sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Todas as cartas de amor são ridículas

“As bocas eram encaixe perfeito. Poderiam passar o resto da vida encantadas. Poderiam retardar o nascimento do dia, esconder o sol em alguma caixa mágica, apagar o dia e ser eterna noite. Poderiam estabelecer uma nova ordem mundial, fazer prevalecer o amor sobre as guerras, sobre qualquer violência. Poderiam apagar as luzes da cidade, deixar as estrelas iluminando a escura noite. Poderiam ficar nus no Jabaquara ou em Trindade, fazer amor dentro da noite eterna. Poderiam mas não o fizeram. Partiram para rumos contrários. As noites se sucederam tão efêmeras como uma flor do campo ou como a própria vida”. (Flávio Machado)

O amor acaba nas pequenas coisas da vida, já disse Paulo Mendes Campos*. O amor termina quando tentamos dar-lhe um nome, revelou Clarice**. Mas como é que ele começa?

Não vim para tentar explicar o amor, mesmo porque, acredito eu, ele é inexplicável. Não faltam músicas, textos e provas de amor que tentam esclarecê-lo, materializá-lo, contudo, para nada elas servem. Às vezes apenas para nos fazerem chorar. (Eu hoje eu acordei tão só, mais só do que eu merecia. Eu acho que será pra sempre, mas sempre não é todo dia – traindo Chico, cito Oswaldo).

Olho para meus pais, que neste ano comemoram 25 anos de casados, e penso em qual será o segredo. Então, depois de muito observar, eu percebo que amar não é não conseguir viver sem uma pessoa, mas conseguir viver com ela. Odiá-la por cada defeito e ao mesmo tempo conviver e sobreviver a eles.

Há alguns dias eu revivi, por poucos instantes, momentos da época em que, talvez, tenha vivido meu único amor verdadeiro. Sentimento que já não existe mais, é apenas uma saudade, como a infância que sabemos que jamais retornará.

Por muitas vezes pensei que era amor. Ao seu jeito, talvez cada um tenha realmente sido amor, mas nenhum deles foi suficiente para eu ter certeza. O ‘amor’ que eu reencontrei foi aquele com o qual não se pensa em casar, ao qual não queremos dar nome, ao qual apenas curtimos e achamos graça em estar juntos. Amor de criança, puro e sincero. Foi o único amor ao qual escrevi uma carta e que, pelo jeito, irá para sempre me denunciar.

Quem nunca escreveu uma carta de amor, não a escreva, ela será para sempre lembrada e não importa quão linda ela seja, será ridícula. E, se já a escreveu ou um dia escrever, caso não pareça ridícula, sinto muito, você não tem talento para cartas de amor.



Também escrevi em meu tempo cartas de amor

“Eu ainda tenho a carta e o laço do cabelo”, disse-me alguém ao pé do ouvido. Quem mais poderia tê-los senão ele? Virei atônita, com um calafrio do dedão do pé ao último fio de cabelo, quase sem respirar. Não gosto nem de imaginar meu rosto, pois ele sempre fica ainda mais feio quando estou com medo ou assustada, e naquela ocasião eu sentia isso e um pouco mais.
Não sei quanto tempo se passa para uma pessoa girar em torno de si própria, não mais que cinco segundos, imagino. Mas, sendo muito ou pouco tempo, foi o suficiente para lembrar da carta e do laço e de como eles foram parar lá.

Ele continuava moreno. Antes, moreninho. Agora, morenão. Seus olhos verdes esverdearam mais com o passar dos anos e eu não conseguiria vê-los de tão perto se ele não estivesse inclinado para falar comigo. Naquela época ele media apenas dois dedos a mais do que eu e hoje meu salto mais alto não seria suficiente para alcançá-lo.

Enfim, talvez eu não o reconhecesse se não tivesse falado comigo. É provável que o visse e nem cumprimentasse, com aquela impressão de que o conhecia de algum lugar.

Não sei ao certo quando nos vimos pela primeira vez. Lembro que estávamos juntos numa peça de teatro e que era tio de uma amiga. Aquele tio que chega mais tarde, tão jovem quanto a sobrinha. Então, depois de alguns passeios, ensaios e muita paquera, o primeiro beijo aconteceu. Não lembro direito como, lembro apenas do frio na barriga. Em seguida entreguei-lhe uma carta escrita por mim e aprovada por uma comissão de amigas, cheia de versos que nem quero lembrar de tão bobos que eram.

