalhos curriculares!!

Atenciosamente,
Beatriz

sábado, 12 de abril de 2008

De volta

Poderia dizer que estava viajando para a Patagônia nesses últimos dias. Poderia inventar ainda que estava com dengue, ou febre amarela (agora é tão comum que alguém podia até acreditar). O fato é que estive aqui, como sempre. Sã e salva, como há tempos não estive. Mas a diferença é que tenho sentido muita, muita , muita saudade nos últimos tempos. E foi ela que me fez divagar.

***

A amiga que tive (texto escrito para mulheres)

Sabe né. A gente tem amiga para tudo. Amiga para dar risada da sua bola-fora, amiga para comprar roupa junto, amiga para revisar o trabalho que você fez de madrugada, atropelando toda e qualquer regra de concordância. Amiga pra dizer que você é burra e tapada por correr atrás dele ainda. Amiga para beber junto, porque tem a mesma resistência ao álcool, a mesma grana pra torrar com cerveja e o mesmo saco para freqüentar bar em segunda-feira chuvosa que você. Amiga que tem um gosto tão diferente do seu que você até pensa, de uma forma meio egoísta, que ela nunca vai te roubar um pretendente, mas mesmo assim você se questiona como sendo tão diferentes, conseguem ser tão amigas.
Já falei da incrível cumplicidade que une duas mulheres. Você pode adorar aquele seu amigo, ser fã dele e tudo mais. Você pode até trocar de roupa na frente dele. Ele pode até ser gay, não importa. É diferente a amizade que você sente por ele e a que você sente por outra mulher.
Você tem um irmão que é a sua cara, que dá risada contigo e detesta ir à casa de parentes tanto quanto você. Mas é diferente o que você sente por ele e o que você sente por sua irmã. Querer ser igual a mais velha, ser o modelo da mais nova, ou achar que se o mundo inteiro se virar contra você, ainda assim você terá uma pessoa com quem vai contar, são coisas que só quem tem uma irmã sabe. A mesma coisa com pai e mãe. Você os ama da mesma forma e repete isso aos quatro ventos e com toda a força do seu coração. Mas você sabe, no fundo sabe, que são amores diferentes. O que liga duas mulheres é mais carnal, é de sangue, o mesmo que vocês vêem descer quase ao mesmo momento quando convivem muito tempo lado a lado. É o sentimento forte, sólido e consistente, mesmo quando se maltratam.
Duas amigas, duas irmãs, mãe e filha. Isso é tão forte, que não sei explicar. Uma das histórias que mais me lembro da infância era o relato em uma revista (Abre parênteses: cresci lendo Claudia e isso me fez querer ser jornalista desde muito cedo. A herança dessa leitura não foi apenas de saber o que era orgasmo e clitóris muito antes das minhas colegas de classe, mas também de ter vontade irrepreensível de querer contar histórias alheias. Fecha parênteses) A história em si era contada por uma leitora, em um espaço aberto para quem quisesse contar suas experiências de vida. A dela era singular. O ódio que existia entre ela e sua mãe as moviam e resultava sempre em farpas trocadas. As linhas me chegavam como um soco no estômago. “Saímos de casa eu e meu pai e ela tinha ficado em casa. Não sabia que eles tinham brigado. Quando eu e papai chegamos felizes e alegres, ela me pegou pelo braço, me empurrou para dentro do quarto e esbravejou: -Vai, você quer o que agora? Dormir com ele? Sei que você quer!” Para mim, ler que uma mãe dizia tal disparidade para a filha era inconcebível. Recatada, não havia entendido que aquela era uma revelação. Toda mulher será rival de outras mulheres durante toda sua vida e a primeira delas será sempre sua mãe, pela atenção que o pai dispensa à nova criaturinha de rosa. “Quero mesmo é ter um filho homem, para ele me amar por toda a vida”, diz uma amiga minha.
A lei diz que as meninas são dos seus pais e os meninos são das suas mães e ninguém mudará isso. Assim como nada muda que uma menina que é amiga de um menino no jardim de infância vai ouvir: “tá namorando”. Assim como o menino que só freqüenta a roda das meninas vai ouvir que é gay. Assim como você pode falar de tudo para uma pessoa, mas você sabe, no fundo sabe, que ela só vai entender de uma forma plena, total, transparente tudo o que você passou realmente, se ela for mulher. Da mesma forma que você lê uma cena escrita por um homem e se emociona, mas lê a cena descria por uma mulher e toda emoção transpassa o tempo e o espaço que te separam da autora e te faz reviver e sentir junto tudo o que foi por ela descrito. Da mesma forma que você briga com um homem, mas com uma mulher rompe laços. Da mesma forma que você se pergunta como pode inveja, cumplicidade, carinho, ciúmes e raiva existirem simultaneamente em uma mesma amizade, você sabe que isso é perfeitamente possível entre duas mulheres. E você sabe, no fundo sabe, que só ela te completará, como um espelho inverso. E a falta dela será como o espaço vazio e renitente ante a sua presença.

Bom, é isso que tenho a dizer das amigas que tive.

Beijos e desculpas.

Da ausente,
Beatriz

sábado, 5 de abril de 2008

Pausa para balanço (e espera do texto da Bia)


Há um ano essas mulheres se encontravam, horizontes, idéias, sonhos, expectativas, cada uma com uma bagagem, e a mala pronta pra viagem...
Sopros ao vento foram dados, e as amigas da mídia à vida continuaram.


