terça-feira, 2 de junho de 2009

Discurso impotente

Quando cai um avião, cai também o nível da cobertura jornalística brasileira. Acho triste e me solidarizo com passageiros e familiares. Porém, é nestes momentos que vejo como o jornalismo brasileiro é elitista e peca na cobertura de certas áreas.
Todos os meses, apenas no Brasil, dezenas de pessoas morrem diariamente em acidentes de trânsito. Voar é muito mais seguro do que andar de carro e estatísticas que comprovam isso não são novas. Entretanto, problemas que atingem muito mais a sociedade brasileira, recebem menos atenção. Chego a pensar que é proporcional: quanto mais importante é para o cidadão comum, menos relevante é para a mídia.
Em poucas ocasiões, reportagens especiais mostram a realidade das estradas. Exploram-se os personagens e algumas promessas de melhorias são conseguidas. Em pouco tempo, os repórteres viram as costas e anos depois voltam com aquele ar de satisfação para mostrar que nada mudou, que o buraco continua no mesmo lugar.
Quando um grupo de resistência mata civis noutros países, a mídia cobre como se a morte de dezenas de pessoas diariamente com a violência brasileira não fosse tão incidente e até banal. É claro que a dor é para todos os homens e todos sofrem a morte de forma igual. Contudo, para a mídia, a morte de uns parece ser mais pesada que a morte de outros.
Lembro-me de um acidente que por pouco não vi acontecer. Fui uma das primeiras a parar, o socorro ainda não havia chegado. Cinco pessoas de uma mesma família morreram. O acidente rendeu poucas linhas nas colunas policiais locais. Naquele lugar, em dia de chuva, a água continua a se acumular. Ninguém mais se importou. Quando morreram meus amigos, foram três, dois eram irmãos. A vida de uma família inteira se modificou. Nenhum deles ia a Paris, voltavam para casa.
No Rio de Janeiro, logo depois de assumir o governo, a nova administração criou a Secretaria de Ordem Pública, que com o projeto Choque de Ordem está retirando ambulantes e camelôs das ruas. O que eles querem? Que quem recebe 500 reais por mês pague 20% de impostos, mais contador?
Esse discurso é antigo e sinto-me no primeiro ano de faculdade, quando demonizávamos com orgulho a Globo. É um discurso impotente, mero desabafo. O mais triste de tudo isso é ver que algumas coisas nunca mudam.

Com o coração de estudante (esperançoso e enraivecido),
Terezinha

2 comentários:

Denise disse...

O que falar das mortes na Africa,de pessoas mortas todos os dias por traficantes,e de tantas outras tragedias que teimamos em não ver.

Seremos todos um bando de avestruzes?

lamento

Denise

Mulheres de Atenas disse...

Muitas vezes eu deixo de discordar - de dialogar e escrever - por achar o assunto batido e "antigo" como vc disse. E acho que eu faço isso confusamente. Se ainda não mudou, é porque precisamos continuar escrevendo, discordando, gritando, caso contrário seremos fatalmente omissos.
Boa - e velha - reflexão, amiga.

Bjs.

Luiza.