segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pra outra!

Uma hora, enfim, a gente percebe que existem coisas que não permitem mais se insistir, não por enquanto. Foi aquele plano de passar as férias fora do país, porque não se poupou dinheiro suficiente. Foi aquele exercício demasiado difícil que apenas com a ajuda do professor poderia ser resolvido. Foram aquelas aulas de violão abandonadas, porque não havia agilidade e nem coordenação motora para prosseguir. Foi a vontade de ir embora e mochilar mundo a fora que passou - porque não se vive do vento. Foram tantas coisas. Foram tantas negativas assimiladas que aos poucos se tornaram claramente provas de afirmações tácitas. Por hora, acabou chorare (com a licença poética).

Luiza.

 Novos Baianos - Acabou Chorare

sábado, 18 de abril de 2009

Contratos sociais

Andei pensando
Nem tudo é verdade,
Mas não é porque não é verdade,
Que é uma mentira.

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Tem um momento da vida em que o casamento deixa de ser um direito e passa a ser um dever.

Não houve flores, mas havia música. Ele queria que fosse como nos filmes. Ela desejava algo menos comum. Um certo aroma de perfeição pairava no ar. Os olhos brilhavam e veio o pedido:
-Casa comigo?
Um silêncio constrangedor... “Quem cala consente”, pensou ele e a beijou. Ela o beijou com a mesma paixão da primeira vez. Disse não, sem saber explicar. Ele se decepcionou e todos os que esperavam a troca de alianças, a valsa e a festa também. Ela o amava. Ele a amava. Mas disse que se era assim, o relacionamento acabou. Não haveria segunda chance depois de mais de dois anos de namoro. Ela não quis argumentar. Magoado, ele saiu e foi procurar quem dissesse sim. Encontrou, casou e os filhos vieram.
Ela não guarda ressentimento, embora ainda o ame. Mas não consegue entender como se pode olhar para alguém e, de repente, ter a certeza de que se quer dormir e acordar com ela pelo resto dos seus dias. Ela quer um, dois ou até três namorados que respeitem seu espaço, quer carro e casa. Os filhos, se um dia tiver, pensa em adotar. Não que a gravidez não seja bela, se um dia acontecer, será bem vinda. Porém, ainda mais bela que a maternidade é a escolha dela. Olhar nos olhos e dizer “eu vou te amar e serei o teu refúgio”. Como será belo o amor maternal!
“Dividir a casa, aguentar o as trocas de humor, é necessário? Porque não podem ser eternos amantes, namorados e enamorados?”, questiona. “Pergunta sem resposta”, pensa. “Contratos sociais”.

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Oração da mulher apaixonada
Senhor, tire-o do meu pensamento ou, por favor, coloque-me nos dele. Amém.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Estado civil: solteira, cansada de procurar

Eu posso até ser uma Mulher de Atenas (ou Athenas), cheia de prerrogativas que me fazem bradar aos quatro ventos: sou autossuficiente. Eu me divirto, toda sexta e sábado (ou em apenas em um dos dois, salvo decisão ou falta de vontade da própria), eu me sustento, eu não devo satisfações para ninguém. Eu sou inteligente, não caio em conversa mole, pago minhas contas, faço meu supermercado, limpo a minha sujeira, sei cozinhar quando dá vontade, sem precisar me valer disso para arrumar marido.
Toda Mulher de Atenas que se preze se orgulha de todas essas coisas. Mas, porém, entretanto, contudo, todavia, todas nós guardamos um profundo (e sendo profundo está escondido, mas borbulhante) sentimento de inveja e raiva total em relação a mulheres que são casadinhas, namoradinhas, enfim, as que possuem seus amantes que batem cartão toda sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta e, pasme!, até quinta-feira. Embora esse sentimento se travista de desprezo e até conversinhas venenosas quando as Mulheres de Athenas se reúnem para comentar: veja como ela se anula! Eu não faria isso por homem nenhum! Como ela pode estar com um cara desses? As duas mulheres que acabaram de travar o diálogo supracitado estão, sim estão, se roendo por dentro.
E chega uma hora que elas cansam de posar de moderninha solteiraça, mas também desistem de procurar. Chega um momento em que aparece um sabadão, com um ar quente que sopra do Sul carregado de promessas (tanto de você estrear sua novíssima blusa que você já comprou com más intenções, como para você encontrar o amor da sua vida) e você não se vê com nenhumíssima vontade de sair de casa. Não, a animação não vai chegar ao longo da noite. Só de pensar em passar o rímel você já boceja. Seu sofá nunca pareceu tão confortável. Você arregala o olho para a propaganda do Altas Horas e pensa: Nóóóssa, o Serginho Groismann ainda não morreu? Hey, essa banda que vai tocar no programa parece ser legal, acho que a balada ficará para a próxima.
Apesar de sua mãe vim medir sua temperatura, é perfeitamente normal que uma moça casadoira, na idade reprodutiva, no auge da empolgação, com o próprio dinheiro para gastar, diga um dia: Não, não quero sair. Ficarei em casa, curtindo a minha fossa, que não se refere a um fora recente ou a uma dor passageira, mas a fossa de toda uma vida sozinha, mal amada, sem expectativa de sair dessa condição de protótipo de Mulher Maravilha do século XXI e juntar seus trapos com um cara que nem precisa ser músico, ter barba por fazer e já ter lido Fernando Pessoa.
Fugindo da dança do acasalamento, das cervejas e das tequilas despejadas goela dentro, dos olhares não correspondidos, das cantadas dos bêbados, da vontade de morrer, dorme uma moça na noite de sábado. E antes de pegar no sono no sofá da sala, ela pensa que o problema não é que esteja procurando no lugar errado. Procurar se procura a vida inteira. Mas há momentos em que apenas o que uma mulher quer é ser encontrada. Ser pega no colo e colocada para dormir. Assim, à moda antiga.