Dez anos depois aqueles olhos verdes falavam comigo novamente. “Continue guardando o laço do cabelo, pois com essa moda que vai e volta, talvez você possa usá-lo em alguma ocasião especial. Mas a carta... (neste momento, se ainda não estava vermelha, é certo que corei!) A carta é ridícula! Não serve nem de modelo para mandar a alguma namorada”, responderam meus olhos cor de mel ao par de olhos verdes que me olhavam fixamente. Ainda ao pé do ouvido ele retrucou com aquele sorriso que fez bambear as minhas pernas: “Todas as cartas de amor são ridículas”.

Só então demos um abraço apertado, de velhos amigos felizes em se encontrar, e seguimos a conversa falando da vida e do que tínhamos inventado desde que, na janela do ônibus, ele se despediu, dizendo que não sabia quando voltaria. Agora sabemos: 10 anos!

O laço do cabelo ele confiscou num dos nossos encontros. Era preto, básico. Se eu ainda o tivesse talvez o usasse para conquistar outro rapaz. Quem sabe seja exatamente este ‘charme’ que me falte agora. Depois que ele foi embora descobri que levava de mim o laço e a carta, mas carregava o coração de outras três meninas, no mínimo. (ABRE PARENTESES Desde o primeiro beijo já tendo desilusões com os homens FECHA PARENTESES). Porém, de tudo o que levou, somente o laço e a carta ele ainda tem. Os três corações, que eu sei, já têm outros donos.

Rimos e lembramos dos amigos. Falamos bem e mal de cada um. Só nos demos conta de que estávamos conversando há quase meia hora quando percebemos que os funcionários da livraria estavam pensando em nos expulsar, ou servir um cafezinho para nos sentirmos mais à vontade.

Que maravilha! Ele saiu de lá com um livro de engenharia, um Fernanda Young para a sobrinha que estava se formando e um Veríssimo, porque, segundo ele, ninguém é de ferro e até engenheiros precisam esquecer as contas e rir um pouco. O garotinho bobo, que ficou o verão de castigo porque reprovou, ficara inteligente.

Simpático, bonito e inteligente! Ele deve ter chulé! Mas isso não é nada. O que mais eu poderia querer? Seu telefone, é claro.

Depois de telefones e MSNs trocados, um abraço e os desejos habituais de felicidades. Só quando entrei no carro é que percebi que novamente demos tchau sem saber quando nos veríamos.

Eu não liguei, nem ele. Também não nos encontramos no bate papo e, por enquanto, terminamos assim.

Só agora, depois de escrever e reler, é que percebo que talvez este texto tão pobre não devesse ser publicado. E, como diria Álvaro de Campos, “a verdade é que hoje as minhas memórias dessas cartas de amor é que são ridículas”.

Um abraço.

Momentaneamente, Terezinha

PS: Hoje eu sou um pouco Terezinha, que depois de vários amores ‘falsos’, encontrou o verdadeiro, para quem se doou inteiramente. Porém, não sou Terezinha por completo, afinal, ainda espero o terceiro, aquele que chegará para se espalhar definitivamente em meu coração. “O primeiro me chegou como quem vem do florista/ Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista... /Me chamava de rainha/ Me encontrou tão desarmada, que tocou meu coração/ Mas não me negava nada e, assustada, eu disse não.
O segundo me chegou como quem chega do bar/ Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar.../ Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração/Mas não me entregava nada e, assustada, eu disse não.
O terceiro me chegou como quem chega do nada/ Ele não me trouxe nada, porém nada perguntou.../ Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não/ Se espalhou feito um posseiro dentro do meu coração”.

E, se fosse apenas pela história que contei, talvez eu devesse assinar como Cecília, afinal, “pode ser que, entreabertos/ meus lábios de leve/ tremessem por ti”.

*O amor acaba, de Paulo Mendes Campos http://www.angelfire.com/la2/poeta/Oamoracaba.htm
**Por não estarem distraídos, de Clarice Lispector http://claricelispector.blogspot.com/2007/12/por-no-estarem-distrados.html

domingo, 20 de janeiro de 2008

Sem querer ser pós-moderna, mas.. já sendo?