VELHA AMIGA

VOCÊ TEM QUE OLHAR A ESTRADA
COM UMA CARA CANSADA
COMO UMA VELHA AMIGA
QUE VOCÊ JÁ NÃO AGÜENTA MAIS

ESTOU AQUI DE PASSAGEM
A VIDA É UMA MALA PRONTA PRA VIAGEM
MINHA CABEÇA É MINHA BAGAGEM
E A ESTRADA É UMA VELHA AMIGA

COM QUEM VOCÊ PODE CONTAR VELHA AMIGA?


ps. Gente!!!

Pra ninguém pensar que o blog vai sumir, desaparecer, escafeder-se por falta de postagem, estou aqui pra esclarecer: quem seria a responsável pelo post que ainda estamos esperando infelizmente não está aqui pra contar a história (obvia e literalmente). Mas é que as mulheres andam a beira de um ataque de nervos por causa de trabalhos curriculares não feitos, ou melhor, por fazer... vida marginal, mesmo!! Okay, mas o aviso é que nessa semana o texto sai.

Até,

Carolina.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Seu nome é Maria

Eu não sei exatamente quando ela deixou de sorrir. Mas sempre soube que ela não era o tipo de mulher que fazia os outros rirem. Uma avó doce a sua maneira. Seus carinhos não eram em gestos, afagos, como a maioria das avós faz. Seu afeto era mostrado através de muita comida na mesa, das flores do quintal, que quando entrássemos no carro se transformariam num buquê que durante a semana que estava por vir enfeitaria a nossa mesa da sala. Sua dedicação se materializava nas lágrimas cada vez que saíamos para a viagem.

Talvez ela tenha desaprendido a sorrir quando enterrou o primeiro filho, ainda jovem, quando ela deveria ter mais ou menos a minha idade hoje. Ou, pode ser que seus sorrisos se foram junto com o jovem namorado que foi para a guerra e quando voltou, não se sabe se por força ou vontade, a encontrou casada e com um filho nos braços.

Ela já estava aqui quando muita coisa no mundo aconteceu. Das duas guerras, ela carrega consigo o hábito de guardar todas as sobras de comida porque nunca se sabe o que faltará amanhã. Mantém também todas as latas, potinhos e pacotes de todos os tamanhos guardados, afinal, em tempos de guerra as fábricas não funcionam, as embalagens são mais caras e tudo o que puder ser reaproveitado é bem vindo.
Ela também viveu durante a ditadura, mas isso pouco lhe afetou, afinal, para ela a vida era uma eterna espera pelo marido caminhoneiro, cuidar dos filhos, colher legumes do quintal, armazenar o cereal produzido nas chácaras, matar galinhas para a canja, tirar o leite da vaca. Pouco, ou talvez nada, vinha do mercado. Políticas públicas pouco lhe interessavam, seus filhos tinham escola e hospital, isso bastava. Jamais desperdiçaria com um jornal ou uma revista as valiosas moedas que poderiam render um picolé aos filhos. Se escutasse Caetano falando dos caracóis ou Chico aos seus caros amigos, talvez até as achasse as palavras bonitas, mas não as compreenderia, afinal, música para ela eram as polonesas, tocadas ao vivo na rádio aos domingos.

Ela fala polonês, mas nunca nos ensinou. Entendemos apenas umas expressões que resmunga quando fica brava. Sempre achamos que fossem palavrões, até descobrirmos que ela jamais falaria algo proibido, apenas pedia a benção divina para os desobedientes.
Ela não é um exemplo de candura e muitas vezes acho que é um exemplo de como não se deve ser. É extremista, pudica, preconceituosa, rude e teimosa. E o maior dos seus defeitos e o que mais me maltrata é que ela é meu espelho. A imagem é distorcida, é claro, afinal, entre o meu nascimento e o dela se passaram 60 anos. Este reflexo é pior em muitos aspectos e melhor noutros poucos.

Seu nome é Maria e ela é Marias. É a Maria de Elis Regina, “é o som, é a dor, é o suor, é dose mais forte, lenta, de uma gente que ri quando deve chorar e não vive, apenas agüenta”. De vez quando parece Maria Bonita de Lampião, com garra e coragem para enfrentar qualquer desafio, qualquer sertão. É também a Maria Mãe de Jesus, que sofre pelos seus filhos e para cada cruz que cada um deles carrega, ela leva outras três, rezando terços e assistindo a missas ao longo do seu calvário.
E dentre tantas outras Marias que ainda não foram citadas e que estão dentro dela, tem a Maria de Chico Buarque, aquela Maria sobre a qual não queremos falar, mas às vezes é inevitável. Aquela Maria que lembra mar, que lembra um assobio, que lembra um sofrimento, que ela não merecia.

Tenho medo de ficar com ela e tenho medo de não ser como ela. Dona de uma força que é só sua, mas ao mesmo tempo dona de uma resignação que não lhe permite sonhar.
Talvez eu também, depois de toda uma vida, desaprenda a sorrir. Se aos 23 anos acho que se parar para pensar sobre tudo o que há de errado eu deixarei de sonhar, quem dirá quando eu tiver a idade dela e tenha tempo apenas para pensar, já que o corpo não obedece mais e nem mesmo a mais simples atividade pode ser feita sem o auxílio de alguém.

Hoje ela voltou a sorrir, ou talvez esteja sorrindo pela primeira vez. Não há ninguém que tenha estado ao lado dela sua vida toda para contar com certeza. Uma pena que tenha aprendido a gargalhar quando deixou de ser velha e voltou a ser criança. Tudo isso aos 82 anos, no enterro da filha 30 anos mais nova que ela, quando a tristeza foi tanta que a razão não resistiu.

