quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Eu que não rezo fui à missa

"Só aceito jesus se ele deixar scrap..."

Como as coisas se tornam, de certa maneira, engraçadas à medida que conseguimos apreender alguns códigos negociáveis para tornar a convivência humana mais agradável e madura.

Há mais de sete anos que deixei de ir à igreja, assistir missas. Minha formação católica levou-me, desde muito cedo, aos sermões do evangelho e ao aprendizado dos mandamentos, através da catequese.

Mas, no decorrer do caminho, isso passou a ser desnecessário em minha vida e à partir do momento em que fui aprofundando minha formação em várias dimensões, mas principalmente na política, a religião, definitivamente, saltou para bem longe de mim – graças a deus que não existe.

Na verdade, se olhar mais a fundo, a influência veio de dentro de casa mesmo. Meu pai só pisava na igreja em ocasiões especiais como comunhão e crisma das filhas mais velhas e o batizado de sua caçula, que, para o desespero de minha mãe, foi realizado numa salinha escondida, bem longe do altar onde repousava seu cristo.

Lembro-me vagamente do dia, mas, pelos retratos e pelas lamentações da mãe, sei que meu pai tinha tomado umas e outras no bar do cunhado antes do ato religioso. Hoje, passados os anos, rimos muito do ocorrido, mas não deve ter sido - nem de longe - um bom momento na vida matrimonial.

Minhas irmãs seguiram o mesmo caminho. A mais velha diz que acredita, mas à missa não vai. A caçula, com uma convicção espantosa, diz que só irá quando o pai for, para tristeza de minha mãe que acabou se acostumando em fazer suas novenas antes de dormir.

Ontem, eu fui à missa acompanhada de minha nova família. Eu que não rezo, ouvi três leituras do evangelho, passando pelos comentários, preces e... contei os minutos para que o amém final fosse dito pelo sacerdote.

Depois da cerimônia, caso acreditasse na existência de pecados, teria que rezar um terço inteiro, porque “ai de mim” se deus soubesse que pensamentos passavam pela minha cabeça quando acompanhava a ladainha do pai nosso. Se isso acontecesse, acho que o senhor seu diabo estaria me esperando logo na saída da igreja.

No limite, nada como um esforço ou outro para manter a boa convivência, porque não tinha como negar a ida para uma nova mãe, um novo pai e uma nova irmã. Mas isso é só no início – espero que não se acostumem mal.

Aliás, no final das contas me saí muito bem na fita, porque minha mãe – a verdadeira – ficou incrivelmente feliz com a notícia e até pediu pra eu agradecer meu novo emprego. Agradeci nada! Se devo a alguém essa realização, é a um advogado – que mesmo em caso de ser do diabo – é muito bom!!


Ass. Carolina (6)

Um comentário:

Mulheres de Atenas disse...

Tão iguais, mas ao mesmo tempo tão diferentes!

Se inspirei o texto, um pouco que foi, deve ter sido no estilo, como vc bem falou. Na temática, certamente, não foi. hehe

O texto, como sempre, muito bem escrito, mas em mim ainda resta a certeza de que ele ajudou sim! :D