terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O verão terminara

(Este texto fala sobre dias que poderiam ser doces dias, mas devido a inúmeros desencontros se tornam amargos dias.)

Hoje escolhi que iria te encontrar. Planejei estar ao seu lado, hoje, o dia mais longo, o dia em que termina o horário de verão.

Li no jornal. Os relógios devem ser atrasados uma hora à meia-noite. A hora acrescida no dia vai repor a que foi subtraída quando o horário de verão começou. Lembro que fiquei pensando... Como eles têm o direito de roubar uma hora de nossas vidas? Vá lá que vão repor depois, mas há dias mais especiais que outros.

Fiquei a imaginar quem aniversariava naquele dia, quem tinha uma grande festa para ir, quem aguardava ansioso no aeroporto o horário do voo para rever os seus. Uma hora lhes foi roubada. E devolvida somente quatro meses depois. Em quatro meses pode acontecer tanta coisa...

Mas isso não tem nada a ver com a gente. A não ser pelo fato de que o dia da devolução da hora roubada foi o dia que eu escolhi para passar ao seu lado. Imaginei o tanto que teríamos a nos falar e achei a ocasião bem propícia.

Aguardei o horário do nosso encontro com ansiedade. Esperei insistentemente o telefone tocar, para confirmar o encontro, sutilmente anunciado minutos antes. Em vão.

Planejei passar este dia ao seu lado. Você escolheu outra coisa. Outra pessoa, enfim. E talvez, vai saber, você nem soubesse que o dia seria mais longo, muito menos o quanto estar ao seu lado seria especial para mim.

Ironicamente, o dia acabou com a certeza de que ele foi, sim, mais longo. Mais longo de dúvidas, mais cheio de incertezas, mais repleto de ausência. Da sua ausência.

Rosa (ainda) despedaçada.

* Texto escrito dia 14 de fevereiro. Postado hoje, somente, devido às incongruências da vida.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Coisas de partir e voltar...

Sempre brinquei com minha mãe que nunca sairia de casa. Ficava rindo à toa com ela e imaginando como seria bom ter o aconchego do seu abraço e o despertar matinal do seu chamado, tirando de ouvido o timbre de sua voz. O grito era sinal de desespero e pulo da cama, ou o contrário, a voz mansa deixava-me adormecer mais um pouco.Agora sei o quanto isso me faz falta.

No fundo eu sabia que o ficar para sempre não aconteceria. Afinal, uma hora ou outra todos vão e a mim a saída não tardaria a chegar, porque minha vontade também era deixar e partir.

Ontem, depois de pouco mais de dois meses fora de casa, retornei àquele abraço carinhoso e o sorriso no rosto de quem espera. Nunca parei pra pensar na sensação que as pessoas tinham em voltar para casa, contudo o gosto foi muito melhor do que eu teria imaginado. A mim ele chegou repleto de êxtase e prazer. Nas duas noites que estive em casa, dormi na minha antiga cama com um sorriso no rosto, daqueles que deixam o sono macio. “O melhor de ir embora é voltar”, pensava comigo.

Nessa volta também veio uma certeza: aquele já não era mais o meu lugar. Aquela ciadade já não era mais minha. Eu não caberia mais lá, igual um calçado que você abandona e não consegue mais colocar no pé, porque simplesmente não entra mais dentro dele.

Depois disso, lembrei de uma amiga e dos textos que ela já tinha escrito sobre o partir, o voltar e o não permanecer. Agora entendo melhor o que ela dizia. E, embora seja triste o fato de que dificilmente você voltará para casa, é bom saber que podemos revisitá-la sem o compromisso de ficar e conquistar, mesmo ilusória, a sensação do mundo pela frente. E, em tendo o mundo pela frente, haver sempre um lugar para voltar...

Luiza.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

À toa

À toa, pensamentos invadem minha cabeça.

À toa, me perco num mar de sonhos que só lembrados
são quando, à toa, me percebo toda nua, toda crua...

Cheia de coisas que eu queria fazer e não fiz,
que eu queria dizer e não disse.

À toa que eu te perdi, mas não é
À toa, que eu me lembro de ti.

Bjs,

Luiza*

* Preguiçosa e sem vergonha, pq descobriu que é fácil escrever poemas toscos.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Síndrome de Armstrong

Foi esses dias. Aconteceu de repente. Fui atacada pela Síndrome do "What a wonderful World", do Louis Armstrong. Tudo passou a fazer sentido. E um sentido absurdamente positivo. Não era nada tããão sobrenatural, nada de "que as luzes violetas estejam com você", nada de "minha força interior", nada de "a energia dos cristais...". Essa seria a Síndrome de Osho. O que me atacou mesmo foi a outra.

Já ouviu?


Impressionante. É claro que eu não cantava com a avidez do Louis, mas essa música pareceu orquestrar a minha vida. Eu parecia enxergar apenas as cores vibrantes das coisas, como se todo o cinza em volta não importasse. Parecia ouvir apenas a cantoria dos passarinhos e não queria saber se eles estavam prestes a cagar na minha cabeça. Acordava cedo, andava muito, comia rápido, mas qual o quê? O mundo é maravilhoso! Olha, ele é maravilhoso!
Dei esporro numa amiga, acostumada a enfeiar a vida, como eu mesma fazia, há (veja!)poucos dias antes. Tentava mostrar a ela o que eu enxergava do meu caleidoscópio multicolorido.

A síndrome me atingiu em cheio e durou uma semana. Esfacelou-se, virou pó.
A amiga me encontrou, praticamente estirada no chão, sem forças. E me cobrou o olelê anterior.
- Ué, cadê o otimismo?
- Morreu.
- E desabou por quê?
- Homens.

Sempre eles. Malditos.

Rosa (despedaçada).