Saudades,

Helena, um tanto melancólica, um tanto Carolina...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Eu que não fumo QUERIA um cigarro

“Você tem exatamente, três mil horas pra parar de me beijar
Meu bem, você tem tudo, tudo pra me conquistar.
Você tem apenas um segundo, um segundo pra aprender a me amar.
Você tem a vida inteira, baby, a vida inteira pra me devorar”

Sempre lembro desse trecho de música quando me vem a cabeça alguns encontros que tive. Encontros casuais, que se não fossem, seriam ridículos. Não acredito em sorte ou destino, mas em acasos. A vida também têm dessas, e os acasos tem a vida. Igual aquela frase do Vinícius que diz: “a vida é feita de encontros, embora hajam tantos desencontros pela vida” (mais ou menos assim).

O acaso produz situações inesperadas, geralmente ricas e fortes. É ‘só’ estar no lugar certo, na hora certa e ser o tipo de pessoa que atraia um outro determinado tipo de pessoa, simples não!?!? Nem tanto, nem tanto!! Contraditoriamente temos que estar preparados para o acaso, no sentido de estarmos abertos a todo e qualquer inesperado que a vida pode nos proporcionar, mas o problema é que nem sempre estamos.

Pra contrariar qualquer racionalista ingênuo, o tempo todo idealizo (não vou ousar a meter todo mundo nisso) coisas, pessoas, lugares, o passado, o presente, o futuro. O passado que sempre fica melhor nas lembraças do que realmente foi, o presente que não vivo pensando no futuro que sonho. Oras! Seria tão mais simples parar de idealizar e viver, mas quem disse que é fácil?!!?

Geralmente não tenho coragem pra dizer tudo que eu penso, então prefiro que outros digam por mim. No entanto, fico prejudicada pois as pessoas não são adivinhas, e na maioria das vezes não fazem o que eu queria que fizessem pelo simples fato de eu não dar palpites. Não digo isso em relação aos afazeres da vida: estudo, trabalho, essas rotinas do tempo. Falo em relação a coisas que geralmente nos tornam mais vibrantes, frenéticos, dançantes, enfim, as paixões, os amores, as paqueras, os flertes.

Falo dos acasos, pois não acredito em destino. Não, não é cetismo, é simplesmente saber que nós fizemos a nossa história, logicamente que rodeados das circunstâncias e limites de cada momento. Pronto! É justamente esse o ponto que me dá calafrios de pensar. Saber que no fundo os acontecimentos da nossa vida dependem da gente e dos acasos, que, no limite, também os fazemos, ou seja, saber ousar, experimentar e se deixar levar. Sabores e dissabores, encontros e desencontros.

E, assim, é claro, nem sempre a vida dá certo. Gosto de fazer a boba comparação com o jogo da velha, “nem sempre dá certo”!! Eu, como tenho alma de Carolina, sempre lembro da poesia da Florbela Espanca, na parte do desencontro, obviamente: “sou talvez a visão que Alguém sonhou / Alguém que veio ao mundo pra me ver / E que nunca na vida me encontrou”.
- “Ahhh! Que coisa horrorosa”, dirão muitos. Alívio pra eles que são o tempo todo decididos, cheios de si e certeiros! Match Point – digo eu. Bem no estilo Wood Allen.

Ps. O que tem haver o trecho da música lá encima?? Certamente a coragem de dizer tudo aquilo que não consigo, principalmente fazer os segundos virarem muito tempo, e, intensamente, fazer o muito tempo virar segundos.

Com atraso, receio e desculpas,

Carolina.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

The end

Gosto particularmente de filmes que não tenham finais felizes. Finais românticos felizes. Passei a semana inteira com essas duas frases na cabeça, sabendo que escreveria sobre isso, mas não como continuar. Em um de seus haicais, Leminski renuncia a realidade, “esse baixo-astral onde tudo entra pelo cano” e diz querer viver de verdade, escolhendo o cinema americano.

O filme que me fez ver como eu gosto de histórias de amor que não precisam terminar bem não vem ao caso. Até porque ele fala da relação entre mães e filhas, o que já foi abordado nesse blog. Apesar de ser americano, não há final feliz com o casal, embora tudo pareça ser encaminhado para isso. O final não-romântico, mas real, salva o filme dessa mediocridade de que para sermos felizes, precisamos encontrar o homem/mulher de nossas vidas e, assim, dissipar todo o mal que possa existir.

Crescemos ouvindo, lendo e vendo que o final deveria assim. E tudo isso o que escrevi se parece com o velho e batido “felizes para sempre” dos contos de fada. Por que não gosto de finais românticos felizes? Ora, simplesmente, porque isso não condiz com nossa vida, que é contínua e carrega fins e recomeços todos os dias. E mesmo diante da morte (o maior final), e olhando para trás, creio que a gente não vai saber se viveu realmente feliz para sempre algum dia. (No terreno do além eu nem vou adentrar).

Sei que, em qualquer esfera, a gente escolhe, renuncia, termina, volta, esquece, passa por cima, encontra outros amores/empregos/amigos e vive tudo novamente. E mesmo que seja sempre o mesmo a vida inteira, os ciclos ainda existem e sem eles tudo perderia a graça, até mesmo a graça dos contos de fadas. (Lembrei de Vinícius, que tem um poema onde conta a história de uma vida – com ênfase ao amor – em 14 versos. Eis alguns: “...E começar a amar e então sorrir/ E então sorrir para poder chorar/ E crescer, e saber, e haver, e perder, e sofrer, e ter horror/ De ser e amar, e se sentir maldito/ E esquecer tudo ao vir um novo amor...).

Sei também que toda boa história precisa terminar. (Menos as de Sherazade, onde o fim da história seria a própria sentença de morte). A narrativa é um recorte, um fragmento de uma ou mais vidas, capazes de distanciar o leitor da sua própria realidade por instantes e até provocar nele uma catarse. Depois disso, se a história do filme realmente for boa, aquele que o assistir não será mais o mesmo. O final de um livro, de um filme ou até de uma narrativa musicada representa, acredito eu, também o final de um personagem, de uma vida contada. Talvez por isso, incomoda-me tanto as continuações no cinema.

