domingo, 7 de dezembro de 2008

“She said bye bye”

Fazia frio em pleno mês de dezembro. Ela caminhava pelas ruas de uma cidade estranha sob um sol pouco agradável. Observou algumas pessoas pelo caminho, mas estava com o pensamento longe. Não queria ter dito um adeus, muito menos o “até mais”, expressão que deixava uma lacuna ainda maior no tempo já confuso.

Eram tempos em que há anos não se registrava, nos sóis de dezembro, um vento frio batendo, embora um pouco fraco, cortante. Mas isso já não incomodava ela, que continuava lembrando da hora em que não queria ter partido, mesmo sabendo que a saída poderia render boas chegadas.

O motivo do desconforto se aprofundava com a presença de um velho acompanhante que cochichava ao seu ouvido. Algumas vezes ele sumia, mas voltava a aparecer. Era um velho rabugento que, de certo, não havia tido a vida esperada e tentava alertá-la para os detalhes que passavam e que poderiam fazer a diferença. O velho vestia uma sobrecasaca escura e um chapéu do mesmo tom. Dizia que os momentos simplesmente passavam. “Coisa mais óbvia”, pensava ela dando de ombros.

Sabia que era coisa que todo mundo já tinha conhecimento, mas, contraditoriamente, tinha a certeza de que somente algumas pessoas governavam bem o fato. E, assim, o que ela – cansada de subir aquele morro interminável da rua desconhecida – não tirava da cabeça era um daqueles acontecimentos do acaso, que nos últimos dias tinha reacendido um sentimento gostoso de saborear.

Ele era o motivo do sabor gostoso e do acaso da vida. De alguma forma esse sujeito marcava a memória dela com lembranças de uma companhia que lhe completava, naquelas horas compartilhadas.

O conheceu há algum tempo atrás, quando pouco sabia da vida e se deixava levar pelos impulsos incontroláveis de uma idade boba. Depois, por motivos diversos, tinha saído de seus dias e deixado algumas marcas, agradáveis – na maioria delas. Lembrava disso tudo num daqueles filmes que passam seguidamente pela cabeça.

Depois, vencida a ladeira, chegou numa parte plana da rua e viu que aquele velho rabugento tinha razão, contudo, sabia que os bons momentos não ficavam presos em si, eles também escapavam por entre os dedos. Melancólica, lamentou, pois teve que dizer um “até mais” ressentido, não poderia pedir pra ele ficar em sua vida da forma que queria.

Assim, continuou a caminhar, se aproximando cada vez mais da nova casa e com medo de perdê-lo de vista novamente, porque sabia que, mesmo sem querer, o tempo continuaria a desafiar a vida, não só naquele momento. O velho continuou resmungando pra ela, em vão, uma vez que não sabia o que fazer para não acontecer o que já estava a caminho. Entrou, fechou a porta e foi lavar o rosto. No espelho, viu que, mesmo com o frio, o sol lhe tinha queimado.

Carolina e... só.

ps. Helena, APAREÇAA!!

3 comentários:

Mulheres de Atenas disse...

Se eu fosse dar aulas de literatura, um dia, utilizaria esse texto para explicar oq é o tempo psicológico. Acho o máximo quem consegue se expressar assim, contando uma história mesclada com divagações dos personagens. eu não consigo.
A história da saída q rende boas chegada foi uma ótima sacada.

E que essa nova fase te traga tudo de bom! Vc é um ótimo exemplo de que nem sempre no mês de dezembro as coisas só terminam. Pra vc, tudo começou.

=)

Camila Rufine disse...

Gosto muito quando consigo ler fazendo a imagem da cena mentalmente e continuamente.
parabéns!

CamilaRufine

Dário Souza disse...

Muito bom o texto vey,ce tem talento..