O melhor de não ter o que fazer é não fazer nada. Não exatamente um ócio criativo, mas um ócio libertino, eu diria. Tive acesso, então, nessas interfaces, a uma crônica da Martha Medeiros – “Pessoas Habitadas” – que me fez lembrar em muito nossos dilemas de hoje, de ontem, de sempre. Não vou me dar ao trabalho (porque temos direito à preguiça!) de contextualizar os problemas demasiado humanos da pós-modernidade – o vazio, o nada, o tudo, o poder, o não ter – como assistir Transpotting e ver a frase final cair como um martelo na sua cabeça “eu vivo pra ver o dia morrer”. Divagar por coisas tão simples que se tornam extremamente complexas, como disse já um grande pensador.

Bem, mas voltando ao início, o que seria então uma pessoa habitada? Segundo a cronista, esses seres “não recuam diante de encruzilhadas, não se amedrontam com transgressões, não adotam as opiniões dos outros para facilitar o diálogo. São pessoas que surpreendem com um gesto ou uma fala fora do script, sem nenhuma disposição para serem bonecos de ventríloquos. Ao contrário, encantam pela verdade pessoal que defendem”.

Fiquei pensando nisso com muita angústia. Será que eu sou uma pessoa habitada? Será que é fácil ser uma pessoa habitada? Porquê ser uma pessoa habitada?? Posso simplesmente não ser, ou não querer ser... Oww! My mind!!

Percebo que diante desse momento histórico que vivemos tudo torna-se muito propício à estagnação, nada acontece de muito vibrante. Como diz o personagem do filme Amor nos tempos de cólera – “o cotidiano enferruja”. Enferruja mesmo! Nossos sonhos de criança se esvaem, nossas expectativas adolescentes são desnudadas, nossas esperanças de adultos, well... já não digo nada!!

Em verdade temos mesmo é uma cultura do medo, medo de tentar, tentar e não dar certo, tentar e se frustrar, tentar e mudar, mudar enfim. A mudança assusta, e o que não percebemos é que nada é pra sempre, tudo muda, mas no calor do momento não nos damos conta.
Sempre tive uma alma inquieta, mas quando entrei pra universidade e tive acesso a outras leituras de vida, a outras experiências práticas, e aprendendo com quem já havia pensado e vivido tudo o que eu pensava e vivia agora fui me dando conta da experiência humana, do ser em si e para si. E isso não foi muito fácil.

Entrava, então, para o dilema do ‘olhar com os olhos que enxergam’ e ao fim descobrir que isso não é tão reconfortante, muito menos tranqüilizador. Me corroia – preferiria não saber. Por outro lado, certa vez um amigo me disse que se tinha medo das descobertas e tudo que isso trazia no seu bojo era melhor ficar no meu cantinho, escondida, enquadrada. Não! Mas isso não! São escolhas, muitas vezes inconscientes, mas escolhas.

Como diz o filósofo Chorão “cada escolha uma renúncia, isso é a vida”. Então, continuava pelo mesmo caminho, agora sabendo por quais estradas me levava, mesmo ignorante do lugar que chegaria – se chegaria. No limite, apenas sei dizer que muitas vezes – muito mais do que gostaria – aqui, não tem gente em casa!

Ps. Antes de postar mostrei o escrito para Beatriz que numa frase grave sincera disse – ‘so sad!’. Mas que posso eu fazer se tenho alma de Carolina - o mesmo progenitor de Beatriz e Helena, que sabe falar de tão diferentes mulheres?? A Carolina do Chico me lembra os poemas de Florbela, a da alma inquieta, que sentia saudade, sabe-se lá do quê.

“...Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo / Eu já lhe expliquei, que não vai dar, seu pranto não vai nada ajudar / Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar / Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor que já não existe / Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar / Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar...”