Finais têm me arrancado noites de sono e me rendido boas reflexões nos últimos meses. Embora saiba que todo fim traz em si um recomeço, a dor do término e principalmente a incerteza, quando se trata de renúncias, são um calo no meu sapato. Sabe aquela sensação de epitáfio? Aquela de “deveria ter feito isso, aproveitado enquanto era hora, escolhido tal coisa, renunciado a tal outra enquanto dava tempo, mudado de cidade, de casa, de ares”? Nosso genitor Chico compôs “Vida”, que é tanto uma narrativa, como um desabafo de uma mulher que verteu sua vida nas casas dos homens de vida vadia, fez poucas e boas, mas sabe que ali foi feliz. Acho linda a música, principalmente porque fala de portos, de cais, metáforas certeiras para se falar de vida. Talvez porque seja mesmo o final das coisas um porto. Pegar o barco e sumir no horizonte requer coragem para arriscar a pele, mas proporciona belas paisagens.

Uma vez li uma crônica do Veríssimo em que o protagonista bebia desolado em um bar imaginando como seria sua vida se tivesse feito determinadas escolhas. E como se num passe de mágica, ou por efeito do álcool - vai saber, as alternativas se materializam diante dele. Aparece o homem que ele teria sido se tivesse feito um teste para goleiro, se tivesse prestado concurso, se tivesse casado com uma antiga namorada... Todos eles foram mais infelizes. É uma tentativa interessante de se provar que a gente tem que viver mesmo com um pé no futuro e não no passado e nem no “e se” que, aliás, é o nome da crônica.

Para não dizer que não falei de mulheres, preciso compartilhar da letra linda que ouvi na voz de Elis Regina. “Maria Rosa” é o nome da música e, pra variar, fala de finais. Para ser mais exata, o final de uma menina que “era um anjo de formosa” e que hoje vive em farrapos. E cada trapo que veste não é apenas necessidade, mas representa uma saudade de algum amor que passou. E de repente comecei a pensar que triste era a vida Maria Rosa. De cabelos grisalhos já devia carregar inúmeros farrapos, mas e eu, tão nova, quantos trago em mim? (Juro que me arrepiei quando ouvi o final da música – justo o final! – que diz: Vocês, Marias de agora, amem somente uma vez / Pra que mais tarde essa capa não sirva em vocês).

Dizem que os escritores costumam escrever para extirpar os fantasmas que lhes assombram. Como os meus atualmente são os finais, acredito que depois desse texto eles não devam me incomodar mais. Mas não posso garantir que os cemitérios deixem de existir na minha cabeça.

A Rosa
(Não arraso projeto de vida nenhum – a não ser o meu. Não sei sambar – e não tenho vergonha de assumir isso em pleno de carnaval. Não sou artista, ando levemente bandida e só um pouco falsa – porque ninguém é de ferro. Vadia, não. Não atualmente. Nunca tive vocação pra gueixa. Ser santa e fogosa deve fazer parte de todas nós, mulheres de Atenas, por isso não me descreve apenas. Por que estou Rosa, então? Sei lá, só porque me gusta estar, e não ser, Rosa...)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Todas as cartas de amor são ridículas

“As bocas eram encaixe perfeito. Poderiam passar o resto da vida encantadas. Poderiam retardar o nascimento do dia, esconder o sol em alguma caixa mágica, apagar o dia e ser eterna noite. Poderiam estabelecer uma nova ordem mundial, fazer prevalecer o amor sobre as guerras, sobre qualquer violência. Poderiam apagar as luzes da cidade, deixar as estrelas iluminando a escura noite. Poderiam ficar nus no Jabaquara ou em Trindade, fazer amor dentro da noite eterna. Poderiam mas não o fizeram. Partiram para rumos contrários. As noites se sucederam tão efêmeras como uma flor do campo ou como a própria vida”. (Flávio Machado)

O amor acaba nas pequenas coisas da vida, já disse Paulo Mendes Campos*. O amor termina quando tentamos dar-lhe um nome, revelou Clarice**. Mas como é que ele começa?

Não vim para tentar explicar o amor, mesmo porque, acredito eu, ele é inexplicável. Não faltam músicas, textos e provas de amor que tentam esclarecê-lo, materializá-lo, contudo, para nada elas servem. Às vezes apenas para nos fazerem chorar. (Eu hoje eu acordei tão só, mais só do que eu merecia. Eu acho que será pra sempre, mas sempre não é todo dia – traindo Chico, cito Oswaldo).

Olho para meus pais, que neste ano comemoram 25 anos de casados, e penso em qual será o segredo. Então, depois de muito observar, eu percebo que amar não é não conseguir viver sem uma pessoa, mas conseguir viver com ela. Odiá-la por cada defeito e ao mesmo tempo conviver e sobreviver a eles.

Há alguns dias eu revivi, por poucos instantes, momentos da época em que, talvez, tenha vivido meu único amor verdadeiro. Sentimento que já não existe mais, é apenas uma saudade, como a infância que sabemos que jamais retornará.

Por muitas vezes pensei que era amor. Ao seu jeito, talvez cada um tenha realmente sido amor, mas nenhum deles foi suficiente para eu ter certeza. O ‘amor’ que eu reencontrei foi aquele com o qual não se pensa em casar, ao qual não queremos dar nome, ao qual apenas curtimos e achamos graça em estar juntos. Amor de criança, puro e sincero. Foi o único amor ao qual escrevi uma carta e que, pelo jeito, irá para sempre me denunciar.

