segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Agosto

Gosto do gosto da boca
Da manhã de saliva com
Gosto de pressa
Da pressa à demora
Na espera do gosto da boca
Da noite encurtada pelo prazer,
do gosto dos corpos

Gosto do frio no início,
E do gosto do suor morno que a brisa leva
Gosto do gosto de gostar
De um acordar leve
De ver na boca o sorriso
Uma manhã
Um gosto de agosto
Que vai acabando

O gosto não sabe se fica
A gosto do tempo que vem
Do mês ficam-se os dias
Na espera da boca
Com gosto de além

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Do ridículo

Que bunda gostosa, ele dizia, e escorregava a mão por dentro da calça apertada. De repente, parou numa curva, um pouco abaixo da cintura. O que é isso? - perguntou. Estria!! - respondeu ela com a pele ruborizada. Não, parece que você tomou uma injeção. Em segundos, a mulher passou do rubro do espanto ao vermelho da vergonha e lembrou: Ah! Foi meu anticoncepcional... - e disfarçou com uma gargalhada. O homem riu ainda mais. Tinha que ver a tua cara de horror na hora em que falei. Pois é, e eu que pensei ser tão moderninha, não ligar pra essas tolices... Acho que, no limite, estria e celulite estão na mesma escala que a idade, quanto mais se tem, mais se quer esconder.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Síndrome da depressão instantânea

- O que você tem?
- Como assim? Nada, uai!
- Então porque tá com essa cara, tá brava comigo?
- Brava com você? Não!! Com que cara eu tô?
- Essa cara de poucos amigos, tá cansada?
- É... tô cansada, só... às vezes eu fico assim.
- Assim como?
- Acometida de nada.

Lola.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Descoberta

Descobri hoje: Herdando Uma Biblioteca - é... sou um pouco atrasadinha.

Lola.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Lutar é preciso, necessário, possível

Já não temos mais uma sequência nas postagens. Quando o blog começou, cada semana era a vez de uma postar um texto. Hoje, venho aqui pra reproduzir um texto que a deputada comunista Manuela D´Avila publicou em seu blog, Bola de Meia, Bola de Gude... Ele expressa a necessidade da gente não desistir, de lutar e de acreditar, acima de tudo, que - sim - podemos mudar alguma coisa. E se você não participa de nenhuma organização, partido, movimento social, ainda assim pode fazer uma boa escolha nessas eleições. Esses dias me pediram porque eu defendia e pedia voto pra determinado candidato, "por que ele é honesto?", indagaram. "Não", respondi. Não basta ser honesto, nesses tempos ser honesto é uma condição sem a qual não podemos viver, deve ser inerente, ou pelo menos deveria ser. Por isso, não aceito escutar o argumento de certos candidatos que, ao pedir voto, ressaltam que acima de tudo são honestos. Não, isso não basta! O meu candidato precisa saber que essa sociedade é excludente, que é injusta, que não permite que nós, enquanto humanos, nos humanizemos. Meu candidato precisa ter a convicção de que é indispensável se investir em políticas sociais, distribuir renda, e, principalmente, de que é necessário mudar radicalmente. A honestidade é indispensável, mas não é argumento.
Lola.

Felicidade

Há doze anos milito no PCdoB. há doze anos me organizei num partido por ter a certeza de que apenas lutando poderiamos mudar a vida da população para melhor.
Sempre me perguntam: porque lutas? Luto pela felicidade das pessoas, respondo. Felicidade? Isso é filosófico?!? Não, respondo. A felicidade subjetiva é sim matéria filosófica. A quem e como amamos, que férias queremos, que valores temos. Isso é felicidade subjetiva.
Mas existe uma felicidade que é objetiva. O acesso a saúde, a educação, a moradia digna, por exemplo. Será que é possível ser feliz com um filho doente? Não, não é. Mas é mais feliz aquele que tem condições de hospitalizar o filho, em relação ao pai que vê o seu morrer sem atendimento.
Dito isto, gostaria de compartilhar com vocês uma iniciativa de meu mandato em conjunto com o Senador Cristovam buarque. Nós apresentamos a chamada "PEC da felicidade". Que inclui na constituição, em seu artigo sexto, a expressão "busca da felicidade". O que queremos dizer? Que os direitos fundamentais (educação, saúde, moradia) são essenciais na busca da felicidade dos cidadãos brasileiros.
Como diz o Professor Cristovam: queremos deixar a constituição viva, quente e compreensível. Queremos que a população entenda seus direitos. Queremos debater as responsabilidades do estado (o mesmo estado que cobra impostos) sobre as infelicidades dos cidadãos pelo não cumprimento do que a constituição garante.
Pensem. Opinem. Ser feliz é difícil. Mas se não temos casa, educação, saúde é praticamente impossível.