Saudações,

Carolina.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Sobre meninas e suas mães

Nas incursões pelo youtube.com, dia desses, andei encontrando coisas realmente interessantes. Intitulado ‘Mofo TV’, uma coletânea de vídeos trazem entrevistas da Marília Gabriela, no programa TV Mulher, na década de 80. Minha surpresa (além do cabelo de Gabi, breguíssimo) foi encontrar uma entrevista com a Elis Regina. Sempre a reconheci muito mais pelas músicas do que pela personalidade (ao contrário de muita gente por aí). O vídeo me fez ver o que estava perdendo.

À pergunta aparentemente simplória de Marília Gabriela, de como a cantora dava um jeito de criar os filhos sendo artista, a resposta de Elis já vale o tempo que o vídeo demorou para carregar. A “pimentinha” rebate falando sobre a questão da mulher operária, que ajudava então a “construir o país” e não tinha nem creche para abrigar seus filhos, mas, mesmo assim, dava um jeito. No dilema entre o século XIX e o século XX, saindo da condição de mucama e pleiteando uma vaga à astronauta, as mulheres da década de 80 sentiam ainda mais dificuldades do que hoje para se firmar, tanto no mercado (coisa que hoje em dia até já saiu de moda discutir), como em outras esferas.

Mas Elis diz ainda mais. Fala da filha Maria Rita (lançada como cantora aos 24 anos, com estapafúrdia promoção em horário nobre na TV Globo, carregando a inconfundível marca de filha de Elis), que na época da entrevista devia estar saindo das fraldas. E o que a cantora, mãe de João Marcelo Bôscoli e Pedro Camargo Mariano, (hoje também músicos), fala sobre a menina me marcou profundamente. “É mais difícil ter filha mulher, não dá para explicar. Mas acho que no fundo, com Maria Rita fiquei mais parecida com a minha mãe”. Não, não é nenhuma tentativa de recuperar a letra de “Como Nossos Pais”, ícone de sua carreira, até porque não faria sentido. Mas não sei se eu, mesmo não tendo filho algum, poderia apontar uma comparação mais sublime que essa. Ter uma filha mulher a fez aproximar-se da própria mãe, ficar parecida com ela, tomar para si alguns trejeitos e entender muitas das preocupações que sua mãe tinha com ela, pelo fato (Elis entendia) de ela ser mulher. “Maria Rita me deu uma outra visão e eu batalho para que o seu lado seja mais simplificado”.

A cantora disse que, ao esperar Maria Rita, preparava-se para ter mais um varão. Iria se chamar Thiago. Isso me lembrou a personagem Emma Bovary (que infelizmente é lembrada apenas como ‘a adúltera do romance Madame Bovary, de Flaubert’). Sou péssima em relembrar cenas de livros, mas uma desse em questão eu não esqueço. Grávida, Emma sonha com seu filho, que seria homem, que seria livre, (porque, naturalmente, as mulheres são mais presas às convenções) e que se chamaria Jorge. Emma desmaia ao receber a notícia de que deu à luz a uma menina. Elis diz que tomou a bebê das mãos do médico como se dissesse: “é minha”.

Sim, é mais difícil, como mãe, ter filhas mulheres. Mulheres brigam mais entre si e as cicatrizes são mais profundas (basta lembrar de quantas amigas você já se desentendeu para todo o sempre). Mulheres são capazes de se agredir com palavras e gestos simples, mas simbolicamente mais agressivos. Uma amiga minha diz que a maior humilhação da sua vida foi ter levado um tapa na cara de sua mãe. Filhas mulheres devem ser como um reflexo meio torto e uma forma, como diria Elis, de nos reconhecer nelas.

Creio que tenho pouco da minha mãe. Ela é mais corajosa, porque soube conduzir quatro irmãos pela vida, mesmo tendo perdido a própria mãe e não ter o pai por perto. Deu aos irmãos um rumo e hoje vive longe de todos. Até hoje desconfio que ela chora escondido de saudade. Ela se casou com a idade que tenho hoje e teve o primeiro filho com a idade que terei daqui a nove meses. Encontrou o grande amor da sua vida na janela do apartamento da frente. Enlaçou-se com um promissor gerente de supermercado e hoje, ajuda-o a ganhar o sustento de um jeito meio equilibrista. Não preciso listar tudo o que me faz ser diferente dela. Não teria por quê. Somos diferentes não só por tudo o que já passamos, mas, principalmente, porque ela quis assim.