Quem nunca escreveu uma carta de amor, não a escreva, ela será para sempre lembrada e não importa quão linda ela seja, será ridícula. E, se já a escreveu ou um dia escrever, caso não pareça ridícula, sinto muito, você não tem talento para cartas de amor.



Também escrevi em meu tempo cartas de amor

“Eu ainda tenho a carta e o laço do cabelo”, disse-me alguém ao pé do ouvido. Quem mais poderia tê-los senão ele? Virei atônita, com um calafrio do dedão do pé ao último fio de cabelo, quase sem respirar. Não gosto nem de imaginar meu rosto, pois ele sempre fica ainda mais feio quando estou com medo ou assustada, e naquela ocasião eu sentia isso e um pouco mais.
Não sei quanto tempo se passa para uma pessoa girar em torno de si própria, não mais que cinco segundos, imagino. Mas, sendo muito ou pouco tempo, foi o suficiente para lembrar da carta e do laço e de como eles foram parar lá.

Ele continuava moreno. Antes, moreninho. Agora, morenão. Seus olhos verdes esverdearam mais com o passar dos anos e eu não conseguiria vê-los de tão perto se ele não estivesse inclinado para falar comigo. Naquela época ele media apenas dois dedos a mais do que eu e hoje meu salto mais alto não seria suficiente para alcançá-lo.

Enfim, talvez eu não o reconhecesse se não tivesse falado comigo. É provável que o visse e nem cumprimentasse, com aquela impressão de que o conhecia de algum lugar.

Não sei ao certo quando nos vimos pela primeira vez. Lembro que estávamos juntos numa peça de teatro e que era tio de uma amiga. Aquele tio que chega mais tarde, tão jovem quanto a sobrinha. Então, depois de alguns passeios, ensaios e muita paquera, o primeiro beijo aconteceu. Não lembro direito como, lembro apenas do frio na barriga. Em seguida entreguei-lhe uma carta escrita por mim e aprovada por uma comissão de amigas, cheia de versos que nem quero lembrar de tão bobos que eram.

Dez anos depois aqueles olhos verdes falavam comigo novamente. “Continue guardando o laço do cabelo, pois com essa moda que vai e volta, talvez você possa usá-lo em alguma ocasião especial. Mas a carta... (neste momento, se ainda não estava vermelha, é certo que corei!) A carta é ridícula! Não serve nem de modelo para mandar a alguma namorada”, responderam meus olhos cor de mel ao par de olhos verdes que me olhavam fixamente. Ainda ao pé do ouvido ele retrucou com aquele sorriso que fez bambear as minhas pernas: “Todas as cartas de amor são ridículas”.

Só então demos um abraço apertado, de velhos amigos felizes em se encontrar, e seguimos a conversa falando da vida e do que tínhamos inventado desde que, na janela do ônibus, ele se despediu, dizendo que não sabia quando voltaria. Agora sabemos: 10 anos!

O laço do cabelo ele confiscou num dos nossos encontros. Era preto, básico. Se eu ainda o tivesse talvez o usasse para conquistar outro rapaz. Quem sabe seja exatamente este ‘charme’ que me falte agora. Depois que ele foi embora descobri que levava de mim o laço e a carta, mas carregava o coração de outras três meninas, no mínimo. (ABRE PARENTESES Desde o primeiro beijo já tendo desilusões com os homens FECHA PARENTESES). Porém, de tudo o que levou, somente o laço e a carta ele ainda tem. Os três corações, que eu sei, já têm outros donos.

Rimos e lembramos dos amigos. Falamos bem e mal de cada um. Só nos demos conta de que estávamos conversando há quase meia hora quando percebemos que os funcionários da livraria estavam pensando em nos expulsar, ou servir um cafezinho para nos sentirmos mais à vontade.

Que maravilha! Ele saiu de lá com um livro de engenharia, um Fernanda Young para a sobrinha que estava se formando e um Veríssimo, porque, segundo ele, ninguém é de ferro e até engenheiros precisam esquecer as contas e rir um pouco. O garotinho bobo, que ficou o verão de castigo porque reprovou, ficara inteligente.

Simpático, bonito e inteligente! Ele deve ter chulé! Mas isso não é nada. O que mais eu poderia querer? Seu telefone, é claro.

Depois de telefones e MSNs trocados, um abraço e os desejos habituais de felicidades. Só quando entrei no carro é que percebi que novamente demos tchau sem saber quando nos veríamos.

Eu não liguei, nem ele. Também não nos encontramos no bate papo e, por enquanto, terminamos assim.

Só agora, depois de escrever e reler, é que percebo que talvez este texto tão pobre não devesse ser publicado. E, como diria Álvaro de Campos, “a verdade é que hoje as minhas memórias dessas cartas de amor é que são ridículas”.

Um abraço.

Momentaneamente, Terezinha

PS: Hoje eu sou um pouco Terezinha, que depois de vários amores ‘falsos’, encontrou o verdadeiro, para quem se doou inteiramente. Porém, não sou Terezinha por completo, afinal, ainda espero o terceiro, aquele que chegará para se espalhar definitivamente em meu coração. “O primeiro me chegou como quem vem do florista/ Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista... /Me chamava de rainha/ Me encontrou tão desarmada, que tocou meu coração/ Mas não me negava nada e, assustada, eu disse não.
O segundo me chegou como quem chega do bar/ Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar.../ Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração/Mas não me entregava nada e, assustada, eu disse não.
O terceiro me chegou como quem chega do nada/ Ele não me trouxe nada, porém nada perguntou.../ Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não/ Se espalhou feito um posseiro dentro do meu coração”.

