terça-feira, 2 de novembro de 2010

No infinito de nós dois

É falar de você, o tempo todo. Encontrar em tudo que eu vivo e em tudo onde vive você, alimentado na minha saudade, um jeito de a gente estar perto. Sem a sua presença, sólida aqui, eu me perco em pensamentos, para que um deles viaje no destino certo e lhe traga. Rezo baixinho, a minha prece com ardor, para que isso logo se acabe.
Eu tento fugir da manhã cinza, nublada e triste, porque ela não nos traduz. O dia gelado e sem cor é como um coração frio e amargo ou como um café que alguém esqueceu de tomar e ficou sobre o balcão. O que eu quero é o aconchego, é o ninho, é a vontade de viver devagarinho, porque de mãos dadas a gente caminha a contemplar e não a cumprir um destino.
É preciso um bocado de saudade, mas não esse carregamento de falta, que vem quase a me matar. Eu nem mais sei quem sou, se sou eu mesma ou o que restou depois que a sua presença me arrebatou. O seu eu te amo não exprime escolha, mas sentença: é você. E embebida no teu colo, não tenho como negar. Sim, sou eu, sou qualquer coisa, seria capaz de me transformar em breu ou em luz, no que te apetece. Sou tijolo, pedra, areia ou vidro, sou água, cimento e cal, é em mim que você pode construir seu lar.
Mas um dia, um dia bem de repente, acordei sem pensar em sou. Penso em somos, seremos, faremos, fugiremos, casaremos, nos amaremos. Sairemos rumo ao último porto, embarcaremos no último barco, trairemos qualquer voz que diga: não vai dar certo. Daremos. A volta, por cima, por baixo. Escaparemos pela brecha, entenderemos o viés do amor como sentimento puro e possível. Essencial.
Seu lugar é aqui dentro. Quando você vai arrendar esse corpo que te pertence e quando o seu corpo meu e o meu corpo seu poderão se unir aliviados pelo fim da procura? Encontrei minha terra, meu chão, meu lar. Anseio agora por viver nele sem hora e dia de acabar.

Eu te amo.

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