Lembro-me que, por volta dos 15 anos, uma das coisas que mais me intrigavam era como as pessoas sabiam que o namorado(a)/noivo(a) era a pessoa da vida delas. Ao perguntar para minha mãe, queria receber a resposta óbvia, como “Quando o vi, meu coração disparou”, “Saberia que ele seria o melhor marido e pai do mundo”, etc, etc e tal. Mas eis que ela simplesmente disse que um dia, pouco tempo depois de começarem a namorar, aquele que seria meu pai trouxe-lhe um tapete e disse: ‘pode guardar para o enxoval’. Lembro-me até hoje de mim, na varanda de casa, olhando estarrecida. Não, não poderia ser tão simples como a compra de um tapete.

Li em uma recente reportagem que uma das principais causas dos problemas demográficos do Japão é o fato de a maioria das mulheres do país em idade fértil não querer casar. Comecei a achar que, além de mais evoluídas tecnológica e economicamente, as japonesas também estão a passos luz das ocidentais na questão de escolher o melhor para suas vidas. Mas qual é o porquê da aversão ao casamento? Bem, nossas colegas do outro lado do mundo não querem abandonar o sossego da casa paterna se não for por um rapaz bem-sucedido, com um emprego estável, dedicado, de boa aparência, e que tenha uma boa conversa. Acredite, as japonesas são realistas. Digo isso porque a razão de tantos requisitos é que, como não terão muita perspectiva na carreira (pois a sua sociedade é ainda competitiva e machista), elas sabem que terão de depender de seus maridos. Na falta de candidatos a ocupar o cargo de genro que papai pediu a deus, elas continuam a morar com os genitores. Creio que as japonesas de hoje não estão tão parecidas com as de ontem, mas continuam naquele retrógrado paradigma filha/esposa.

Ao pensar no papel das orientais, ouvir a sinceridade de Elis ao descrever os lacinhos da filha e relembrar a simplicidade da minha mãe ao falar de seu tapete, penso em mim e no quanto estou distante dos lacinhos e dos possíveis tapetes presenteados por gregos.

Até, Beatriz

(“Beatriz, mas quem é tu, para Dante abandonar?” diz um dos versos de Vinícius de Moares, dedicados ao grande amor de sua vida, Beatriz de Azevedo. (P.S. Não consta que essa Beatriz tenha recebido algum tapete). Para Chico (e Edu Lobo), é uma atriz, meio indefinida, que de longe não se sabe ao certo se apenas decora o seu papel, dança no sétimo céu ou acredita que é um outro país. Triste e melancólica, a Beatriz buarquiana. Etimologicamente, Beatriz é “aquela que torna feliz”, o que me lembra de certa forma. E finalmente, a Beatriz musa inspiradora de Dante, que, dizem, a viu uma única vez e fixou-a para sempre em sua memória).

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Elefante branco

Coisa de foca
Buscando inspiração para escrever, fui olhar um diário de dois anos atrás. Não encontrei o que buscava, mas, continuando a nos descrever, encontrei esta pequena reflexão, que escrevi no último ano de faculdade. Talvez eu não acredite mais nele como acreditava antes, mas ainda demosntra um pouco do idealismo que existe em mim, apesar da prostituição, se é que me entendem... Somos todas jornalistas, então o texto não irá me denunciar. Talvez o estilo, ou a falta dele, sim...
Ser jornalista é coisa para sonhadoras. Nós, que trabalhamos com a realidade, somos no fundo um bando de sonhadoras. Sonhamos com um mundo melhor. Mostramos o real com a esperança de que possamos contribuir para que tudo se transforme. E nenhum de nós há de esquecer do primeiro dia de aula, com a turma dos calouros completa, todos em círculo para as apresentações: ‘Meu nome é Helena de Tróia, vim da Antiguidade, interior do Paraná. Escolhi ser jornalista porque eu quero mudar o mundo’. Tomara que o pensamento dos calouros de ontem não mude e que os veteranos, tanto na faculdade quanto na profissão, jamais esqueçam essas palavras e lutem por esse ideal. Talvez ainda possamos contribuir para um mundo melhor...