Por Manuela D´Avila

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Ágora

Na quinta-feira tem debate. Um ano tão estranho para mim. Não consigo ver o que fiz com a minha vida de janeiro até agora, entretanto, já estamos a três meses das eleições. Na quinta os candidatos irão se enfrentar.

Eu não entendo muito de política. Juro que tento, mas não consigo decorar nem os nomes dos autores que estudei na faculdade, quem dirá conhecer cada sigla, qual político era de uma e foi para outra, quem fez aquilo e era de tal partido... É uma vergonha admitir.

Mas, parei para pensar e percebi que apenas dois governantes estiveram à frente do país desde que comecei a entender um pouco sobre política. Em 16 anos o Brasil só trocou de presidente duas vezes. Ou seja, desde que eu tenho 10 anos, foram 8 de governo FHC e 8 de governo Lula. De classe média baixa, o que mais percebo nos dois governos é que para a minha família pouco mudou.

Dos que vieram antes, Itamar Franco é o que eu me lembro melhor. Lembro de quando enfrentei uma fila enorme para trocar os cruzeiros por reais e saí com apenas algumas moedas do banco... Do Collor eu lembro vagamente quando votamos pelo impeachment na sala de aula. Quando nasci, Trancredo Neves era presidente e nos primeiros anos de infância foi Sarney quem ditou as regras. Mas estes dois me parecem tão distantes. Fico muito mais à vontade com Jânio Quadros e suas frases, às vezes prontas, mas quase sempre criativas.

Na última eleição virei fã dos debates. Talvez tenha sido a primeira pela qual eu realmente me interessei. Mas não consigo encontrar nenhuma maneira isenta de analisar as propostas de cada candidato. Estava vendo um programa no qual os apresentadores discutiam se o debate é ou não livre do marketing político. Claro que não! Certamente o candidato está mais exposto, porém, acho que quem debate melhor nem sempre é quem irá governar melhor...

Estou ansiosa por quinta à noite, para ver os candidatos na ágora. Não sei em quem votar. Para ser sincera, nenhuma opção me parece correta...

Sem escolha

Convivo com quatro pequenas criaturas que, sendo pequenas, cabem na palma da minha mão. Entretanto, não ficam ali, mas ocupam-se em rondar minha cabeça, todo dia, o tempo todo. Elas têm asas e o bater de suas asas torna-se um irritante zumbido nos meus ouvidos. Vez ou outra suas vozes soam como harpas, orgulho-me em tê-las por perto, mas, quase sempre, essas pequenas criaturas ficam a girar em volta de minha cabeça e, como se não bastasse deixar-me zonza, colocam seus dedos em riste.
É seu prazer particular. Estando próximas a mim, a presença das pequenas criaturas traz à tona a minha culpa, minha tão grande culpa. Elas me culpam por eu não ser tão pequenas como elas, por não ser da forma que elas são. Culpam-me pelas minhas escolhas, que, sob suas pequenas visões, estão sempre incorretas. Se compro algo rosa, deveria ser azul. Se vou por um caminho, deveria ter escolhido outro. Se alguém me bate de graça, a culpa é minha, obviamente, já que dei motivo (qualquer motivo). Não é à toa que nunca consegui acertar um presente, não é à toa que nunca consegui ir para lugar algum.
Já desejei fortemente ser como elas. Desejo impossível, diria-me o gênio. Não é possível nascer de novo. Já me tornei deste tamanho. E as pequenas criaturas voltam a me culpar.
Quis não existir mais. Sem mim, elas encontrariam outra criatura para atazanar, para descarregar suas frustrações de pequenos seres. A mim, basta. E outra, dos mortos, carregamos apenas boas lembranças, elas não poderiam mais me culpar.
Trago agora a vontade de envolver-me num invólucro, com paredes maciças e sem fresta alguma que for, sem pedaço transparente. Sem minha imagem, sem meus deslizes, elas não poderiam me alcançar e esqueceriam que eu, um dia, as trouxe algum mal. Desisti da ideia, por saber que sentirei falta, por saber que estamos condenadas, eu a elas, elas a mim.

domingo, 1 de agosto de 2010

Maniqueísmo

Hoje tive uma dor grande, uma mágoa profunda, uma nódoa no peito. Tive saudade do doce feito de casca de laranja que eu comia na casa de uma amiga. Saudade de brincar na casa da minha vó, mesmo sozinha. Saudade de estar no colégio, onde a única certeza do próximo ano era estudar na série seguinte.
Não havia, como existe agora, essa incompreensão. Essa dúvida, essa falta de certeza. Sabia-se pouco, mas o pouco era tão suficiente. As pessoas eram boas ou tinham batido em você na escola, só isso. As pessoas eram boas ou eram loucos presos na televisão. O mal estava longe e o bem, bem... O bem era acordar toda manhã e saber o caminho a se seguir.

Lígia