E, se fosse apenas pela história que contei, talvez eu devesse assinar como Cecília, afinal, “pode ser que, entreabertos/ meus lábios de leve/ tremessem por ti”.

*O amor acaba, de Paulo Mendes Campos http://www.angelfire.com/la2/poeta/Oamoracaba.htm
**Por não estarem distraídos, de Clarice Lispector http://claricelispector.blogspot.com/2007/12/por-no-estarem-distrados.html

domingo, 20 de janeiro de 2008

Sem querer ser pós-moderna, mas.. já sendo?

O melhor de não ter o que fazer é não fazer nada. Não exatamente um ócio criativo, mas um ócio libertino, eu diria. Tive acesso, então, nessas interfaces, a uma crônica da Martha Medeiros – “Pessoas Habitadas” – que me fez lembrar em muito nossos dilemas de hoje, de ontem, de sempre. Não vou me dar ao trabalho (porque temos direito à preguiça!) de contextualizar os problemas demasiado humanos da pós-modernidade – o vazio, o nada, o tudo, o poder, o não ter – como assistir Transpotting e ver a frase final cair como um martelo na sua cabeça “eu vivo pra ver o dia morrer”. Divagar por coisas tão simples que se tornam extremamente complexas, como disse já um grande pensador.

Bem, mas voltando ao início, o que seria então uma pessoa habitada? Segundo a cronista, esses seres “não recuam diante de encruzilhadas, não se amedrontam com transgressões, não adotam as opiniões dos outros para facilitar o diálogo. São pessoas que surpreendem com um gesto ou uma fala fora do script, sem nenhuma disposição para serem bonecos de ventríloquos. Ao contrário, encantam pela verdade pessoal que defendem”.

Fiquei pensando nisso com muita angústia. Será que eu sou uma pessoa habitada? Será que é fácil ser uma pessoa habitada? Porquê ser uma pessoa habitada?? Posso simplesmente não ser, ou não querer ser... Oww! My mind!!

Percebo que diante desse momento histórico que vivemos tudo torna-se muito propício à estagnação, nada acontece de muito vibrante. Como diz o personagem do filme Amor nos tempos de cólera – “o cotidiano enferruja”. Enferruja mesmo! Nossos sonhos de criança se esvaem, nossas expectativas adolescentes são desnudadas, nossas esperanças de adultos, well... já não digo nada!!

Em verdade temos mesmo é uma cultura do medo, medo de tentar, tentar e não dar certo, tentar e se frustrar, tentar e mudar, mudar enfim. A mudança assusta, e o que não percebemos é que nada é pra sempre, tudo muda, mas no calor do momento não nos damos conta.
Sempre tive uma alma inquieta, mas quando entrei pra universidade e tive acesso a outras leituras de vida, a outras experiências práticas, e aprendendo com quem já havia pensado e vivido tudo o que eu pensava e vivia agora fui me dando conta da experiência humana, do ser em si e para si. E isso não foi muito fácil.

Entrava, então, para o dilema do ‘olhar com os olhos que enxergam’ e ao fim descobrir que isso não é tão reconfortante, muito menos tranqüilizador. Me corroia – preferiria não saber. Por outro lado, certa vez um amigo me disse que se tinha medo das descobertas e tudo que isso trazia no seu bojo era melhor ficar no meu cantinho, escondida, enquadrada. Não! Mas isso não! São escolhas, muitas vezes inconscientes, mas escolhas.

Como diz o filósofo Chorão “cada escolha uma renúncia, isso é a vida”. Então, continuava pelo mesmo caminho, agora sabendo por quais estradas me levava, mesmo ignorante do lugar que chegaria – se chegaria. No limite, apenas sei dizer que muitas vezes – muito mais do que gostaria – aqui, não tem gente em casa!

Ps. Antes de postar mostrei o escrito para Beatriz que numa frase grave sincera disse – ‘so sad!’. Mas que posso eu fazer se tenho alma de Carolina - o mesmo progenitor de Beatriz e Helena, que sabe falar de tão diferentes mulheres?? A Carolina do Chico me lembra os poemas de Florbela, a da alma inquieta, que sentia saudade, sabe-se lá do quê.

“...Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo / Eu já lhe expliquei, que não vai dar, seu pranto não vai nada ajudar / Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar / Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor que já não existe / Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar / Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar...”

Saudações,

Carolina.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Sobre meninas e suas mães

Nas incursões pelo youtube.com, dia desses, andei encontrando coisas realmente interessantes. Intitulado ‘Mofo TV’, uma coletânea de vídeos trazem entrevistas da Marília Gabriela, no programa TV Mulher, na década de 80. Minha surpresa (além do cabelo de Gabi, breguíssimo) foi encontrar uma entrevista com a Elis Regina. Sempre a reconheci muito mais pelas músicas do que pela personalidade (ao contrário de muita gente por aí). O vídeo me fez ver o que estava perdendo.

À pergunta aparentemente simplória de Marília Gabriela, de como a cantora dava um jeito de criar os filhos sendo artista, a resposta de Elis já vale o tempo que o vídeo demorou para carregar. A “pimentinha” rebate falando sobre a questão da mulher operária, que ajudava então a “construir o país” e não tinha nem creche para abrigar seus filhos, mas, mesmo assim, dava um jeito. No dilema entre o século XIX e o século XX, saindo da condição de mucama e pleiteando uma vaga à astronauta, as mulheres da década de 80 sentiam ainda mais dificuldades do que hoje para se firmar, tanto no mercado (coisa que hoje em dia até já saiu de moda discutir), como em outras esferas.