Sobre filmes e sonhos
‘Coisa de foca’ foi apenas algo que surgiu ao acaso, o que quero dizer hoje não tem nada há ver com isso. Na verdade, talvez tenha. Pois quero falar sobre filmes e sonhos. E todo jornalista, como disse, é sonhador.
E o que mais me faz sonhar são os filmes. Não consigo entender e acho que ninguém jamais conseguirá explicar porque essas histórias alheias nos atraem tanto. A maioria não é real e muitas vezes nem fazem sentido, mas há sempre um campeão de bilheterias, que leva milhares de pessoas ao cinema em menos de uma semana. Noutras vezes não arrebatam multidões, mas os poucos que os assistem não conseguem evitar a paixão e o envolvimento.
Eu já me apaixonei por personagens. Fui tão apaixonada por Patrick Swayze, de Dirty Dancing, quanto pelo meu primeiro amor. Hoje eu o acho feio, assim como o meu primeiro amor (rs), mas ainda gosto da história, tanto a do filme quanto a do amor.
Assisto Amelie Poulain, porque assim como ela eu sonho acordada e um anão de jardim me faz viajar mundo afora, imaginando o que as pessoas fazem e quantas o fazem ao mesmo tempo. Para ter certeza que minha loucura é normal, vejo um pouco de Almodóvar que é mais louco do que eu e mais normal que muita gente por aí.
Não dispenso Woody Allen e Spielberg, mas não nego que sou muito mais Hugo Carvana, com seu ‘Homem Nu’ e o ‘Vai trabalhar vagabundo’. Hoje assisti ‘Coisas de família’, com Paul Reiser, do seriado ‘Mad about you’ (e cá entre nós qualquer diretor ou ator bonitinho me perde para esta série!). Nem sei quem é o diretor, mas o filme é bom. Assim como Peixe Grande, fala da relação familiar, como ela deve ser pensada, duvidada e relatada.
Cinema Paradiso me faz chorar. Alias, muitos filmes me fazem chorar, não sei nem porque. Talvez, assim como Alfredo, precisamos chorar e ficar cegos para podermos ver melhor. Outros, não tão clássicos, verdadeiros ‘filminhos’ para adolescentes, romances água com açúcar, como ‘Minha vida sem mim’ e ‘Um amor para recordar’, também me levam às lágrimas.
No Ano Novo, recebi um presente, que não foi feito especialmente para mim, mas que o recebi como um presente quando o encontrei na TV: um documentário sobre Charles Chaplin e suas obras. Sempre gostei dele, mas a princípio não compreendia como uma moça de 16 anos se apaixonou por ele, quando ele já tinha 53, a ponto de casar-se e ter oito filhos. Depois de vê-lo com mais de 70, ainda brincando e fazendo acrobacias com os filhos e discursando contra a xenofobia quando os Estados Unidos e a Europa viviam o auge do preconceito, até eu me casaria com ele.
Ainda com Chaplin fico a imaginar que, na dança com o globo, sou eu quem está lá, no comando do mundo. Embora eu tenha a certeza que não quero comandar esta loucura. O homem nasceu para ser livre, concluo. Acho que as metáforas de Chaplin são muito mais para se refletir do que para sonhar, assim como são as de ‘Deus e o diabo na terra do sol’ e todos os filmes de Glauber Rocha.
O único problema que vejo nos filmes é que por causa deles acredito em finais felizes. Às vezes chego até a pensar que serei como a protagonista de Julles e Jill, com dois homens aos meus pés. Sonhos... não os julguem, afinal são apenas devaneios.
Enfim, entendo pouco de cinema, mas gosto bastante. Assim como entendo pouco dos homens e o restante da frase você já sabe...
Tenho mais alguns dias de férias. Então fico aqui, com meus filmes e suas metáforas.

Um abraço,
Helena

PS: Porque escolhi Helena? Porque assim como na canção de Chico, hoje eu durmo... Sem acalantos, mas durmo. Talvez, hoje também eu tenha escolhido Helena pelo significado do nome. Dizem que quer dizer tocha de luz, que indica uma pessoa que parece estar sempre olhando para dentro de si em busca da sua verdadeira personalidade. Se está correto eu não sei, mas posso afirmar que em meu coração há uma Helena em busca de si mesma, a Helena que vos escreve.