sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Modern Times

Ser pelo ter. Buscar para buscar. Encontrar possibilidades. Não realizar nenhuma pela vontade de encontrar uma melhor, modern times. Certa vez um professor contrapôs duas músicas num exercício de entendimento, durante uma aula em que explicava sobre linhas de pensamento que pretendem explicar a sociedade moderna.

À época acho que havia entendido o que ele tentou repassar através de seus ensinamentos. Hoje, depois de fatos ocorridos, volto a elas. “Cotidiano”, do Chico Buarque e “Você não entende nada”, do Caetano Veloso. Presente nas duas músicas, dizia ele, estão o idealismo e o materialismo. A primeira realizada apenas no mundo das idéias, onde o sujeito não sofre interferência do meio, objeto. A segunda onde sujeito e objeto possuem interface, onde um, condicionado pelo outro, é modificado e também modifica.

Não lembro exatamente como foi a comparação, mas acho que agora já arrisco fazê-la sozinha, pelo menos a minha.

As músicas chegaram ao pensamento numa noite quando, depois de ouvir, os ouvidos permitiram enxergar. Ouvi de bocas sábias o que no fundo já se sabia, mas o tempo faz a gente perceber de forma mais clara. Nessa, a boca amiga lembrou que, assim como tudo, o amor também é condicionado pela relações materiais e que esquecer disso é cair num idealismo sem fim, idealizando relações humanas impossíveis e irreais, vendo e esperando do outro coisas que não existem. Porque no mundo real, no dia após o outro, é que se vive, se trabalha, se ama.

Dá até vontade de largar tudo como o Caetano, mas é no cotiano do Chico que as coisas acontecem. Alguns, que não entendem nada, dirão que sendo assim não dá pra sonhar. Não, não é esse o fato. Mas aprender que a vida se constrói a cada dia e idealizar coisas melhores é necessário, mas saber dos limites a nossa volta nos torna capazes de sermos os donos do próprio destino.

Não quero fugir como o Caetano, quero a materialidade da vida, mesmo sendo dura. Não quero me embrenhar na modernidade líquida (texto anterior), numa busca sem fim pelo gozo. Não quero me apegar às possibilidades, quase sempre intangíveis, quero ser de poucas, mas certeiras vivências. Isso não quer dizer que esses tempos não tragam várias estradas, mas saber o que se quer construir já é um bom começo.

Não quero tacar fogo no apartamento, porque não importa para onde você vá, não são as pessoas, não são os lugares, somos nós e a maneira como compreendemos o mundo. Os problemas não se resolvem por transferência e as coisas não mudam com mala arrumada.

Ao final, “[...] encarar o sofrimento como aprendizado, ir contra essa tendência de relações superficiais, não quer dizer que seja um caminho fácil, mas é o que eu quero trilhar.”, disse a boca sabida. “Eu também”, respondi sutilmente.

Luiza

* Colaboração especial de uma boca sabida, hoje à la cubana, amanhã, espero, mais próximo.



(não achei nenhum vídeo do Caetano cantando a sua)

Um comentário:

Thamires Castro disse...

Po, me emocionei lendo o texto...
É assim mesmo, as vezes, nem nós sabemos direito o que queremos.
Certas vezes, me pego pensando em largar tudo e viver diferente, outras, quero desafiar o desconhcido, fugir à regra, um outro ângulo do ' Modern Times'.
ADOREI!
Beijãão