Mas Elis diz ainda mais. Fala da filha Maria Rita (lançada como cantora aos 24 anos, com estapafúrdia promoção em horário nobre na TV Globo, carregando a inconfundível marca de filha de Elis), que na época da entrevista devia estar saindo das fraldas. E o que a cantora, mãe de João Marcelo Bôscoli e Pedro Camargo Mariano, (hoje também músicos), fala sobre a menina me marcou profundamente. “É mais difícil ter filha mulher, não dá para explicar. Mas acho que no fundo, com Maria Rita fiquei mais parecida com a minha mãe”. Não, não é nenhuma tentativa de recuperar a letra de “Como Nossos Pais”, ícone de sua carreira, até porque não faria sentido. Mas não sei se eu, mesmo não tendo filho algum, poderia apontar uma comparação mais sublime que essa. Ter uma filha mulher a fez aproximar-se da própria mãe, ficar parecida com ela, tomar para si alguns trejeitos e entender muitas das preocupações que sua mãe tinha com ela, pelo fato (Elis entendia) de ela ser mulher. “Maria Rita me deu uma outra visão e eu batalho para que o seu lado seja mais simplificado”.

A cantora disse que, ao esperar Maria Rita, preparava-se para ter mais um varão. Iria se chamar Thiago. Isso me lembrou a personagem Emma Bovary (que infelizmente é lembrada apenas como ‘a adúltera do romance Madame Bovary, de Flaubert’). Sou péssima em relembrar cenas de livros, mas uma desse em questão eu não esqueço. Grávida, Emma sonha com seu filho, que seria homem, que seria livre, (porque, naturalmente, as mulheres são mais presas às convenções) e que se chamaria Jorge. Emma desmaia ao receber a notícia de que deu à luz a uma menina. Elis diz que tomou a bebê das mãos do médico como se dissesse: “é minha”.

Sim, é mais difícil, como mãe, ter filhas mulheres. Mulheres brigam mais entre si e as cicatrizes são mais profundas (basta lembrar de quantas amigas você já se desentendeu para todo o sempre). Mulheres são capazes de se agredir com palavras e gestos simples, mas simbolicamente mais agressivos. Uma amiga minha diz que a maior humilhação da sua vida foi ter levado um tapa na cara de sua mãe. Filhas mulheres devem ser como um reflexo meio torto e uma forma, como diria Elis, de nos reconhecer nelas.

Creio que tenho pouco da minha mãe. Ela é mais corajosa, porque soube conduzir quatro irmãos pela vida, mesmo tendo perdido a própria mãe e não ter o pai por perto. Deu aos irmãos um rumo e hoje vive longe de todos. Até hoje desconfio que ela chora escondido de saudade. Ela se casou com a idade que tenho hoje e teve o primeiro filho com a idade que terei daqui a nove meses. Encontrou o grande amor da sua vida na janela do apartamento da frente. Enlaçou-se com um promissor gerente de supermercado e hoje, ajuda-o a ganhar o sustento de um jeito meio equilibrista. Não preciso listar tudo o que me faz ser diferente dela. Não teria por quê. Somos diferentes não só por tudo o que já passamos, mas, principalmente, porque ela quis assim.

Lembro-me que, por volta dos 15 anos, uma das coisas que mais me intrigavam era como as pessoas sabiam que o namorado(a)/noivo(a) era a pessoa da vida delas. Ao perguntar para minha mãe, queria receber a resposta óbvia, como “Quando o vi, meu coração disparou”, “Saberia que ele seria o melhor marido e pai do mundo”, etc, etc e tal. Mas eis que ela simplesmente disse que um dia, pouco tempo depois de começarem a namorar, aquele que seria meu pai trouxe-lhe um tapete e disse: ‘pode guardar para o enxoval’. Lembro-me até hoje de mim, na varanda de casa, olhando estarrecida. Não, não poderia ser tão simples como a compra de um tapete.

Li em uma recente reportagem que uma das principais causas dos problemas demográficos do Japão é o fato de a maioria das mulheres do país em idade fértil não querer casar. Comecei a achar que, além de mais evoluídas tecnológica e economicamente, as japonesas também estão a passos luz das ocidentais na questão de escolher o melhor para suas vidas. Mas qual é o porquê da aversão ao casamento? Bem, nossas colegas do outro lado do mundo não querem abandonar o sossego da casa paterna se não for por um rapaz bem-sucedido, com um emprego estável, dedicado, de boa aparência, e que tenha uma boa conversa. Acredite, as japonesas são realistas. Digo isso porque a razão de tantos requisitos é que, como não terão muita perspectiva na carreira (pois a sua sociedade é ainda competitiva e machista), elas sabem que terão de depender de seus maridos. Na falta de candidatos a ocupar o cargo de genro que papai pediu a deus, elas continuam a morar com os genitores. Creio que as japonesas de hoje não estão tão parecidas com as de ontem, mas continuam naquele retrógrado paradigma filha/esposa.

Ao pensar no papel das orientais, ouvir a sinceridade de Elis ao descrever os lacinhos da filha e relembrar a simplicidade da minha mãe ao falar de seu tapete, penso em mim e no quanto estou distante dos lacinhos e dos possíveis tapetes presenteados por gregos.

Até, Beatriz

(“Beatriz, mas quem é tu, para Dante abandonar?” diz um dos versos de Vinícius de Moares, dedicados ao grande amor de sua vida, Beatriz de Azevedo. (P.S. Não consta que essa Beatriz tenha recebido algum tapete). Para Chico (e Edu Lobo), é uma atriz, meio indefinida, que de longe não se sabe ao certo se apenas decora o seu papel, dança no sétimo céu ou acredita que é um outro país. Triste e melancólica, a Beatriz buarquiana. Etimologicamente, Beatriz é “aquela que torna feliz”, o que me lembra de certa forma. E finalmente, a Beatriz musa inspiradora de Dante, que, dizem, a viu uma única vez e fixou-a para sempre em sua memória).

