domingo, 20 de janeiro de 2008

Sem querer ser pós-moderna, mas.. já sendo?

O melhor de não ter o que fazer é não fazer nada. Não exatamente um ócio criativo, mas um ócio libertino, eu diria. Tive acesso, então, nessas interfaces, a uma crônica da Martha Medeiros – “Pessoas Habitadas” – que me fez lembrar em muito nossos dilemas de hoje, de ontem, de sempre. Não vou me dar ao trabalho (porque temos direito à preguiça!) de contextualizar os problemas demasiado humanos da pós-modernidade – o vazio, o nada, o tudo, o poder, o não ter – como assistir Transpotting e ver a frase final cair como um martelo na sua cabeça “eu vivo pra ver o dia morrer”. Divagar por coisas tão simples que se tornam extremamente complexas, como disse já um grande pensador.

Bem, mas voltando ao início, o que seria então uma pessoa habitada? Segundo a cronista, esses seres “não recuam diante de encruzilhadas, não se amedrontam com transgressões, não adotam as opiniões dos outros para facilitar o diálogo. São pessoas que surpreendem com um gesto ou uma fala fora do script, sem nenhuma disposição para serem bonecos de ventríloquos. Ao contrário, encantam pela verdade pessoal que defendem”.

Fiquei pensando nisso com muita angústia. Será que eu sou uma pessoa habitada? Será que é fácil ser uma pessoa habitada? Porquê ser uma pessoa habitada?? Posso simplesmente não ser, ou não querer ser... Oww! My mind!!

Percebo que diante desse momento histórico que vivemos tudo torna-se muito propício à estagnação, nada acontece de muito vibrante. Como diz o personagem do filme Amor nos tempos de cólera – “o cotidiano enferruja”. Enferruja mesmo! Nossos sonhos de criança se esvaem, nossas expectativas adolescentes são desnudadas, nossas esperanças de adultos, well... já não digo nada!!

Em verdade temos mesmo é uma cultura do medo, medo de tentar, tentar e não dar certo, tentar e se frustrar, tentar e mudar, mudar enfim. A mudança assusta, e o que não percebemos é que nada é pra sempre, tudo muda, mas no calor do momento não nos damos conta.
Sempre tive uma alma inquieta, mas quando entrei pra universidade e tive acesso a outras leituras de vida, a outras experiências práticas, e aprendendo com quem já havia pensado e vivido tudo o que eu pensava e vivia agora fui me dando conta da experiência humana, do ser em si e para si. E isso não foi muito fácil.

Entrava, então, para o dilema do ‘olhar com os olhos que enxergam’ e ao fim descobrir que isso não é tão reconfortante, muito menos tranqüilizador. Me corroia – preferiria não saber. Por outro lado, certa vez um amigo me disse que se tinha medo das descobertas e tudo que isso trazia no seu bojo era melhor ficar no meu cantinho, escondida, enquadrada. Não! Mas isso não! São escolhas, muitas vezes inconscientes, mas escolhas.

Como diz o filósofo Chorão “cada escolha uma renúncia, isso é a vida”. Então, continuava pelo mesmo caminho, agora sabendo por quais estradas me levava, mesmo ignorante do lugar que chegaria – se chegaria. No limite, apenas sei dizer que muitas vezes – muito mais do que gostaria – aqui, não tem gente em casa!

Ps. Antes de postar mostrei o escrito para Beatriz que numa frase grave sincera disse – ‘so sad!’. Mas que posso eu fazer se tenho alma de Carolina - o mesmo progenitor de Beatriz e Helena, que sabe falar de tão diferentes mulheres?? A Carolina do Chico me lembra os poemas de Florbela, a da alma inquieta, que sentia saudade, sabe-se lá do quê.

“...Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo / Eu já lhe expliquei, que não vai dar, seu pranto não vai nada ajudar / Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar / Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor que já não existe / Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar / Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar...”

Saudações,

Carolina.

10 comentários:

Marco Antonio Araujo disse...

Sinceramente... não acredito em pessoas habitadas... mas o texto... Que bonito e reflexivo.

Minha segunda visita aqui... percebo que voltarei mais vezes

Unknown disse...

Muito bem escrito!!!
Também não seria por menos!!
Saudades..

Roberta Najar disse...

''A mudança assusta, e o que não percebemos é que nada é pra sempre, tudo muda, mas no calor do momento não nos damos conta.''
Falou e disse. Mudar às vezes é dificil e necessário. Mas na maioria das vezes é o mais sensato a fazer!

Post ficou ótimo e o blog ta show!

bju.

Unknown disse...

Claps!

e como a alice ja disse, "não seria por menos"

saudades xuxu, vivemos no nosso mundo de saudades, saudades dos bons e fortes, os outros? ah, estes se perdem no caminho! beijo bem grande pra ti "troskinha"

Felipe Beijamini

Unknown disse...

ei moça, boa tarde!! hummm... basta ser humano para ser como o outro? uma pessoa habitada tem o direito da exclusão? carregar culpa é motivo para sentir-se culpado e requer explicação? quem sois? o que quer ser? perguntas que não calam, respostas que não convém repetir! somos pessoas habitadas sim e merecemos a co-habitação... um bjim, ótimo post, aquele abraço com carinho e que venha mais uma semana! KK

Mulheres de Atenas disse...

Genteee!!
Essa semana um colega me mostrou
um vídeo do youtube que vale conferir (para os que ainda não viram). O link eu não tenho aqui agora, mas é só procurar pelo nome "Dance Monkeys, Dance."

Beijos,

Carolina.

Dr. Fácil disse...

Sinceramente, foi muito bom de ler. Super bem escrito e interessante. E olha que eu sou um analfabeto. Pois é, pois é, pois é. Mas aqui pareceu um lugar deverás habitável. Um beijo pras três e um 'bis' pra quem escreveu... nossa, como eu sou fácil!

Eu Hein Natasha disse...

Adorei o texto, o blog td, pra falar a verdade, li posts antigos e hipnotizei me, aliás, hipnotizaste me, com suas palavras tão bem colocadas e suas frases certas, tão claras e simples que a gente nem precisa terminar de ler pra pra ver suas beleza.

Diferente de vc, ou vcs, não escrevo bem, só brinco de ser chata e falar pra td mundo como como eu me sito e como eu gostaria de me sentir, o que eu acho ou deixo de achar, deve ser algum 'q' de narcisismo sei lá...

enfim, parabéns pelo brlog, garotas.

=*****

http://berinjelinha.livejournal.com/

Mulheres de Atenas disse...

Não sei se é pelo Carolina, mas este texto é quase meu: melancólico e maravilhoso... meu pelo melancólico e distante de mim pelo maravilhoso. Muito bem escrito. Inspira reflexões. Como é característico das falas inteligentes da nossa colega, faz com que fiquemos matutando aquele assunto depois... Agora, fico pensando: quem habita em mim?

Mulheres de Atenas disse...

Realmente, triste demais. Mas se não o fosse, não seria Carolina. Hehe
Gosto do jeito que você escreve. Adoro a Martha Medeiros. Estou com saudade de divagar com você.
Beijos