Em meados de março, estamos sempre lembrando que as mulheres estão apanhando mais, dirigindo mais, conquistando mais vagas de emprego (mesmo com menores salários). Ó, vitória.
Mas descobrimos que o preconceito ainda existe. Por outra ótica, pode ser que dizer que o lugar de mulher é em casa não se trata de preconceito. É vontade mesmo. Três entre quatro mulheres que eu conheço não ligariam de não ter que trabalhar, desde que tivessem uma vida de madame. E a quarta mulher titubeia ao responder a pergunta.
As anteriores queimaram tanto sutiã para sair de casa, “ocupar seu espaço” e para quê? Para as de hoje olharem para isso e perceberem que trabalhar fora pode não ser tão bom. Lutaram tanto para quê, amigas do século 20? Por que trabalhar fora era proibido, não era tão comum? Aguenta o tranco e volta aqui agora, filha, para bater cartão todo dia às 8 da manhã e ainda chegar em casa a tempo de preparar o jantar. Afinal, o que mudou, mesmo?
Queriam tanto poder dirigir, as antigas. E as de hoje têm de ouvir (de bocas femininas) que mulher não dirige mesmo bem. Uma época atrás e mulher nem votava. Hoje votam sim, há tempos, na verdade. Mas não votam em outras mulheres. Quanto tempo levará para que as coisas realmente mudem? O que precisa acontecer para que a postura feminina deixe de ser frágil diante da opinião conservadora e machista que domina a sociedade?
Somos mulheres, ora. Queremos tudo. E nada. Carregamos uma mistura explosiva de sentimentos em um olhar. A relação com outra mulher é a mais frágil possível. Mulher não gosta ou desgosta, simples assim. À outra mulher podem ser reservados o ódio e o amor pulsante, existindo uma escala de 20 mil pontos entre essas duas possibilidades. Na relação frágil entre duas mulheres, é possível que as duas percorram a ponta do amor e a do ódio em frações de segundos. E a competição está sempre presente, mesmo sendo as duas rivais amigas, mãe e filha, irmãs. Guerra e paz.
Talvez seja a necessidade constante de estar provando para alguém que se é, apesar de mulher. Que se é competente, que se é multifuncional. Provar para alguém, não se sabe direito o que, por quê nem para quem.
O cérebro feminino, essa bomba relógio cor-de-rosa, ultrapassa qualquer tentativa de explicação. É por isso que eu me contradizo agora e, vá lá, te desejo um feliz dia da mulher. Um dia alguma descendente das que hoje comemoram exija que a data seja derrubada. Por descobrir, enfim, que não há motivo para existir um dia para se lembrar da mulher. A peleia é todo dia.
Lígia.
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Qual desafio?
O desafio é reinventar o momento; abrir portas e janelas, deixar o vento circular leve. O desafio é não se deixar levar pela conversa vazia, preconceituosa, produtora de arquétipos. O desafio é tapear o tempo e não enxergar somente o próprio olhar, não com tantos outros olhos querendo se encontrar. O desafio é não tornar o cotidiano, a rotina, uma desculpa para se afastar, quando é tão imprescindível achegar. O desafio é seguir, quando um pequeno grupo, desenhado maior, quer regredir. O desafio é enfrentar esse gigante inventado e ser uma multidão para vencer o dito invencível. Enquanto mulher, o desafio é lutar, sempre! E entender, que mesmo sendo Maria, Joana, Carolina, Luiza, o enfrentamento também sintetiza a luta de todos, trabalhadores, homens, crianças, negros, amarelos, desempregados, que se juntam... O desafio é encontrar o que une e continuar a busca por um mundo em que não se precise de um dia para lembrar que somos mulheres, que somos trabalhadoras, estudantes, sonhadoras. Em que seja possível o homem, enquanto espécie, desenvolver todas as suas potencialidades, livre e humanizado.
Lola.
4 comentários:
Mulheres são incriveis, pois consegue ir de um extremo ao outro e sem grande consequências (talvez um pouco de fustração por se inconstate), mas nunca vi uma deixa de lutar pelo o que quer realmente.
Fiquem com Deus, menina Lígia e Lola.
Um abraço.
Rpx..
dia da mulher, é mais uma coisa do comérico ne?! Pra ganhar lucro, faturar em cima de algo...
é sim!
Toda mulher é um exemplo mulher é forte e deve ser homenageada mas isso o homem sob isso tudo!? como fica?!
hehehe se eu fosse homem me sentiria injustiçada
:S
Ganhei um sonho de valsa, e pessoalmente só dois parabéns... já pelo orkut.. Vários, nem consigo contar.. inclusive de pesoas que estiveram em meu convivio hoje!!
=/
Caraca adorei!
Firme e sem perder a ternura! rs
Traduziu um grito que estava aqui na minha garganta. Parabéns!!!
beijos
Cris
Concordo com você Lígia, não me identifico com a parafernália usada para celebrar a data...
Acho que muita coisa se perdeu mesmo, como você disse, a mulher lutou por tanta coisa e agora faz jornada dupla, tripla... mesmo assim, não podemos deixar de comemorar as vitórias alcançadas, porque a luta não deixou de ter o seu valor se não souberam equilibrar o resultado dela.
Lola,
Perfeito, o desafio é lutar pelo direito de todos!
beijo
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