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Elefante branco

Coisa de foca
Buscando inspiração para escrever, fui olhar um diário de dois anos atrás. Não encontrei o que buscava, mas, continuando a nos descrever, encontrei esta pequena reflexão, que escrevi no último ano de faculdade. Talvez eu não acredite mais nele como acreditava antes, mas ainda demosntra um pouco do idealismo que existe em mim, apesar da prostituição, se é que me entendem... Somos todas jornalistas, então o texto não irá me denunciar. Talvez o estilo, ou a falta dele, sim...
Ser jornalista é coisa para sonhadoras. Nós, que trabalhamos com a realidade, somos no fundo um bando de sonhadoras. Sonhamos com um mundo melhor. Mostramos o real com a esperança de que possamos contribuir para que tudo se transforme. E nenhum de nós há de esquecer do primeiro dia de aula, com a turma dos calouros completa, todos em círculo para as apresentações: ‘Meu nome é Helena de Tróia, vim da Antiguidade, interior do Paraná. Escolhi ser jornalista porque eu quero mudar o mundo’. Tomara que o pensamento dos calouros de ontem não mude e que os veteranos, tanto na faculdade quanto na profissão, jamais esqueçam essas palavras e lutem por esse ideal. Talvez ainda possamos contribuir para um mundo melhor...


Sobre filmes e sonhos
‘Coisa de foca’ foi apenas algo que surgiu ao acaso, o que quero dizer hoje não tem nada há ver com isso. Na verdade, talvez tenha. Pois quero falar sobre filmes e sonhos. E todo jornalista, como disse, é sonhador.
E o que mais me faz sonhar são os filmes. Não consigo entender e acho que ninguém jamais conseguirá explicar porque essas histórias alheias nos atraem tanto. A maioria não é real e muitas vezes nem fazem sentido, mas há sempre um campeão de bilheterias, que leva milhares de pessoas ao cinema em menos de uma semana. Noutras vezes não arrebatam multidões, mas os poucos que os assistem não conseguem evitar a paixão e o envolvimento.
Eu já me apaixonei por personagens. Fui tão apaixonada por Patrick Swayze, de Dirty Dancing, quanto pelo meu primeiro amor. Hoje eu o acho feio, assim como o meu primeiro amor (rs), mas ainda gosto da história, tanto a do filme quanto a do amor.
Assisto Amelie Poulain, porque assim como ela eu sonho acordada e um anão de jardim me faz viajar mundo afora, imaginando o que as pessoas fazem e quantas o fazem ao mesmo tempo. Para ter certeza que minha loucura é normal, vejo um pouco de Almodóvar que é mais louco do que eu e mais normal que muita gente por aí.
Não dispenso Woody Allen e Spielberg, mas não nego que sou muito mais Hugo Carvana, com seu ‘Homem Nu’ e o ‘Vai trabalhar vagabundo’. Hoje assisti ‘Coisas de família’, com Paul Reiser, do seriado ‘Mad about you’ (e cá entre nós qualquer diretor ou ator bonitinho me perde para esta série!). Nem sei quem é o diretor, mas o filme é bom. Assim como Peixe Grande, fala da relação familiar, como ela deve ser pensada, duvidada e relatada.
Cinema Paradiso me faz chorar. Alias, muitos filmes me fazem chorar, não sei nem porque. Talvez, assim como Alfredo, precisamos chorar e ficar cegos para podermos ver melhor. Outros, não tão clássicos, verdadeiros ‘filminhos’ para adolescentes, romances água com açúcar, como ‘Minha vida sem mim’ e ‘Um amor para recordar’, também me levam às lágrimas.
No Ano Novo, recebi um presente, que não foi feito especialmente para mim, mas que o recebi como um presente quando o encontrei na TV: um documentário sobre Charles Chaplin e suas obras. Sempre gostei dele, mas a princípio não compreendia como uma moça de 16 anos se apaixonou por ele, quando ele já tinha 53, a ponto de casar-se e ter oito filhos. Depois de vê-lo com mais de 70, ainda brincando e fazendo acrobacias com os filhos e discursando contra a xenofobia quando os Estados Unidos e a Europa viviam o auge do preconceito, até eu me casaria com ele.
Ainda com Chaplin fico a imaginar que, na dança com o globo, sou eu quem está lá, no comando do mundo. Embora eu tenha a certeza que não quero comandar esta loucura. O homem nasceu para ser livre, concluo. Acho que as metáforas de Chaplin são muito mais para se refletir do que para sonhar, assim como são as de ‘Deus e o diabo na terra do sol’ e todos os filmes de Glauber Rocha.
O único problema que vejo nos filmes é que por causa deles acredito em finais felizes. Às vezes chego até a pensar que serei como a protagonista de Julles e Jill, com dois homens aos meus pés. Sonhos... não os julguem, afinal são apenas devaneios.
Enfim, entendo pouco de cinema, mas gosto bastante. Assim como entendo pouco dos homens e o restante da frase você já sabe...
Tenho mais alguns dias de férias. Então fico aqui, com meus filmes e suas metáforas.

Um abraço,
Helena

PS: Porque escolhi Helena? Porque assim como na canção de Chico, hoje eu durmo... Sem acalantos, mas durmo. Talvez, hoje também eu tenha escolhido Helena pelo significado do nome. Dizem que quer dizer tocha de luz, que indica uma pessoa que parece estar sempre olhando para dentro de si em busca da sua verdadeira personalidade. Se está correto eu não sei, mas posso afirmar que em meu coração há uma Helena em busca de si mesma, a Helena que vos escreve.