segunda-feira, 27 de julho de 2009

E ele nem sabe o que eu sinto...

Achei que íamos nos dar bem. Idade avançada, modelo retrô, super básico, bem o meu tipo. Nunca quis nada extravagante, suprir minhas necessidades cotidianas, ter para quem recorrer nos momentos de apuro, fazer companhia numa noite ou outra pelas ruas da cidade. Penso que nunca exigi nada além do que ele pudesse me oferecer.

Logo que o conheci disseram: “Ihh!!! Não vai dar certo, ele é muito velho pra você”, ou ainda “Você consegue algo melhor, pra quê comprar uma 'família', ele só te trará problemas!”. Mas eu não escutei, queria ele e estava decidida, era ele ou mais nenhum outro.

Nos primeiros dias nosso rolo foi leve. Eu o olhava diariamente com ternura, tinha cuidado ao falar com ele. Escolhia cada palavra, com medo que algo pudesse lhe ofender e acabar magoando, ferindo seus sentimentos. Não era amor, mas algo perto disso.

Ele havia tornado-se meu companheiro, podia contar-lhe meus segredos e gritar bem alto em sua companhia, nem que fosse só para exorcizar os fantasmas da alma. Até que um dia nossa relação foi rompida, e acho que a culpa foi minha...

Certo dia deixei faltar o combustível que fazia a nossa engrenagem funcionar, foi o que bastou para ele me abandonar logo no dia seguinte. Não saiu de casa, mas resolveu não responder ao meu chamado logo que acordei. Deixei passar, achei que ele estava magoado, dei tempo ao tempo. Quando voltei do trabalho ele já estava mais calmo, e aos poucos fui ganhando sua confiança novamente, mas nossa relação já não era mais a mesma.

Um dia resolvi fazer uma surpresa. Programei uma viagem a dois, separei nosso som do Roberto, arrumei nossas coisas e partimos. Mas tivemos uma briga no meio da viagem e retornamos no mesmo instante. Culpa dele – que fique claro!! Depois disso ele saiu de casa, ficou mais de uma semana fora, contudo, acabou voltando com o rabo entre as pernas.

Mas, nessa altura, meu sentimento por ele já havia arrefecido. Não sentia mais aquela ternura, não cuidava mais com as palavras, não ouvia mais o nosso som, não pensava mais nas curvas da estrada de Santos. De fato, algo tinha se rompido.

Apesar de tudo eu não queria aceitar, quis insistir uma última vez, sugeri aquela viagem novamente, ele aceitou. Partimos, mas num rompante tudo se acabou. Ele me deixou sem dar uma explicação, me abandonou no meio da viagem. Nem pude me despedir, talvez eu nem quisesse, minha raiva era tanta que eu queria tirá-lo pra sempre da minha vida.

Fui socorrida por amigos, que chegaram, ajudaram a recolher minhas coisas, ajuntaram o que sobrou de mim, amenizaram meu pranto. Deram conselhos e fizeram piadinhas. Tudo bem, eu aceitei numa boa, afinal, eles tinham razão, realmente o Fusca pode proporcionar apenas duas alegrias: uma quando a gente compra e outra quando vende. E, além de tudo e no final das contas, ele nem sabe o que eu sinto...

Luiza.

2 comentários:

Mulheres de Atenas disse...

Puxa vida! É tão triste ver um amor que mal começou terminar assim!!!! Em alguns casos, é melhor manter o amor platônico, à distância!
E vc já teve a segunda alegria ou ainda está tentando? rs
bjs
Terezinha

Maris Morgenstern disse...

fuscas, fuscas.
ruim sem ele
pior com ele...